Estilista mineiro propõe reflexão social ao se inspirar em moradores de rua

São mais de 20 anos no mundo da moda, mas, bastaram três de vida do neto, o pequeno Fernando, para que o estilista mineiro Rogério Lima mudasse o olhar que mantinha sobre sua área de atuação. Nos caminhos que faziam juntos entre o bairro Prado e a Praça Liberdade, em Belo Horizonte, ele percebeu, através da curiosidade que o menino tinha pelos moradores de rua, que nunca havia se aproximado daquelas pessoas.
"Ele via uma menina lavando roupa no chafariz e queria saber o motivo. Olhava para uma pessoa com vestimentas sujas e me perguntava se ela não tomava banho. Para me livrar dos 'porquês', dizia que ele tinha de ir lá e perguntar diretamente a eles", lembra. E continua: "Me chamou atenção o fato de Fernando não hesitar em se aproximar para sanar as dúvidas. Com toda sua pureza, ele 'quebrava o gelo'. Foi quando percebi que nós, adultos, temos medo dessa relação. E, por isso, muitas vezes essas pessoas se tornam seres invisíveis na sociedade."
Lima, que é designer especializado em bolsas, sempre usou elementos reciclados em suas criações. Mas, para a linha que apresenta na 15ª edição do Minas Trend, sentiu a necessidade de expor a reflexão recém-descoberta e se concentrar na sustentabilidade do seu trabalho --não apenas nos materiais, mas no elemento principal desse sistema, o ser humano. "Estas pessoas, que passam horas por dia catando lixo na rua em troca, muitas vezes, de droga, são um problema da sociedade também. Eu busquei um artifício, a minha arte, para falar disso de maneira mais coerente com o mundo."
Assim nasceram mais de 60 modelos de bolsas que estão à venda no Salão de Negócios do Minas Trend --evento do qual o estilista participa desde a primeira edição. Além delas, uma reunião de fotos e vídeos, que foram o ponto de partida para o projeto batizado de "Seres Invisíveis", está em exibição para os visitantes que passam pelo Expominas. "Durante um ano, observei atentamente e tive contato direto com moradores de rua. Quis saber tudo que fazia parte do universo deles para reproduzir em cores, tecidos, materiais e texturas nas minhas peças. Via um cobertor e buscava comprar um tecido parecido para confeccionar a bolsa. Os tons metalizados, por exemplo, são inspirados nas latinhas de bebida que eles recolhem diariamente."
Entrar no universo alheio e criar de maneira cada vez mais exclusiva e sustentável é, para Lima, o futuro da moda. "Não sei lhe dizer hoje quais são os próximos passos desse projeto, mas ele vai continuar, porque temos essa responsabilidade social e o mercado sinaliza que, cada vez mais, as pessoas preferem trabalhos personalizados", conclui.
*A reportagem viajou a convite da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG).
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.