Traído que remói decepção quer despertar compaixão alheia

A infidelidade de quem se ama costuma trazer à tona aspectos espinhosos do relacionamento. E provoca no traído um efeito devastador na autoestima e na capacidade de confiar nos outros.
Cada pessoa tem um jeito diferente de lidar com os problemas e com o próprio sofrimento; logo, umas podem demorar mais do que as outras para superar o período pós-traição e decidir se seguem ou não adiante com a relação.
Para alguns homens e mulheres, no entanto, a decisão de romper ou não com o parceiro infiel nem sempre significa um ponto final no enredo. Há quem fique eternamente preso nesse desfecho sem final feliz e, pior, transforme os que estão à sua volta em eternos espectadores.
Uma das explicações é que muita gente se apega a acontecimentos carregados de emoção e não conseguem mais se libertar do passado. Mesmo que a traição já tenha acontecido há anos, volta e meia o traído fica relembrando e contando aos outros tudo o que sofreu.
"Essas pessoas sentem um prazer mórbido e masoquista ao reviver suas mágoas. Se a história for permeada por detalhes escabrosos, então, o deleite é ainda maior", afirma a psicoterapeuta Carmen Cerqueira Cesar.
"Essas pessoas sentem um prazer mórbido e masoquista ao reviver suas mágoas. Se a história for permeada por detalhes escabrosos, então, o deleite é ainda maior", afirma a psicoterapeuta Carmen Cerqueira Cesar.
Quem age assim passa a ideia de que sente orgulho de ter sido traído. E não é uma impressão, segundo o psicólogo e psicoterapeuta Antonio Carlos Amador Pereira, professor da PUC-SP (Pontifícia Universidade de São Paulo). Para ele, ao usar a infelicidade como uma espécie de emblema, a pessoa ocupa o papel de vítima e obtém um ganho secundário com isso.
"Ao falar sobre seu drama, a pessoa recebe de volta atenção, afeto, consideração, empatia. A piedade alheia, para ela, funciona como um afago", conta o especialista.
"É uma atitude comum entre indivíduos com baixa autoestima e que não se sentem valorizados ou merecedores de amor", fala Carmen. E, ainda, uma forma de se eximir da parcela de responsabilidade que lhe cabe pelo fim da relação e demonizar o antigo parceiro, impondo a ele a função de vilão.
"Ao falar sobre seu drama, a pessoa recebe de volta atenção, afeto, consideração, empatia. A piedade alheia, para ela, funciona como um afago", conta o especialista.
"É uma atitude comum entre indivíduos com baixa autoestima e que não se sentem valorizados ou merecedores de amor", fala Carmen. E, ainda, uma forma de se eximir da parcela de responsabilidade que lhe cabe pelo fim da relação e demonizar o antigo parceiro, impondo a ele a função de vilão.
A psicoterapeuta Sandra Samaritano diz que nem só os "coitadinhos" compõem o time dos que adoram reviver suas decepções amorosa.
"Algumas pessoas fazem questão de manter a imagem de bem-resolvidas e de que não estão nem aí para o fato de terem sido enganadas. ‘A fila anda’ é o lema. A indiferença, nesses casos, é só fachada. Enquanto tentam convencer os outros de que estão felizes e que superaram o que aconteceu, sofrem em silêncio".
É comum, também, que pessoas traídas demonstrem sentir orgulho da infidelidade porque isso dá a chance de mostrar que são modernas ou fortes.
"Algumas pessoas fazem questão de manter a imagem de bem-resolvidas e de que não estão nem aí para o fato de terem sido enganadas. ‘A fila anda’ é o lema. A indiferença, nesses casos, é só fachada. Enquanto tentam convencer os outros de que estão felizes e que superaram o que aconteceu, sofrem em silêncio".
É comum, também, que pessoas traídas demonstrem sentir orgulho da infidelidade porque isso dá a chance de mostrar que são modernas ou fortes.
Muleta emocional
Seja assumindo uma postura de vítima ou de desprendimento, é necessário romper o círculo vicioso de relembrar as mazelas a todo instante para chamar a atenção.
"Esse comportamento até desperta compaixão, inicialmente. Mas, depois de um tempo, a pessoa passa a ser considerada chata. Os outros começam a evitá-la e a afastá-la de seu convívio", fala o psicólogo Antonio Carlos. Viver do passado e transformar amigos em ouvintes também é uma forma de se abster de tomar as rédeas da própria vida.
"Esse comportamento até desperta compaixão, inicialmente. Mas, depois de um tempo, a pessoa passa a ser considerada chata. Os outros começam a evitá-la e a afastá-la de seu convívio", fala o psicólogo Antonio Carlos. Viver do passado e transformar amigos em ouvintes também é uma forma de se abster de tomar as rédeas da própria vida.
A traição vira uma muleta emocional, na qual a pessoa se ampara para não caminhar por si mesma. "É importante analisar se o que a impede de seguir adiante é o medo de encarar um novo relacionamento e se machucar novamente. Trata-se de um receio totalmente sem fundamento, pois ninguém, em nenhuma situação, está livre de se decepcionar", declara Carmen.
Para Antonio Carlos, investir na carga seletiva da memória e filtrar os momentos ruins da antiga relação pode ser um bom começo. "Em vez de olhar para trás e ficar andando em círculos, sugiro ocupar a mente com outros planos e, principalmente, perdoar o outro e se perdoar pelo relacionamento não ter dado certo", diz o psicólogo da PUC-SP.
Para Antonio Carlos, investir na carga seletiva da memória e filtrar os momentos ruins da antiga relação pode ser um bom começo. "Em vez de olhar para trás e ficar andando em círculos, sugiro ocupar a mente com outros planos e, principalmente, perdoar o outro e se perdoar pelo relacionamento não ter dado certo", diz o psicólogo da PUC-SP.
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