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Saiba como agir quando chega a hora de assumir a responsabilidade pelos pais idosos

Dar assistência ao idoso sem tirá-lo da casa dele é a alternativa mais recomendada por especialistas - Thinkstock
Dar assistência ao idoso sem tirá-lo da casa dele é a alternativa mais recomendada por especialistas Imagem: Thinkstock

Katia Abreu

Do UOL, em São Paulo

25/10/2012 07h05

Além de alimento e abrigo, ao longo da vida os pais dão apoio e segurança para enfrentarmos o mundo e nos tornarmos independentes. Crescemos com este referencial e nos acostumamos à ideia de que eles sempre estarão prontos para nos ajudar. Mas, com o aumento da expectativa de vida, cedo ou tarde essa situação se inverterá.

Segundo dados do Censo 2010 do IBGE (Instituo Brasileiro de Geografia e Estatísticas), a expectativa de vida do brasileiro aumentou 25,4 anos no período entre 1960 e 2010, passando de 48 para 73,4 anos. A projeção é de chegar a 80 anos em 2040.

"Como as pessoas vivem mais, em algum momento elas vão precisar de alguém para auxiliá-las em atividades que antes faziam sozinhas. Não existe idade para isso. É a diminuição ou perda da capacidade funcional que mostrará essa necessidade", afirma Naira Dutra Lemos, assistente social especialista em gerontologia e coordenadora do Programa de Assistência Domiciliária ao Idoso da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). 
 
Essa inversão de papéis é delicada para todos. Se, por um lado, o filho se sente pressionado por ter de lidar com novas responsabilidades, os pais também não ficam à vontade frente sua dependência. "É duro para os pais que sempre cuidaram dos filhos e passam a receber ordens deles. Machuca muito. E há uma geração de velhos que teve uma educação diferente. É complicado quando o idoso passa a ter de usar fralda e a filha o troca, mas ela nunca tinha visto o pai nu", exemplifica Ursula Karsch, assistente social do programa de pós-graduação em Gerontologia da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).
 

Laços familiares 

 
Quem teve pais presentes e carinhosos, naturalmente, terá mais proximidade e cuidados com eles no final da vida. "É diferente para filhos que tiveram pais ausentes. Isso gera sentimentos muito conflitantes: frustração, culpa, cansaço, desgaste e, às vezes, raiva", diz Andrea Prates, geriatra e gerontóloga que coordena o CIES (Centro Internacional de Informação para o Envelhecimento Saudável).

Para ajudar a mediar esta relação, pais e filhos podem recorrer a terapeutas e assistentes sociais indicados por serviços de acompanhamento de saúde dos idosos. "É possível amenizar a situação e reorganizar os papéis na família, mas os laços familiares, a forma como eles foram construídos ao longo da vida, influenciará muito", afirma Naira.
 
Dorli Kamkhagi, psicanalista do Programa de Psicogeriatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), afirma que, em uma relação entre pais e filhos, os espaços de ambos sempre devem ser respeitados. "É importante detectar até onde o idoso está realmente precisando de ajuda ou se é o filho que está aflito. Muitas pessoas vivem sozinhas e bem até o fim da vida". 

Moradia como referência

A mudança de casa é o maior dilema a ser enfrentado. Os especialistas recomendam que, a não ser que seja necessário, o idoso seja mantido em sua própria casa, pois o local onde ele passou boa parte da vida é uma referência espacial e afetiva fundamental. "Em geral, o idoso prefere ficar na sua casa com alguém que cuide dele", diz Ursula. Naira, do Programa de Assistência Domiciliária ao Idoso da Unifesp, concorda e afirma, ainda, que é muito ruim quando os idosos precisam ficar uma semana na casa de cada filho. Eles precisam ter um lugar fixo para morar. 
 

Cuidado gradual

 
Há vários tipos de cuidados que podem ser oferecidos aos poucos e ajudam a estabelecer uma relação de proximidade, sem invadir tanto a vida do idoso e privá-lo de sua autonomia. "É o que se chama de ‘intimidade à distância’. O filho pode ir à casa dos pais todos os dias, olhar o que está faltando, levar ao médico etc. Não mora junto, mas frequenta a casa como se morasse. É uma assistência fundamental", explica Úrsula Karsch, do programa de pós-graduação em Gerontologia da PUC-SP. 
 
Outra medida importante que os filhos devem tomar é ter atenção a detalhes que possam gerar riscos, como tapetes, pisos escorregadios, móveis que podem causar acidentes. Também é necessário verificar se os pais precisam de auxílio nas atividades cotidianas: "Às vezes, eles acabam se alimentando daquilo que é mais fácil ou não tomam os remédios na hora certa, ou porque não se lembram ou porque ‘acham melhor’ tomar todos juntos", conta Naira. Se esse tipo de coisa acontece, os filhos precisam pensar em um esquema para que os pais estabeleçam uma rotina adequada e que não seja prejudicial à saúde.
 
Para a geriatra Andrea Prates, é fundamental ter informação sobre o processo de envelhecimento para compreender os sinais de dependência e lidar melhor com esse momento: "O que está previsto para acontecer de acordo com a idade e o que é um comportamento patológico? É importante se informar para se prevenir e estar atento a qualquer sinal ou sintoma. Pode ser que aconteça alguma coisa de forma súbita,como receber um telefonema falando que seu pai caiu ou sofreu um derrame, ou gradual, como problemas para lidar com dinheiro, passar a ficar mais sonolento e não conseguir dar conta das tarefas domésticas".

 Rede de apoio

 
Quando pais e filhos vivem muito distantes uns dos outros este acompanhamento aos cuidados diários fica prejudicado. "Geralmente, o encaminhamento nestes casos é pagar alguém para prestar essa assistência ou pedir ajuda a alguém de muita confiança --um parente, amigo, vizinho", de acordo com a assistente social Ursula.
 
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    Inversão de papeis é delicada para pais e filhos

A recomendação de montar uma rede de apoio também vale para quem vive próximo do idoso. "O cuidado sempre recai sobre um dos filhos. E esse papel é muito difícil e estressante. A pessoa precisa pedir ajuda. Tem de ser uma responsabilidade mais compartilhada entre as pessoas da família", segundo Andrea. 

Naira, que faz um trabalho de acompanhamento a cuidadores na Unifesp, diz que o cuidador precisa de cuidado também. "Ele tem uma sobrecarga física e emocional muito grande. É importante montar um esquema em que outras pessoas da família possam colaborar, para que o cuidador principal possa ter tempo para dedicar a si mesmo". 
 

Superproteção também é um risco

 
O cuidado excessivo também é um erro. "A superproteção adoece e envelhece o outro", diz a psicanalista Dorli Kamkhagi. Os filhos devem avaliar em quais tarefas os pais precisam de ajuda, mas sem assumir todas elas. 

"Às vezes, a vida dos pais só precisa de um novo arranjo. O idoso não consegue cortar um legume, mas consegue dobrar roupas ou preparar um bolo. O ideal é ajustar as atividades e permitir que os idosos executem aquelas que são capazes. Todo mundo gosta de se sentir útil", afirma Andrea.