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Madrastas e padrastos devem se impor com enteados difíceis de lidar

Por mais que tenham interesse em conquistar o enteado, padrastos e madrastas não devem aceitar comportamentos hostis da criança  - Getty Images
Por mais que tenham interesse em conquistar o enteado, padrastos e madrastas não devem aceitar comportamentos hostis da criança Imagem: Getty Images

Marina Oliveira e Thaís Macena

Do UOL, em São Paulo

23/12/2013 07h21

A entrada de um novo parceiro na vida do pai ou da mãe pode ser um choque para algumas crianças, afinal, elas podem ter uma certa dificuldade de dividir aqueles que mais amam.

Além disso, ter um padrasto ou uma madrasta é, de certa forma, a confirmação de uma dura realidade para os filhos: a de que o pai e a mãe, definitivamente, não estarão mais juntos. Por isso, para muitos homens e mulheres, encontrar um companheiro que já tem filhos pode exigir uma dose extra de tolerância e jogo de cintura.

Os primeiros contatos devem servir para a aproximação, mas quando a convivência com a criança se tornar intensa, caberá ao novo companheiro do pai ou da mãe participar mais ativamente da vida da criança, ajudando nos cuidados do dia a dia e na educação. Porém, sem jamais ter a pretensão de substituir a figura materna ou paterna.

"Com os enteados, a relação deve ser sempre baseada em um vínculo amistoso, que pode se tornar mais íntimo com o tempo", diz a psicóloga Luciana Leis, do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Em geral, quanto mais nova for a criança, maior a chance de que ela aceite e goste do novo amor do pai ou da mãe. E é melhor que o novo integrante da família seja apresentado como amigo ou amiga.

"Depois de um tempo, o casal pode dizer que está muito feliz junto, que gostam da companhia um do outro e que, por isso mesmo, decidiram namorar", diz a terapeuta familiar Roberta Palermo, autora de "Madrasta - Quando o Homem da Sua Vida Já Tem Filhos" (Editora Mercuryo).

Os primeiros encontros podem ser em lugares que possibilitem uma boa conversa, como lanchonetes ou sorveterias. Isso ajudará a criança a perceber que a nova pessoa chegou para proporcionar bons momentos. Nessa fase, vale puxar papo sobre os amigos, a escola, passeios ou brinquedos. Presentear também pode, desde que o item escolhido tenha um significado especial.

"Se a criança tem seis anos e está aprendendo a ler, por exemplo, o padrasto ou madrasta pode comprar gibis. Além de dar um presente que combina com um momento tão especial na vida, o adulto também poderá ler com ele, o que ajuda a criar vínculo", diz Roberta.

Desafios à vista

Se logo no início da convivência a criança começar a pegar pesado com o novo integrante da família, o melhor a fazer é não aguentar calado. Para a psicóloga Luciana Leis, não vale a pena suportar tudo só para tentar ser aceito.

"Por mais que tenham interesse em conquistar o enteado, padrasto e madrasta não devem aceitar comportamentos hostis da criança só para não desagradá-la. Caso contrário, acabarão desrespeitando a si próprios", afirma.

A terapeuta familiar Roberta Palermo diz que são os pais que devem impor limites. "Se a criança tiver dificuldade de dividir o pai ou a mãe, cabe ao adulto que tem mais vínculo com ela a tarefa de situá-la imediatamente. Basta dizer, com carinho, que o novo casal não aceitará comportamentos inadequados por ciúme e que ambos exigem respeito", afirma.

Para o novato na família, estabelecer regras é mais fácil quando estas já estão em harmonia com o discurso e a atitude dos pais. Isso evita que ele seja mal visto pelo enteado. "A criança atende melhor se a regra exigida pela madrasta ou padrasto for a mesma que os pais já costumam aplicar", diz Roberta.

Se, por exemplo, o pai nunca se importou que o filho deixasse os brinquedos jogados pela casa, a madrasta inevitavelmente será vista como uma chata ao cobrar isso. O mais adequado a fazer, nesse caso, é conversar primeiro com o parceiro. Se ele concordar, fala com a criança e, daí em diante, a madrasta está liberada para cobrar essa postura.

"Madrasta e padrasto podem interferir, desde que fique bem claro para a criança que os pais aprovam essa ajuda", afirma a terapeuta familiar.

Na hora de intervir, o diálogo franco é o melhor caminho, já que broncas tendem a aumentar os atritos. "A conversa deve ser sem cerimônias e natural". Crianças não entendem meias palavras.

"Quando percebem algo no ar, sem uma definição, inventam uma explicação na cabeça delas", explica o psiquiatra da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) Auro Lescher. O mesmo acontece ao receberem indiretas. Portanto, diga claramente o que espera. 

Endurecer, sem perder a ternura

Se mesmo após um diálogo franco o combinado não estiver sendo cumprido, a recomendação é que, ao desobedecer, a criança perca um privilégio. A medida ajuda o enteado a perceber que teve um comportamento inadequado e que lhe causou prejuízo, tirando-lhe a motivação para agir de novo da mesma maneira, porém sem provocar traumas.

Assim, interferir na educação dos filhos do novo par é sempre uma possibilidade e pode ser encarada como uma responsabilidade quando o vínculo entre o casal é sério e duradouro. No entanto, é essencial que o novo membro da família saiba como se posicionar.

"O padrastos e madrastas devem conversar com o parceiro sobre o que estão percebendo, pois é possível que o outro não tenha se dado conta do problema e, pior, que não tenha a mínima ideia do que precisa fazer naquela situação", diz Roberta.

Em outras palavras, é sempre mais produtivo posicionar-se como aquele que dá sugestões para que a convivência melhore, e não como o crítico que aponta defeitos em tudo e em todos.

É preciso considerar, ainda, que uma relação complicada com o enteado poderá afetar, sim, o relacionamento do casal. Às vezes, até para melhor, permitindo que cresçam juntos.

"Se lidarem com a situação de um jeito maduro, o casal terá a oportunidade de rever e atualizar suas visões e posições. Ao final do processo, terão aprendido mais estratégias para administrar conflitos e situações difíceis", afirma Lescher.