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Quer que seu filho fale outra língua? Saiba como estimular o aprendizado

Para as crianças aprenderem, o método precisa ser lúdico e os pais devem esquecer as cobranças - Thinkstock
Para as crianças aprenderem, o método precisa ser lúdico e os pais devem esquecer as cobranças Imagem: Thinkstock

Catarina Arimatéia

Do UOL, em São Paulo

16/01/2013 07h05

Em um mundo cada vez mais globalizado e poliglota, uma das dúvidas mais frequentes dos pais é sobre reconhecer o melhor momento para matricular o filho em um curso para aprender outro idioma.

Para Fraulein Vidigal de Paula, professora e doutora do Departamento de Psicologia da Aprendizagem, do Desenvolvimento e da Personalidade, do Instituto de Psicologia da USP (Universidade de São Paulo, se criada em um ambiente bilíngue, a criança está apta a aprender desde seu nascimento.

Caso contrário, segundo a especialista, é importante aguardar que ela se expresse bem, compondo frases e demonstrando um bom vocabulário na língua nativa para que possa se beneficiar do ensino de um segundo idioma.

Os sons e os bebês

Se você e seu parceiro ou parceira são fluentes em outra língua além do português, devem tirar proveito disso em casa desde cedo.

“Bebês são capazes de distinguir qualquer som. O bebê japonês, por exemplo, distingue perfeitamente a diferença entre as letras ‘R’ e ‘L’, embora o japonês adulto tenha dificuldade em fazê-lo. Mas essa capacidade começa a diminuir gradativamente a partir do primeiro ano de idade.

Até os sete, as crianças são capazes de adquirir uma segunda língua com extrema facilidade. Quando o pai é falante nativo de uma língua e a mãe de outra, é recomendável que cada um deles utilize sua língua materna quando se dirigirem ao bebê", afirma Sandra Madureira, coordenadora do Laboratório Integrado de Análise Acústica e Cognição da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).


Sem cobranças

Ao optar por colocar o filho para aprender outro idioma, os adultos precisam estar cientes de que os métodos de ensino devem ser lúdicos. "E, principalmente, sem cobrança de resultados", diz Luzia Flávia Coelho Scaramuzza, especialista em neuropsicologia e mestre em ciências do Departamento de Psicobiologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

De acordo com a psicopedagoga Maria Fernanda Coelho da Fonseca, a aprendizagem de uma segunda língua na educação infantil deve ser como uma música agradável aos ouvidos. Ela deve possibilitar o desenvolvimento social e da linguagem oral, mesmo que nesse período não se faça uso da escrita.

Melhor aproveitamento

Se desde o nascimento é possível se comunicar com um bebê em duas línguas, é entre seis e dez anos que a criança passa a reter melhor o aprendizado. "Depende, claro, do amadurecimento de cada um. Mas o pico é justamente nesse período de alfabetização", declara a neuropsicóloga Luzia Flávia.

Sandra Madureira afirma que a retenção do que for ensinado depende muito da continuidade da exposição da criança à segunda língua. Para a especialista, quanto maior ela for, mais condições tem de aprender um novo idioma.

"A criança mais velha dispõe de mais recursos cognitivos, afetivos e sociais para compreender um segundo idioma e utilizar seu conhecimento. Outra vantagem é que ela está mais atenta a atividades que podem ajudar no aprendizado, como músicas, filmes, livros", diz Fraulein, da USP.

Confusão de línguas

Uma preocupação frequente de pais de filhos menores de quatro anos é se eles vão confundir as duas línguas faladas: o português e o idioma ensinado.

"As pessoas consideram que há confusão quando a criança mistura palavras da língua materna e da segunda língua, só que isso faz parte do processo de aquisição de um novo idioma. Com o passar do tempo, essa tendência diminui e a criança começa a utilizar uma das línguas dependendo do interlocutor ou do assunto. E também devemos lembrar que palavras de uma língua incorporadas a outra ocorrem normalmente na fala bilíngue", afirma Sandra Madureira.

Segundo Maria Lúcia Coelho Martinez, coordenadora de cursos para crianças e adolescentes de uma escola de idiomas em São Paulo, um fenômeno comum e que permanece na fala do bilíngue é o "code switching", ou seja, a capacidade de passar de uma língua para outra, processo considerado normal.

Aproveitamento escolar

É mito ou verdade que as crianças que falam mais de uma língua se saem melhor em outras matérias na escola? Para Fraulein Vidigal de Paula, há evidências de que crianças e adolescentes bilíngues apresentam melhor desempenho em atividades que exigem criatividade verbal e atenção seletiva.

"Eles são capazes de conceber que há mais de um modo de expressar o mesmo conhecimento e intenções com palavras e construções diferentes", diz Fraulein. Sandra Madureira também afirma que as crianças bilíngues apresentam facilidade de comunicação.

Mas, para a neuropsicóloga Luzia Flávia, um fator não está necessariamente ligado a outro. "Sair-se bem em outras matérias depende do desempenho geral da criança e não do aprendizado da segunda língua. Muitos fatores podem ser considerados para que a criança apresente bom rendimento escolar, tais como boa adaptação com o método de ensino e com a escola, ambiente familiar que propicie descobertas e boas condições emocionais".

O papel dos pais

A neuropsicóloga Luiza Flávia, da Unifesp, sugere que os pais aproveitem a situação de aprendizagem da nova língua para realizar experiências prazerosas para a criança e a família.

"Caso os pais falem a língua que a criança esteja aprendendo, podem programar atividades em comum. Por exemplo, assistir a um filme no idioma que está sendo estudado, ir a um restaurante que tenha o cardápio nessa mesma língua ou colocar em prática uma receita culinária traduzindo os ingredientes para o filho".

Todos os especialistas concordam que demonstrar interesse pelo aprendizado do filho é fundamental. "Os pais devem sempre valorizar o uso que a criança fizer de seu conhecimento e chamar a atenção para situações em que a língua estiver presente, mas sem cobranças e estimulações excessivas, que podem levar o filho a perder o interesse e a perceber o novo idioma como algo enfadonho e meramente obrigatório", declara Fraulein Vidigal de Paula, do Instituto de Psicologia da USP.