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Para se desenvolver, prematuro requer vigilância ainda mais atenta

Quanto mais cedo ocorrer o nascimento e quanto menor for o peso da criança, mais riscos há - Thinkstock
Quanto mais cedo ocorrer o nascimento e quanto menor for o peso da criança, mais riscos há Imagem: Thinkstock

Sheila Fernandes

Do UOL, em São Paulo

04/06/2013 08h05

Depois do parto, chegar em casa com o bebê nos braços é descobrir um novo mundo e aprender a lidar com ele. E, quando o recém-nascido é prematuro, os cuidados precisam ser redobrados para evitar qualquer tipo de impacto negativo no futuro da criança.

Qualquer bebê nascido antes de completar 37 semanas e com peso inferior a 2.500 gramas é considerado prematuro. Quanto mais cedo ocorrer o nascimento e quanto menor for o peso da criança, mais riscos há para seu desenvolvimento.

De acordo com Ana Lúcia Goulart, pediatra neonatal e coordenadora do ambulatório da Casa do Prematuro do Hospital São Paulo, vinculado à Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), vários fatores são responsáveis pela prematuridade, entre eles, a ausência de pré-natal ou acompanhamento médico inadequado, a idade materna avançada e doenças comuns na gestação, como diabetes, hipertensão e infecção urinária.

“No Brasil, em média, 8% das crianças nascem antes do tempo. Nos Estados Unidos, o índice de prematuridade é ainda maior e chega a 12%. Esse é um problema de saúde pública que preocupa muito o mundo todo. Essas crianças precisam de atenção especial”, diz Ana Lúcia.

Para controlar os problemas gerados pela prematuridade, os primeiros dias e meses do bebê têm de ser acompanhados por uma equipe multidisciplinar de especialistas. É nesse período que problemas respiratórios, cardiovasculares e até hemorragia craniana podem aparecer.

A gravidez semana a semana

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“Os bebês estão completamente prontos na 40ª semana. Por isso, quanto maior o número de semanas dentro do útero, mais tempo ele tem para se desenvolver. Muitas das conexões cerebrais são formadas ainda lá dentro e o pulmão só amadurece nas últimas semanas intrauterinas”, declara a pediatra neonatal Alice Deutsch, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.

Em casa

Assim como o bebê prematuro precisa aprender a respirar, a sugar e a deglutir o leite materno, os pais e mães também têm uma série de lições que precisam ser aplicadas quando deixam o hospital e vão para casa com o filho. São ações simples, mas que podem garantir a saúde da criança.

Como qualquer outro recém-nascido, o prematuro não está com seu sistema imunológico totalmente formado e, sendo mais suscetível a doenças, a primeira coisa a fazer é tirar do quarto do bebê e da casa qualquer objeto com pelos ou que possa juntar poeira, como bichos de pelúcia e tapetes.

Em alguns casos, deve-se evitar o convívio com animais de estimação. Os ambientes da casa devem ser constantemente higienizados, e não se deve fumar dentro dela ou próximo da criança.

Os pais ainda devem evitar visitas, pelo menos, nos três primeiros meses do filho e não levá-lo para locais com aglomeração de pessoas, onde há vírus e bactérias de todo tipo e que o organismo do bebê ainda não está preparado para enfrentar.

Acompanhamento médico

Segundo o manual técnico do Ministério da Saúde "Atenção Humanizada ao Recém-Nascido de Baixo Peso - Método Canguru", são sugeridas, após a alta hospitalar, três consultas com um pediatra na primeira semana, duas na segunda semana e uma consulta semanal a partir da terceira semana em casa até que o bebê atinja 2.500 g. Mas é preciso avaliar caso a caso.

“A frequência de visitas ao pediatra varia de criança para criança, talvez seja maior em alguns prematuros, mas isso vai depender de como a criança se comportou nos seus primeiros dias e de como se deram sua complicações”, afirma a neonatologista Alice Deutsch.
 
