"Coração" de loft em NY é estúdio de arte e coleção de pinturas
É difícil acreditar, mas houve um tempo em que ser um artista morto de fome em Nova York poderia trazer vantagens imobiliárias. Tom Levine é prova disso. Em 1974, Tom se mudou de Cincinnati para NY seguindo seu irmão mais velho, James, maestro e diretor musical de longa data da Metropolitan Opera. Mais jovem Tom, pintor abstrato, passou a residir na Greene Street, no SoHo, em um loft com 140 m² e pelo qual ele pagava US$ 165 mensais.
“Havia dois restaurantes”, relembra Tom, de 68 anos, “o Fanelli Café, que ainda está lá, e o Food, que era administrado por artistas. Não havia carros nas ruas. Era ótimo”. O pintor e seus companheiros inquilinos se reuniram e compraram o edifício e, lá, ele morou por décadas. Quando em 2002, finalmente, Tom se desinteressou pelo espaço e seus vizinhos incluíam mais advogados do que artistas, vendeu o apartamento obtendo um bom lucro.
A venda, aliás, lhe deu fundos suficientes para pagar a entrada de sua atual residência: um loft de US$ 2,7 milhões e 500 m² no Chelsea, que ocupa um andar inteiro do que foram, certa vez, os escritórios administrativos de uma loja de roupas.
A nova morada
Assoalhos de tábuas largas de pinho dão a sensação de um celeiro reformado ao loft, assim como a comprida mesa de fazenda na cozinha. Em torno dela estão cadeiras ao estilo “Banco da Inglaterra”, que Tom conseguiu em uma loja de materiais usados. Alinhados em uma prateleira próxima repousam vários potes da ceramista Karen Karnes, uma das muitas coleções de arte folclórica (que contam ainda com máscaras africanas e gaiolas chinesas, por exemplo) em exposição no apartamento.
“Eu não queria um lugar brilhante. Não é o meu estilo, nunca foi esse”, afirma Tom sentado à mesa de fazenda, usando uma camiseta velha. Para criar o loft de um quarto a partir de um espaço vazio e cru, ele consultou seu amigo Bill Katz - designer que a revista W descreveu como “conselheiro da estética” de nomes como a estilista Diane von Furstenberg e o artista plástico Jasper Johns. O orçamento de Tom, no entanto, era limitado (comprar o lugar foi um grande salto financeiro, disse) e suas necessidades eram simples.
O futuro morador queria uma biblioteca para abrigar sua grande quantidade de livros, o que foi conseguido através de um longo corredor central no qual se alinham prateleiras do chão ao teto. Ele também precisava de um estúdio em casa onde pudesse trabalhar. O canto nordeste, com a luz constante, tornou-se um estúdio retangular tão grande que apartamentos inteiros poderiam ser esculpidos, a partir de sua massa vazia. (Em outra ala, Tom realmente criou um apartamento a parte, que subloca para cobrir parte da sua hipoteca).
Sobre o estúdio, Katz resume; “Eu queria construí-lo grande o suficiente para ser interpretado como o centro da existência de Tom”.
O coração do loft
Há pouco tempo, a área do estúdio parecia especialmente cavernosa. Tom havia acabado de remover suas pinturas para uma mostra de seu trabalho na Washburn Gallery e tudo o que restou foram as grandes mesas de trabalho e um par de telas com esboços em andamento. “Você cria em um estúdio e trabalha sozinho”, diz Tom sobre sua rotina monástica diária. Com exceção de seus dois gatos, ele mora só.
Enquanto a arte de Tom Levine esteve ausente, as paredes foram cobertas por trabalhos de outros artistas, muitos dos quais ele admira ou conhecia, incluindo Roy Lichtenstein, Sol LeWitt, Robert Rauschenberg e Jasper Johns. Tom reverencia Johns e exibiu com entusiasmo as litografias, gravuras e telas que compõem o “santuário Jasper Johns” no escritório de sua casa.
A casa e o estúdio podem remeter à coroação do trabalho de um artista na Manhattan de hoje, mas Tom garante que o antigo jovem artista morto de fome que ainda existe dentro dele tinha quase desistido. Ele estava tão preocupado com o custo do loft e o pagamento da hipoteca que, em 2005, fugiu para o Chelsea Hotel e colocou o imóvel à venda. “O negócio não deu certo”, ele termina: “Melhor assim”.
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