Quem não se comunica, se trumbica: você sabe se expressar bem?
Marina Oliveira e Rita Trevisan
Do Uol, em São Paulo
22/07/2013 10h00
Vivemos em plena era da informação. O que não significa que nos comunicamos mais nem melhor. “Se partirmos da etimologia da palavra, comunicar seria tornar comum, compartilhar. E isso é algo que nem sempre alcançamos nos nossos relacionamentos”, diz João José Azevedo Curvello, doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo e responsável pelo programa de mestrado em Comunicação da Universidade Católica de Brasília.
Para o especialista, embora a tecnologia tenha permitido reduzir distâncias físicas e afetivas, ela também trouxe novos obstáculos à comunicação. “Em alguns casos, a tecnologia e o excesso de informações contribuem para um maior isolamento”, diz Curvello, que passa a descrever o “absenteísmo presente”, fenômeno em que pessoas, embora fisicamente presentes, ficam absortas seus telefones ou tablets e parecem mentalmente desconectadas umas das outras e do ambiente.
A boa comunicação pressupõe um cenário absolutamente inverso e tem como objetivo primordial conectar os indivíduos, permitir o entendimento e o aprendizado mútuos. “A mensagem precisa chegar ao outro e ser compreendida. Ao interlocutor, não basta ouvir, ele tem que atribuir sentido ao que ouviu, para poder participar da conversa”, explica Curvello.
Parece simples, mas não é. E um dos maiores desafios de quem deseja passar um recado, independentemente do conteúdo, é ser objetivo. “Nas culturas latinas, temos o hábito de primeiro argumentar para só depois dizer o que realmente importa. É exatamente o oposto do que observamos nas culturas anglo-saxônicas, por exemplo. Perdemos muito tempo nos preâmbulos e isso pode atrapalhar a comunicação, tornando a mensagem confusa”, observa o especialista.
Porém, para dizer de forma clara e simples o que se deseja, sem enrolação, é preciso saber exatamente os resultados que se pretende alcançar com determinado diálogo, antes mesmo de iniciá-lo.
Também é essencial perceber o outro, saber ver e ouvir. É isso o que permite organizar um discurso assertivo. “É preciso considerar quem está do outro lado e estabelecer uma ponte de contato com ele”, diz Reinaldo Polito, professor de Competência Verbo-Gestual no curso de pós-graduação da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo. Polito explica que é comum pessoas com pouco conhecimento causarem uma impressão melhor do que outras que possuem muita informação, mas não sabem como expressá-la. “O fundamental é conseguir chegar no nível de entendimento do outro”, afirma.
Encontrar o equilíbrio entre o momento de falar e o de calar é, seguramente, um outro grande desafio . “Algumas pessoas são agressivas demais e cometem erros como o de interromper o interlocutor antes de deixá-lo concluir a sua linha de pensamento. Outros são muito passivos e não conseguem expor seus argumentos de forma incisiva”, observa Eduardo Ferraz, consultor em Gestão de Pessoas.
Sucesso exige dedicação e persistência
Para encontrar o meio termo e usar a palavra para aproximar e reter a atenção das pessoas é preciso dedicar-se. E, muito embora alguns já nasçam com o dom da comunicação, é perfeitamente possível desenvolvê-lo. Eunice Mendes, comunicadora e coautora do livro “Falar Bem É fácil” (Editora AGWM), diz que a comunicação deve ser aprimorada dia a dia, em todos os diálogos que estabelecemos. Segundo ela, uma boa maneira de saber se suas habilidades de comunicação estão OK é perguntar para as pessoas com quem você fala todo dia -pedir um feedback mesmo.
Em geral, entretanto, deve-se ter cuidado com o tom de voz, a pronúncia correta das palavras, o uso de vocabulário adequado e a velocidade com que se expressa as ideias. Igualmente importante é construir uma fala concisa, com argumentos consistentes, evitando gírias ou vícios de linguagem. Quem presta atenção a esses detalhes tem muito mais facilidade de se relacionar, à medida que consegue expressar exatamente o que sente, suas necessidades e desejos.
Além disso, é importante investir na capacidade de perceber e ouvir as pessoas. Assim, também ficará mais fácil compreender quais os anseios de quem está do outro lado. “A boa comunicação nos aproxima das pessoas, nos conecta e ainda contribui para diminuir muito os conflitos da convivência”, garante Eunice.
A comunicadora acrescenta que no campo profissional também sai ganhando quem tem o que dizer e sabe como compartilhar seus pontos de vista. “Hoje mais do que nunca as organizações buscam profissionais que sejam competentes tecnicamente, mas que também tenham habilidades de comunicação e expressão”, afirma. Eunice ressalta que as pessoas terão que trabalhar em equipe e liderar utilizando a inteligência emocional. “Em outras palavras, é por meio do diálogo que eles deverão criar um ambiente positivo, aliado à produtividade”, finaliza.
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