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Para dispensar babá como Kate Middleton, é preciso apoio familiar e jogo de cintura

Kate Middleton já teria avisado ao marido, o príncipe William, que pretende cuidar do filho deles sem babá - Facundo Arrizabalaga/Efe
Kate Middleton já teria avisado ao marido, o príncipe William, que pretende cuidar do filho deles sem babá Imagem: Facundo Arrizabalaga/Efe

Juliana Zambelo*

Do UOL, em São Paulo

10/12/2012 07h07


Desde o dia 3 de dezembro, quando foi feito o anúncio de que Kate Middleton está grávida do primeiro filho, todos os aspectos do novo membro da família real britânica vêm sendo discutidos na imprensa do mundo inteiro. Uma das especulações que veio à tona primeiro diz respeito aos cuidados com o bebê logo após seu nascimento. Segundo o site americano "The Daily Beast", a duquesa de Cambridge teria afirmado à família que irá dispensar a ajuda de babás na criação da criança até a idade escolar.

Para se dedicar à criança, Kate deve diminuir consideravelmente suas aparições públicas oficiais durante esse período e, ainda de acordo com o site, teria o apoio do príncipe William, seu marido, na decisão.

Abrir mão de ajuda profissional nos primeiros anos do filho, tendo condições financeiras para bancá-la, não é uma unanimidade entre as novas mães, mas tem sido um caminho para algumas delas. "Pode causar estranheza [não ter babá podendo pagar pelo serviço], mas é uma escolha legítima querer que o filho seja só seu nesse começo de vida", afirma a psicóloga Ana Merzel Kernkraut, coordenadora do serviço de psicologia do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.

Para a arquiteta Janaina Medina, foi uma decisão "instintiva", provocada por uma dificuldade em confiar os cuidados com sua filha a outras pessoas. "Pode ser radical e superprotetor, mas não é maldoso. Sei que há profissionais excepcionais, tanto babás quanto em berçários, mas, naquele momento, meu coração não permitiu".

Janaina diz que se preparou financeiramente para não ter emprego fixo durante o primeiro ano de vida de sua bebê, aceitando assumir nesse período apenas projetos que pudesse fazer de casa. Os trabalhos como autônoma eram, em geral, realizados à noite, enquanto a menina dormia. Quando precisava visitar uma obra, deixava a filha sob os cuidados da avó. "Minha mãe é meu braço direito", afirma. Nas tarefas domésticas, a arquiteta teve sempre a ajuda de uma empregada. "Vejo o quanto as babás facilitam a vida de muitas amigas, mas prefiro ter uma vida menos facilitada e estar sempre alerta. O limite entre uma babá que ajuda e uma que cria me assusta muito".

A empresária carioca Camila Perlingeiro também teve uma empregada e uma base familiar sólida no primeiro ano de vida de sua filha para não recorrer aos serviços de babás. No seu caso, a escolha foi uma questão de preservação do seu próprio espaço dentro de casa. "Tenho uma certa agonia de falta de privacidade. Eu e meu marido gostamos de chegar em casa e ficar à vontade", fala.

Camila não parou de trabalhar e afirma que, nos primeiros meses, adaptou-se bem à rotina. "Ela mamava de três em três horas feito um relógio, e, no resto do tempo, ficava me olhando ou dormindo enquanto eu trabalhava. Ela foi um bebê tranquilo e isso ajudou", conta. Ter a possibilidade de fazer seu próprio horário de trabalho, sem patrão ou cartão de ponto, contaram muito nessa hora. "Se a noite tinha sido difícil, eu podia dormir durante o dia".

A partir do quinto mês, no entanto, a filha começou a exigir mais atenção e a vontade de investir mais tempo no seu trabalho foi aumentando. No décimo mês após dar à luz, Camila matriculou a menina em uma creche e voltou ao escritório.


Culpa

Para a psicóloga Anna Mehoudar, fundadora do Gamp (Grupo de Apoio a Maternidade e Paternidade) e autora do guia "Da Gravidez aos Cuidados com o Bebê" (Ed. Summus), a questão da escolha entre trabalho e maternidade é o grande dilema da mulher contemporânea. "Até a década de 1970, a maioria das mulheres se realizava ficando em casa. Hoje, não. Exige-se dela uma dedicação muito grande à carreira, em trabalhos que não têm hora para terminar, e, além disso, ela precisa ser boa mãe e mulher".

Segundo a especialista, no Brasil, é comum mulheres com baixo poder aquisitivo decidirem parar de trabalhar, após se tornarem mães, por não terem como arcar com os custos de uma creche ou cuidadora.

Entre as mães de primeira viagem com condições financeiras de ter uma ajudante em casa, a decisão de deixar o emprego é baseada em suposições, de acordo com a psicóloga. "Elas fazem opções antecipando o cenário, tentando imaginar como será, acreditam que vão gostar de ficar em casa, mas, às vezes, não gostam". O desejo de voltar ao trabalho pode, então, gerar um forte sentimento de culpa.

De acordo com Ana Merzel Kernkraut, rever a decisão de não ter babá não pode ser um problema para a mulher ao se sentir sobrecarregada ou com vontade de retomar o ritmo de trabalho de antes da gravidez. "Voltar atrás é possível. Se cuidar do filho sem prazer, não fará bem-feito. Crianças absorvem tudo a sua volta. E qual será a sensação que ele sentirá? Que sua companhia não é boa".

A designer Carol Troque trabalhava em uma multinacional e, dois anos antes de engravidar, mudou-se para uma empresa menor e com ritmo de trabalho mais leve para começar a se adaptar a uma nova vida.  Quando o filho nasceu, deixou o trabalho definitivamente.

"Não queria que meu filho fosse cuidado por uma babá, em uma creche nem pela avó", diz. "Mas quando ele tinha nove meses, vi que a vida de mãe não é um conto de fadas. Não conversava com ninguém. Mesmo inventando coisas para fazer, como ir ao cinema, vi que não era suficiente. Precisava de um tempo para mim, para pensar, para fazer coisas de adultos e ganhar meu dinheiro". Hoje, seu filho está com quase dois anos e frequenta uma escola em regime de meio período, enquanto Carol se dedica a novos trabalhos, executados em casa.

Para a psicóloga Anna Mehoudar, uma mudança de opinião e de postura como essa faz parte do amadurecimento da mãe e, se acontecer, deve ser colocada em prática sem culpa. "A mãe vai se construindo à medida que o filho cresce e as escolhas não precisam ser definitivas. Se a mulher percebe que a opção que fez não está legal, pode voltar atrás, reconsiderar e seguir em frente", afirma.

Janaina Medina está se preparando para enfrentar um novo rumo. Com a filha mais crescida, hoje com um ano e dois meses, a arquiteta planeja investir em um negócio próprio, em casa, em 2013. "No final do próximo ano, faço um novo balanço e resolvo se continuo assim ou volto à rotina de funcionária. E minha filha vai para a escola".

*Colaborou Adriana Nogueira