Postar fotos da intimidade dos filhos pode prejudicá-los no futuro?
Pais orgulhosos sempre gostaram de mostrar fotos dos bebês para amigos, familiares e até desconhecidos. Agora, com as redes sociais, cada passo, sorriso e careta dos bebês têm sido vistos por toda a rede de contatos --às vezes, situações exageradamente íntimas são publicadas, como uma troca de fraldas ou a primeira vez que a criança usou o penico sozinha.
Embora as crianças estampadas no Facebook alegrem as timelines, há um ponto que precisa ser considerado: o compartilhamento excessivo de imagens dos filhos na internet impede que eles tenham controle sobre sua própria imagem no futuro. Com a responsabilidade sobre a privacidade dos filhos nas mãos, cabe aos pais terem cuidado.
Conhecido por fazer fotos divertidas da filha desde bebê, o fotojornalista norte-americano Dave Engledow já expôs Alice, 3, às mais variadas situações. Suas fotos foram publicadas em sites de vários países e ele mantém uma página no Facebook apenas para divulgar essas fotografias. Ainda que acredite que sua filha gostará do fato de ter um álbum tão diferente das demais crianças, Engledow afirma que reflete antes de publicar fotos mais pessoais da sua filha.
"Há fotos de Alice que minha mulher e eu definitivamente não compartilhamos na internet. São imagens que amamos, mas queremos manter especialmente para nossa família", afirma ele. "É difícil imaginar como essa exposição constante das crianças de hoje vai afetar essa geração, mas espero que isso não seja estranho para elas".
Mas nem todos os pais pensam sobre a consequência da superexposição dos filhos nas redes sociais. Para Marcia Cristina Argenti Perez, professora do Departamento de Psicologia da Educação da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e coordenadora do GEPIFE (Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Infância, Família e Escolarização), hoje, a criança na internet é como um objeto a ser contemplado.
"Os pais costumam contar o passo a passo de tudo o que ela faz, do mesmo jeito que eles contam com detalhes a sua própria vida. Eles estendem essa superexposição para o filho, sem saber se isso poderá ser ruim para eles no futuro”, afirma.
Segundo Lúcia Williams, doutora em psicologia pela USP (Universidade de São Paulo) e professora do departamento de psicologia da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), ainda não há estudos que mostrem os impactos que o excesso de exposição das imagens dos filhos nas redes pode causar no futuro. "Entretanto, o uso seguro da internet nos diz que é um risco colocar imagens de crianças de modo excessivo na internet, porque elas podem ser disponibilizadas para fins inapropriados", diz.
Segundo ela, por crescer dentro dessa cultura da superexposição, é comum que crianças e adolescentes achem natural postar fotos sensuais ou que exponham demais a intimidade. "Cada dia mais a fronteira entre o público e o privado fica indistinta", afirma o psicólogo João Angelo Fantini, professor do curso de Psicologia da UFSCar.
Constrangimentos no futuro
Mesmo com a tendência de compartilhar cada vez mais momentos da vida pessoal nas redes, certas imagens tendem a virar motivo para constrangimento no futuro. Aquela foto do bebê fazendo algo que hoje é considerado engraçado para os amigos dos pais pode se tornar um grande motivo de vergonha para o filho quando ele for adolescente.
Equilíbrio e limites
Ter vontade de postar fotos de novas conquistas dos filhos ou de aniversários é natural. Mas não exagere. "Na condição de educadores, os pais precisam buscar um ponto de equilíbrio e se questionar sobre a educação dos filhos. Se colocarmos para elas o mundo virtual como uma necessidade, ela vai querer fazer parte disso ainda criança. Estamos propondo que elas ajam como adultas nas redes sociais", diz Marcia Cristina, da Unesp.
A confusão para entender os limites do que deve ser publicado ou não acontece porque esse universo também é novo para os adultos. "Nós também estamos tentando nos educar no meio tecnológico", afirma Marcia.
Lúcio Teles acredita que, na dúvida, é preciso ter cautela. "Há uma linha muito tênue entre aquilo que deve ser privado e o que deve ser acessado pelos outros. Precisamos ser mais meticulosos. É uma área muito nova, da qual ainda não temos muito entendimento e nem legislação suficientemente adequada para nos defender de qualquer problema", afirma.
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