No pós-parto, cinta traz conforto, mas não põe a barriga no lugar
Com muitos modelos diferentes à disposição no mercado, a cinta para o pós-parto é, para muitas mulheres, item indispensável no armário para os primeiros passos após o fim da gravidez. O uso do acessório é recomendado para dar conforto e segurança de movimento para as novas mamães, além de ajudar a afinar a silhueta. Mas, segundo os especialistas consultados pelo UOL Gravidez e Filhos, a peça não tem nenhuma função médica.
Marco Antonio Capel, ginecologista e obstetra da Maternidade Pro Matre, em São Paulo, afirma que, após o nascimento do bebê, o útero fica menor e mais solto dentro do abdômen. “Quando a mulher se deita, vira de lado na cama, ela sente que o útero tomba para um lado, para o outro, dá um desconforto. Quando usa a cinta, ela se sente mais segura.”
Para o obstetra Corintio Mariani Neto, da Sogesp (Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo), essa sensação de proteção é ainda mais importante para a mulher que foi submetida a uma cesárea. “O uso da cinta pode proporcionar uma sensação de maior segurança, principalmente após uma cesariana, quando é muito comum o receio em relação aos pontos da cirurgia.”
Renata Gebara De Grande Di Sessa, obstetra do Hospital Santa Catarina, também na capital paulista, concorda que, com a cinta, a nova mãe vai se sentir mais à vontade para caminhar e realizar outras atividades cotidianas.
“Na cesárea, geralmente, o pós-operatório é mais dolorido, então a mulher tem mais medo de sentar, levantar, caminhar, por isso, no caso desse tipo de parto, a cinta é muito benéfica. Ela tira esse medo da mulher de se movimentar.”
Estética
A cinta traz também uma vantagem estética para as mulheres preocupadas com sua forma após a gravidez, proporcionando uma redução momentânea do abdômen. Não se deve, contudo, acreditar que a peça ajudará a diminuir a barriga a longo prazo.
“O mito em relação à cinta é que, usando ela, a barriga vai voltar mais rapidamente ao lugar. Ela tem seu tempo para voltar ao normal, o organismo vai se adaptando à ausência da gravidez, e a barriga some”, afirma Marco Capel, da Pro Matre.
Segundo Corintio Mariani, o uso do acessório pode até atrapalhar esse processo natural. “Ao comprimir os músculos da região abdominal, a cinta impede que eles trabalhem de modo fisiológico para eliminar a flacidez, decorrente da distensão a que foram submetidos durante a gravidez, e assim recuperem o tônus anterior”, afirma o obstetra. Para ele, se o objetivo é recuperar a musculatura, é preferível que a mulher faça exercícios abdominais, quando for liberada para atividade física por seu médico.
Cuidados
A mulher que deseja usar a cinta deve tomar alguns cuidados. O primeiro deles é conversar com seu médico a esse respeito. Quadros como sangramento acima do normal e ferida operatória infectada não permitem o uso da peça.
“Existem situações em que o corte precisa ser arejado. Se tem, por exemplo, uma cicatriz inflamada, cobrir com a cinta vai dificultar a cicatrização”, diz Marco Capel.
No caso do uso do acessório ser permitido pelo médico, outro cuidado importante é não vesti-lo logo após o parto. Para Capel, a mulher deve esperar que seu intestino volte a funcionar normalmente. “Quando a mulher da à luz, leva alguns dias para o intestino voltar a funcionar. Nas primeiras 24 ou 48 horas, ela fica com gazes, o que faz com que usar a cinta traga muito desconforto.”
Ao colocar a cinta, não se deve comprimir demais o corpo. “Não é para apertar, não tem de doer. Ela tem de manter a mulher rígida e segura, mas sem causar dor”, fala Renata Gebara, do Santa Catarina. Uma cinta justa demais pode, além de causar incômodo, prejudicar a circulação.
Para a médica, é importante também observar se a cinta está colocada corretamente. “Ela tem de comprimir o abdômen como um todo e cobrir a região da cicatriz, no caso de cesárea. Se a mulher coloca errado e não cobre a cicatriz, forma-se um inchaço ao redor dela e isso acaba sendo ruim porque o acúmulo de líquido ali aumenta o risco de uma infecção.”
Qual usar
Conforto é uma palavra importante e vai determinar a escolha da cinta a ser usada. “Dependendo do modelo, do tamanho e do grau de compressão, ela pode, em vez de aliviar, trazer um incômodo acentuado, justamente, na região do corte da cesárea”, diz Coríntio Mariani.
“É importante que a cinta seja confortável, sem provocar compressão excessiva em região alguma. Nesse aspecto, cintas com fechamento em velcro permitem variar o grau de compressão, conforme o tempo decorrido do parto”, declara o médico. O ideal é evitar tecidos sintéticos, que podem provocar alergias.
Marco Capel aconselha também a conferir a praticidade da peça. “Tem de ver como é para colocar e tirar. Nem sempre vai ter alguém do lado para ajudar, então, se tem muitos fechos, muitos colchetes, não é o modelo mais indicado. Eu recomendo as cintas que vão da virilha até a metade do abdômen.”
Para os especialistas, as peças que vão até as pernas, como um short, são menos práticas porque precisam ser tiradas sempre que a mulher for ao banheiro, e as que cobrem todo o corpo, incluindo os seios, também não são as mais indicadas por causa da rotina de amamentação. Cabe, no entanto, à mulher decidir em qual peça se sente mais à vontade.
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