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Antes de partir para o segundo filho, pondere sobre importantes questões

Ao mesmo tempo que quer um irmão, a criança ressente não ser mais o centro das atenções dos pais - Thinkstock
Ao mesmo tempo que quer um irmão, a criança ressente não ser mais o centro das atenções dos pais Imagem: Thinkstock

Rosana Faria de Freitas

Do UOL, em São Paulo

20/06/2012 07h20

Está aí um dilema que vem afligindo muitos casais nos últimos tempos: ter ou não o segundo filho? Principalmente no que se refere às mulheres, pois a maioria enfrenta jornada tripla e se vê às voltas com uma verdadeira ginástica diária para dar conta de família, trabalho e casa. "Hoje, além de se realizarem profissionalmente, as mulheres podem planejar a gravidez. Tal liberdade faz com que elas possam escolher parar no primeiro filho ou optar pela segunda gestação", diz Camila Flaborea, psiquiatra e mestre em psicologia pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).

Pesquisas apontam que a primeira alternativa é que tem dominado a cena nos últimos anos. De acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2010, a nova taxa de fecundidade é de 1,86 filho por mulher, contra 2,38 do ano 2000. "Tal declínio vem ocorrendo nas últimas décadas em todas as regiões e grupos sociais", explica a psiquiatra Yara Azevedo, mestre em psiquiatria pela FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo). Com ela concorda Bárbara Murayama, ginecologista e obstetra, acrescentando que os métodos anticoncepcionais de fácil acesso têm reduzido gestações indesejadas.

Só para se ter ideia da magnitude dessa mudança, nos anos 1990, uma em cada dez mães tinha apenas um filho; hoje, esse índice é de uma em cada três. "O fato de muitos casamentos terminarem antes de o primogênito completar três anos também colabora para isso. Não dá tempo para os cônjuges planejarem mais um filho. Sem falar que as uniões têm acontecido mais tarde, fazendo com que algumas mulheres cheguem ao relacionamento seguinte com idade avançada e sem condições de engravidar", diz Triana Portal, psicóloga clínica.

São muitas as questões para ponderar antes de ter mais um filho. UOL listou as principais:

Pensem bem no que vocês querem e não ajam por impulso. "O casal deve analisar desejos, possibilidades, limites. Aumentar a prole é uma decisão que passa não somente por uma escolha racional como também por uma vontade profunda", diz a psiquiatra Camila Flaborea. "Cada família deve analisar o que é melhor para seu núcleo. Se há dinheiro para criar o segundo filho, quanto tempo terão para se dedicar às crianças, quais suas prioridades de vida. É preciso pesar prós e contras e descobrir o que é viável dentro da sua realidade", diz Bárbara Murayama.

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    Decisão de ter o segundo filho não pode ser baseada no desejo do mais velho de ter um irmão


É imprescindível decidirem juntos. Além de não fazer milagres na relação conjugal, também não é bom ter outro filho para suprir a necessidade do segundo marido ou mulher nem atender ao pedido do primogênito que quer um irmão, segundo Triana Portal. Em qualquer circunstância, os dois lados devem ser ouvidos. Portanto, por mais que um sonhe com um bebê, tem de olhar para o lado e se certificar de que o outro também o quer. Assim, será mais fácil que os dois estejam envolvidos no processo e dividam tarefas harmoniosamente.

O aumento da família exige uma acomodação à nova realidade. "O bebê vai gerar tensão familiar, trazendo a necessidade de reformulação nos papéis de cada membro e nas regras de funcionamento. Todos devem estar conscientes dessa instabilidade, que é normal em momentos de transição", diz Camila. A dinâmica mudará e até as relações –do casal e dos pais com o primeiro filho– serão afetadas. Caso seja necessário, busque apoio nas áreas em que há dificuldade: ajuda psicológica, orientações alimentar, complementação financeira, auxílio nas tarefas domésticas e no cuidado com os filhos. 

Analise se dispõem de estrutura para receber outra criança. A chegada dela significará uma sobrecarga para os pais, o que é problemático se ambos trabalham fora. Além de espaço físico, vocês provavelmente precisarão de ajuda. É preciso estudar cada detalhe: se necessitarão contratar alguém para as tarefas domésticas, quem cuidará das crianças quando ambos se ausentarem. "Centros de saúde, berçários, creches, babá, vizinhos, amigos, avós: todos esses recursos podem ser cogitados", diz Alberto Jorge Guimarães, obstetra e mestre em ciências pela Escola Paulista de Medicina. Se o enxoval do primeiro filho estiver guardado, será um gasto a menos. 

Sejam práticos. Leve em conta até que ponto ter um segundo filho impactará na vida profissional de vocês. Há condições financeiras para encarar a nova empreitada? "Não podemos ter um filho abrindo mão de conquistas que não suportamos perder. No futuro, a conta acabará indo para a criança", diz Yara Azevedo. Bárbara Murayama recomenda pesar prioridades. "Há quem considere importante estudar em uma escola bilíngue ou fazer um intercâmbio. Vocês terão condições de bancar tais projetos para duas crianças? Se a resposta for 'não', o quanto isso os incomoda?"

Vocês têm tempo para se dedicar? Crianças precisam de atenção. Quando a segunda chegar, a primeira solicitará ainda mais os pais. Há espaço para elas na correria do cotidiano e diante dos desafios e objetivos pessoais e profissionais? "Há mulheres e homens que não deveriam ter sequer um filho. Seja porque a maternidade ou paternidade não é algo que lhes apetece ou por terem vidas incompatíveis com as demandas que a chegada de uma criança traz. Conceber um bebê pode ser um ato muito egoísta se não levarem em conta como será a vida dele, se terão condições materiais e pessoais de se doarem com amor e abnegação", diz Triana Portal. É bom pensar, também, que sobrará menos tempo para o casal. 

O filho de vocês ganhará um irmãozinho. Além de todo o afeto envolvido na relação dos irmãos, é inegável que aprender a dividir a atenção dos pais, o espaço, os brinquedos e tudo o mais é altamente benéfico. "Porém, se a decisão for pelo filho único, tudo ficará bem se explicarem para a criança suas razões e a cercarem de atenção e afeto", diz Bárbara. As cobranças e expectativas são menores para quem tem irmãos, pois a pressão é diluída entre eles –em vez de todo esse peso recair sobre um só.

A criança deseja um irmão e ao mesmo tempo se ressente. "É sempre um choque perder o reinado para o bebê que nasceu. Os pais precisam estar preparados e dispostos a conduzir bem a adaptação. Caso contrário, pode ter início uma longa jornada de dificuldades emocionais e de relacionamento", diz Triana. Alberto Jorge Guimarães acredita que ganhar um irmão é libertador. "O indivíduo sai da condição de intocável, tendo a possibilidade de compartilhar, esperar sua vez, desenvolver laços de amizade e companheirismo –e tudo isso sem a cobrança de perfeição, muitas vezes exercida por pais de filhos únicos."