Cultivar cebolas requer paciência, mas oferece tempero fresco pro almoço
Simone Sayegh
Do UOL, em São Paulo
23/09/2014 07h01
A cebola (Allium Cepa L.) é uma das hortaliças condimentares mais consumidas no mundo e, no Brasil, as três variedades mais comuns são a branca (de diversos formatos, sabor forte e indicada para o tempero do dia a dia e para ser consumida como guarnição), a amarela (grande, ácida, boa para refogados) e a roxa (com sabor mais adocicado e muito utilizada crua ou no preparo de vinagretes).
Pertencentes ao grupo das tuberosas, exatamente pelo fato de formar bulbos, as cebolas contêm elementos antioxidantes e anti-inflamatórios, além de vitaminas e sais minerais. Seus “pés” atingem 60 cm de altura e possuem ciclo de 120 a 200 dias para a produção do bulbo e bianual para a de sementes.
Canteiro
Cebolas podem ser plantadas junto a outras plantas, desde que não permaneçam na sombra, mas o ideal é que tenham um espaço próprio. A melhor época para o plantio é de março a junho. O cultivo pode ser realizado por meio da semeadura em linhas, em um filão o mais próximo possível do local escolhido para a plantação definitiva, ou diretamente por mudas, o que diminui o tempo de colheita dos bulbos.
Os canteiros devem possuir, no mínimo, 20 cm de altura, com espaçamento de 20 cm entre as linhas e 10 cm entre as plantas. O lugar deve ser o mais plano possível, bem drenado e com boa luminosidade. As cebolas também podem ser cultivadas em jardineiras ou floreiras que apresentem, pelo menos, 20 cm de profundidade. Já o plantio em vasos exige uma área maior que um metro quadrado por planta, profundidade do recipiente acima de 35 cm e substrato bem drenável.
Insolação e temperatura
O sol é fundamental para que o bulbo da cebola se desenvolva. A importância é tão grande que as cultivares são classificadas em função do número de horas de luz diário exigido: as de dias curtos (DC), que bulbificam com pelo menos 12 horas de luz; as de dias intermediários (DI), que exigem 13 ou mais horas de incidência; as de dias longos (DL), que precisam mais de 14 horas de iluminação direta; e as de dias muito longos (DML), que demandam luz em um período superior a 15 horas.
Tais hortaliças também se desenvolvem melhor em temperaturas entre 5° e 25° C com demanda de um período prolongado de frio (variações entre 5° e 13° C por pelo menos 30 dias). Todavia, as variedades tropicais são normalmente menos exigentes em relação a essa exposição ao frio, se comparadas às de clima temperado.
Solo e adubação
O solo ideal para as cebolas detém PH entre 6 e 6,5, textura média, livres de impedimentos físicos (camadas compactadas, adensadas ou em crostas) e boa drenagem. Substratos muito argilosos dificultam a formação dos bulbos, enquanto os arenosos retêm pouca umidade e nutrientes, além de favorecerem a rápida mineralização da matéria orgânica.
A adubação em uma horta doméstica pode ser feita com esterco de curral e/ ou húmus, em uma proporção média de dois quilos para cada metro quadrado de canteiro. Em caso de solos com baixa fertilidade recomenda-se a aplicação de 500 g/m2 do adubo químico NPK - nitrogênio, fósforo e potássio - (formulação 4-14-8) associadas a três litros de esterco de gado curtido.
Pode ser necessária uma adubação de cobertura nos primeiros dois meses (ao 30º e 60º dia) após o plantio. Ela consiste na aplicação de 30 g/m2 de uréia ou a mesma proporção do adubo NPK 20-0-20. No caso do uso de formulações de NPK mais concentradas, como a 4-30-16, a quantidade de adubo deve ser reduzida à metade.
Irrigação
A irrigação é determinada pela umidade do solo: excesso ou falta de água diminuem a produtividade. Além disso, os volumes de água são diferentes de acordo com a fase da cebola. Na germinação, no transplantio (se houver) e na fase da formação dos bulbos (encabeçamento) o volume deve ser maior quando comparado ao da etapa de crescimento vegetativo. A forma mais simples de orientar a irrigação é verificar a umidade junto às raízes. Para verificar o solo, basta cavar próximo a um exemplar.
Se as raízes estiverem secas, aumente as regas que, preferencialmente, devem ser diárias e por aspersão. Todavia, com o crescimento das mudas diminua a frequência: molhe os exemplares a cada um ou dois dias, sempre no período da tarde. Chuvas ou irrigação em excesso antes do início da bulbificação aumentam o diâmetro do pseudocaule (pescoço), favorecendo a entrada de água e dificultando o tombamento da parte aérea da planta sobre o solo (estalo), que indica o momento da colheita.
Já o excesso de água durante a fase final de crescimento dos bulbos retarda a maturação e causa a ruptura das películas externas de proteção dessas cabeças. Assim, para que as películas se mantenham intactas, as irrigações devem ser paralisadas duas a três semanas antes da colheita.
Colheita
De modo geral, quando cerca de 40 a 70% das folhas estão amareladas ou secas e o pseudocaule tomba é a hora em que as cebolas devem ser colhidas. Mas atente-se: não recolha as cebolas, pois elas devem permanecer no canteiro, tombadas sobre a terra, para sofrerem a cura, um processo extremamente importante que remove o excesso de umidade das camadas mais externas dos bulbos e das raízes, reduz a ocorrência de brotação e permite à hortaliça amadurecer antes de ser consumida fresca ou antes do armazenamento prolongado.
A cura é realizada durante três ou quatro dias após a colheita, se o clima estiver quente e seco. Em resumo, o objetivo é secar a cabeça, mas deve-se ser cuidadoso, pois o bulbo não pode ser queimado pelo sol. O ideal, portanto, é que seja protegido por outras plantas, que podem até ser as folhas das cebolas ainda não tombadas.
Pragas
A principal praga deste tipo de vegetal é o tripes (Thrips tabaci), mas a cultura pode ser atacada pelo ácaro da cebola, pelas lagartas-das-folhas, lagartas-rosca, larvas-minadora, além de vaquinhas, grilos e das moscas-da-cebola. Para o combate desses agentes recomenda-se o uso de óleos e inseticidas naturais. As principais doenças são o mal-de-sete voltas, a mancha-púrpura e a queima das pontas, causadas pelos fungos Colletotrichum gloeosporioides f. sp. cepae, Altenaria porri e Botrytis spp, respectivamente, e a podridão bacteriana, causada por bactérias. Para eliminá-las, procure a orientação de um engenheiro agrônomo.
Fontes: Lenita Lima Haber, analista de Transferência de Tecnologia da Embrapa Hortaliças; Milton Shirakawa, engenheiro agrônomo da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf); Thiago Factor, pesquisador da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo.
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