Em geral, a primeira visita do bebê ao pediatra acontece nos primeiros dias após deixar o hospital. No primeiro ano, a periodicidade deve ser mensal. Depois passa a ser trimestral até os 18 meses. A partir dessa idade, a mãe deve levar a criança ao pediatra a cada seis meses até que ela tenha cinco anos. Dessa idade em diante, a consulta é anual.


É o pediatra também quem avaliará para quais especialistas o prematuro precisará ser encaminhado. Os mais comuns são fisioterapeuta (para estímulo motor, neurológico e fortalecimento da musculatura) e fonoaudiólogo (para avaliação do processo de sucção e deglutição das crianças que ficaram entubadas com ventilação mecânica). Ainda é recomendável que os prematuros passem também por neurologista, oftalmologista e nutricionista.


A saúde do prematuro

O acompanhamento médico pós-hospital é importante para evitar sequelas graves nos bebês prematuros. É comum que eles apresentem problemas referentes ao desenvolvimento motor, auditivo e de linguagem. A pediatra Ana Lúcia Goulart afirma que o atraso se dá porque a idade cronológica deles é diferente de um bebê nascido a termo (a partir da 38ª semana de gestação).

Os prematuros podem ter baixa estatura e estão mais propensos a doenças pulmonares, oftalmológicas, como miopia e estrabismo, e comportamentais, como hiperatividade. É também preciso um olhar mais cuidadoso para a alimentação desses bebês.

“O ganho de peso excessivo e precoce no recém-nascido prematuro aumenta o risco de que ele desenvolva doenças metabólicas na vida adulta, como obesidade, hipertensão arterial, resistência à insulina, que origina o diabetes e doenças cardiovasculares. Ele não pode ganhar um quilo por mês quando deixa o hospital. O adequado é que o peso do bebê aumente respeitando o tamanho com o qual ele nasceu”, diz a neonatologista Luciana de Carvalho, da equipe de maternidade da Faculdade de Medicina da USP.

Idade corrigida

Uma das dúvidas mais frequentes entre mães com bebês prematuros é quando o desenvolvimento do filho vai se equiparar ao de uma criança nascida a termo. De acordo com as pediatras entrevistadas nesta reportagem, a readequação de peso e de tamanho acontece, em geral, aos dois anos de idade.

Até lá, os médicos utilizam um gráfico de crescimento que serve de parâmetro para acompanhar a evolução do prematuro e chamam esse período de idade corrigida. “O ideal é que o bebê nasça na 40ª semana, é o que chamamos de marco zero. Se a criança nascer, por exemplo, na 32ª semana, ela terá oito semanas de atraso. Quando ela completar quatro meses de vida, terá dois meses na idade corrigida, ou seja, é natural que avaliemos o comportamento desse bebê com um de dois meses”, declara a pediatra neonatologista Luciana de Carvalho.

Pele com pele

O Método Canguru –em que o recém-nascido de baixo peso é mantido com pouca roupa, na posição vertical, preso por uma faixa de tecido contra o peito do adulto– é reconhecido pelo Ministério da Saúde do Brasil como política fundamental de atenção ao recém-nascido prematuro.

A posição canguru foi criada em 1979 na Colômbia para combater a elevada taxa de mortalidade neonatal desse país. A técnica é iniciada no hospital e deve ser continuada em casa após a alta.

Abaixo, alguns dos benefícios do método, segundo o Ministério da Saúde:

- Aumenta o vínculo entre mãe e filho;

- Melhora o desenvolvimento neurocomportamental e psicoafetivo do recém-nascido de baixo peso/prematuro;

- Favorece o aleitamento materno;

- Permite controle térmico adequado (devido à fina espessura da sua pele, o prematuro tem mais dificuldade para regular sua temperatura);

- Favorece estimulação sensorial adequada;

- Diminuição dos casos de reinternação do bebê após a alta da maternidade.