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Vergonha dos pais é comum, mas nem sempre deve ser tolerada

Tratando o filho como um bebê, os pais podem estar colaborando para que ele se afaste - Thinkstock
Tratando o filho como um bebê, os pais podem estar colaborando para que ele se afaste Imagem: Thinkstock

Por Louise Vernier e Thaís Macena

Do UOL, em São Paulo

09/01/2013 07h05

É comum ouvir os jovens pedirem aos pais para não os deixarem em frente ao portão da escola ou da festa dos amigos. O comportamento é típico da fase e tem a ver com o medo de que os adultos não se comportem adequadamente na frente da turma, o que pode torná-los motivo de chacota. “Nesse sentido, a distância que o adolescente estabelece serve apenas para evitar acontecimentos constrangedores para ambas as partes”, afirma a psicóloga Jane Felipe, professora da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).

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A vergonha da família também pode ser fruto da sensação de que os pais são inferiores aos amigos em alguns aspectos, como a condição econômica ou cultural. “À medida que o adolescente vai notando as diferenças, a partir do contato com outras realidades, ele pode começar a negar suas origens”, diz Jane.

Além disso, o desejo do jovem de se mostrar mais independente, de se afastar tanto quanto possível da imagem da criança que necessita da proteção dos adultos, pode estar motivando esse tipo de atitude.

De qualquer forma, é válido que os pais analisem se não estão dando motivo para o comportamento arredio do adolescente. “Muitos querem bancar os engraçadinhos na frente dos amigos do filho. Outros tratam o jovem como se fosse um bebê. Agindo assim, eles o deixam em uma situação realmente difícil diante da turma, sem perceber ou mesmo sem ter a menor intenção de prejudicá-lo”, fala Jane.


Segundo Marina Vasconcellos, terapeuta familiar, pais que bebem em excesso, vestem-se de maneira chamativa ou tentam reproduzir comportamentos típicos dos filhos adolescentes, frequentando as mesmas festinhas, por exemplo, costumam incomodar e constranger os mais jovens.

“A orientação é a de que os adultos da casa não se comportem como amigos, mas sim como pais, o que de fato são. Manter uma distância necessária e saudável do filho é válido”, declara a psicóloga Adela Stoppel de Gueller, coordenadora e professora do curso de formação em psicanálise da criança do Instituto Sedes Sapientiae.

Tira-dúvidas

Há ainda pais que, apesar de manterem uma postura discreta e respeitosa, passam a ser evitados pelos filhos quando estes estão com os amigos. Nesse caso, o melhor a fazer é sentar para uma boa conversa, principalmente se os adultos estão incomodados com a atitude do adolescente. “Essa é a oportunidade de um dizer ao outro como se sente nessas situações”, afirma a psiquiatra Ivete Gattás, coordenadora da Unidade de Psiquiatria da Infância e Adolescência da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

O ideal é buscar um entendimento entre as partes. O que não significa, no entanto, que os pais devam sempre ceder, mesmo compreendendo e aceitando os motivos dos filhos. Para os especialistas, é necessário impor limites para educar e transmitir valores.

“Se a vergonha dos filhos está ligada à questão financeira, por exemplo, os pais têm de explicar que não poderão se esconder para sempre. Devem ainda aproveitar o gancho para ter uma conversa franca sobre a importância do ter e do ser, ensinando ao adolescente que o dinheiro não é um valor supremo, mas que ações sociais e comportamentos éticos também podem ser considerados triunfos que os pais têm para mostrar e dos quais o filho pode se orgulhar”, diz Adela.