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Lino Villaventura trabalhou 12 horas por dia para criar figurino de musical

Patrícia Colombo

Do UOL, em São Paulo

21/05/2015 13h20

Ainda que as passarelas tenham um peso significativo em sua trajetória, elas não são os únicos lugares onde habitam os frutos do processo criativo de Lino Villaventura. O renomado estilista, que já assinou figurinos de filmes como “Bocage, o Triunfo do Amor” (1997) e de espetáculos teatrais como “Doroteia e uma Farsa Irresponsável em Três Atos”, de Nelson Rodrigues, agora assume o desafio de criar peças de roupa com a fluidez necessária para atores que atuam, cantam e dançam em “Nine – Um Musical Felliniano”, que estreia em São Paulo neste sábado (23), no Teatro Porto Seguro.

Com direção de Charles Möeller e Claudio Botelho, a peça é inspirada no clássico filme “8 ½” (1963), de Federico Fellini. Uma versão para os palcos norte-americanos foi realizada no início dos anos 80  e fez sucesso estrondoso na Broadway. Agora, o material ganha cara brasileira com a história de Guido Contini (vivido pelo ator italiano Nicola Lama), que é um renomado diretor de cinema vivendo forte crise criativa.

Ao fugir para Veneza buscando desmoronar suas barreiras, encontra por lá --em planos que envolvem realidade, memória, fantasia e sonho-- algumas das mulheres mais marcantes de sua vida. Beatriz Segall vive a mãe, Carol Castro interpreta a esposa, Malu Rodrigues fica a cargo da amante, Mayana Moura assume o papel da musa de seus longas-metragens, Myra Ruiz vive a prostituta e Totia Meireles é a sua produtora e parceira profissional.

Embora não tenha sangue italiano, Lino Villaventura nutre amor pelo cinema do país desde criança e afirma ao UOL Moda que não houve dificuldade na identificação com a obra. “É um projeto que tem super a ver comigo e essas referências culturais de infância não saem de nós. Está dentro do meu universo, até porque todas essas mulheres são glamorosas como as que crio em minhas coleções.”

Lino Villaventura assina o figurino de "Nine - Um Musical Felliniano" - Divulgação - Divulgação
Lino Villaventura assina o figurino de "Nine - Um Musical Felliniano"
Imagem: Divulgação

Trabalhando sob pressão
Ele conta que se trata de uma média de 30 looks elaborados em um curtíssimo prazo de um mês. Junto à sua equipe de sessenta funcionários, trabalhou em longas jornadas de 12 horas diárias para dar conta não só do projeto, como também da já existente demanda de entregas do atelier. Ainda que a correria o deixe aflito, afirma que seu "brainstorm" acaba funcionando melhor sob pressão.

“Essa falta de tempo é uma dificuldade, mas não nego que se aplica ao meu perfil. Se tenho mais tempo, fico repensando coisas, querendo mudar tudo”, explica. “É um tipo de trabalho completamente diferente de uma peça normal, pois os musicais são sempre mais completos. Essa dinâmica me fez separar as peças de dança, que não podem atrapalhar os movimentos, e as de momentos sem esse tipo de encenação.”

Os looks, produzidos em seda pura e tafetá de seda, trazem o DNA do estilista. Suas características nervuras e amassados, que somam em textura e que agregam no caimento, marcam forte presença. Na cartela de cores, o predomínio de preto com pontos de vermelho e roxo. Mini cristais, canutilhos e pérolas também facilitam nos efeitos de iluminação de palco. A personagem de Beatriz Segall, por exemplo, carrega consigo um broche de cristal que, visto de longe, dá a impressão de ser de marfim, segundo afirma Lino.

“Beatriz está a cara daquelas mulheres italianas dos filmes antigos e ela ficou felicíssima quando eu disse isso”, brinca. “Nos meus próprios desfiles eu costumo me valer de pontos cênicos de imagem, sempre intensificando em sensações e brilhos. E nesse trabalho não seria diferente.”

Ele explica ainda que se viu livre de amarras na hora da criação. Não só não se baseou no figurino do filme original de Fellini, como também não deu bola para os musicais internacionais anteriormente realizados. A única coisa que precisava fazer era discutir suas ideias com o Charles Möeller. “Foi um processo muito divertido porque ele é um cara que te incentiva a enlouquecer na hora da criação. E ambos respeitamos nossas formas de trabalhar”, conta.