Grávida que se exercita tem menos risco de ter filho com problema cardíaco
Nos ratos, fazer exercícios diminui substancialmente o risco de a fêmea grávida dar à luz filhotes com defeitos sérios no coração, de acordo com um novo estudo, que pode ser importante também para as mulheres que estão ou querem ficar grávidas.
Biólogos que estudam o desenvolvimento já estabeleceram, há muito tempo, que o coração é o primeiro órgão embrionário a se desenvolver, normalmente depois de dez semanas da concepção, para o deleite das mulheres grávidas que podem ouvir o batimento cardíaco do filho logo no começo da gestação.
Mas, por razões que não são completamente compreendidas, o desenvolvimento do coração do feto, algumas vezes, não vai bem. Isso leva a defeitos congênitos do órgão, que estão entre problemas de nascimento mais comuns nos Estados Unidos, afetando um a cada cem bebês. A maioria desses defeitos é de pequena importância, mas alguns, incluindo buracos entre as câmaras do coração, requerem uma cirurgia invasiva depois do nascimento.
Cientistas e cardiologistas adorariam poder deter ou consertar esses problemas mais cedo, ainda mesmo no útero, mas os corações se desenvolvem tão rapidamente depois da concepção que “o prejuízo está feito antes que a gente consiga saber o que começou”, explica Patrick Y. Jay, professor associado de pediatria e genética da Escola de Medicina da Universidade de Washington, que supervisionou o novo estudo.
Por isso, recentemente, cientistas começaram a procurar fatores que podem baixar o risco de defeitos, incluindo uma atenção às mães, responsáveis pelo ambiente em que o feto cresce.
Os pesquisadores já sabem há algum tempo que, em animais e pessoas, mães mais velhas possuem maior risco de terem bebês com problemas no coração do que as mais jovens. Mas ninguém descobriu se era a idade da grávida ou a de seus óvulos que aumentava esse risco.
Assim, como um passo preliminar do novo estudo, que foi publicado na semana passada na "Nature", Jay e seus colegas realizaram uma experiência intuitiva, mas surpreendentemente inovadora. Primeiro, reuniram cobaias criadas para ter um alto risco de parir filhotes com buracos entre as câmaras do coração. Metade das fêmeas era jovem. A outra metade era velha, para os padrões dos ratos, chegando perto da menopausa.
Os cientistas então simplesmente transplantaram os ovários das mais jovens, contendo óvulos jovens, para as ratas mais velhas e os das idosas para as jovens, e fizeram com que todas engravidassem.
A idade dos ovários e os óvulos não tiveram qualquer papel no risco de as mães darem à luz filhotes com defeitos no coração. As ratas mais novas tiveram risco menor mesmo quando seus ovários e óvulos eram velhos. As de mais idade tiveram uma incidência de filhotes com defeitos no coração muito maior, mesmo com ovários e óvulos jovens.
Essas descobertas encorajaram os pesquisadores, diz Jay, porque se o risco relacionado à idade tivesse a ver com os óvulos, não haveria o que fazer. Os óvulos não podem ser mudados. As mães, pelo menos, podem.
Ele e seus colegas então resolveram determinar o que poderia estar afetando o risco de as mães mais velhas terem filhotes doentes.
Eles suspeitaram do metabolismo. Com a idade, o metabolismo se torna menos eficiente, como qualquer pessoa com uma cintura em expansão na meia-idade sabe, e os cientistas se perguntaram se a diminuição na habilidade das mães mais velhas de metabolizar a gordura e o açúcar poderia estar afetando o ambiente uterino e, em consequência, o desenvolvimento do coração do feto.
Porém, quando os pesquisadores alimentaram as ratas mais velhas grávidas com ração com alto teor de gordura, o risco de elas darem à luz filhotes com problemas no coração permaneceu quase o mesmo do que as que comeram ração normal. A dieta não fez diferença.
Então, os cientistas resolveram levar em consideração os exercícios, que afetam o metabolismo junto com muitos outros aspectos do corpo da mãe, explica Jay. Os pesquisadores colocaram rodas de exercícios nas gaiolas das ratas geneticamente predispostas a terem filhotes com problemas no coração. Alguns desses animais eram jovens, o equivalente a ratas adolescentes; outras estavam perto da menopausa. Todas puderam correr o quanto quisessem por várias semanas antes de ficarem grávidas.
Outras ratas, jovens e velhas, continuaram sedentárias para servir de grupo de controle.
Quando deram à luz seus filhotes, as mães mais velhas que correram tiveram bem menos ratinhos com problemas no coração do que as sedentárias mais velhas. Na verdade, seu risco foi equivalente ao das mães jovens. Cerca de 10% das mães jovens tiveram filhotes doentes, correndo ou não, mesmo número das mães mais velhas que correram. No entanto, mais de 20% das ratas mais velhas sedentárias tiveram filhotes com defeitos no coração.
Os cientistas não sabem como a prática de exercícios mexeu na equação de risco, apesar de suspeitar do envolvimento de mudanças metabólicas dentro do útero. Sabe-se também que os exercícios mudam o comportamento de alguns genes e causam a liberação de substâncias por músculos e células, explica Jay. Essas substâncias podem cair na corrente sanguínea e, finalmente, chegar ao feto, o que pode ser um benefício para o coração em desenvolvimento.
Nesse momento, no entanto, essas possibilidades são só uma especulação. Muitos fatores podem contribuir para os problemas no coração, e, como ratos não são gente, os cientistas não sabem se as mesmas mudanças ocorreriam em mulheres grávidas que se exercitam.
Mas Jay afirma que recomendaria que mulheres grávidas saudáveis e aquelas que estão pensando em engravidar tentem se tornar mais ativas, se já não são. “Existem muitos benefícios potenciais para a saúde” tanto para a mãe quanto para a criança em desenvolvimento, diz ele, e poucas desvantagens.
Um consulta ao médico, claro, é necessária antes de começar a se exercitar. E não se preocupe se você não pode ou não quer correr. Os pesquisadores dos exercícios, geralmente, consideram que correr na roda para ratos é o equivalente a caminhar rapidamente para nós.
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