Avós, babá, coleguinhas: como agir com quem deseduca seu filho?
Pode comer doce antes do almoço? Falar palavrão? Brincar de pula-pula no sofá? As respostas para essas questões –em geral, negativas– têm a função de indicar para a criança as regras estabelecidas pelos pais para sua educação. Assim, os "nãos" distribuídos por eles durante o crescimento do filho fazem parte de seu desenvolvimento.
Durante parte do cotidiano da criança, porém, os pais não estão presentes para vigiar ou reforçar essas regras, deixando-a vulnerável às influências daqueles que não compartilham dos mesmos hábitos da família. São coleguinhas de escola que têm uma criação diferente; tios ou avós que permitem que as regras sejam quebradas, e babás que não conseguem manter a rigidez dos pais, entre outros.
Diante dessa saraivada de influências, como os pais devem agir para impedir a "deseducação" das crianças? "Os pais precisam chamar a atenção dos filhos para aquilo com o qual não concordam e insistir no modelo certo", diz Cris Poli, educadora e conhecida por apresentar o programa "Supernanny", do SBT. A influência do mundo que rodeia a criança é forte, afirma a educadora, mas a educação dada em casa deve estar "enraizada no coração da criança". "Para isso, é preciso dar o exemplo, com firmeza, convicção e perseverança", diz.
As crianças conseguem, desde cedo, diferenciar contextos e aprendem que podem se comportar de formas diferentes com avós, babá ou amigos, diz a psicoterapeuta Maria Tereza Maldonado. Na medida em que a criança percebe que dentro de casa há regras a seguir, reforçam-se seus alicerces.
Por isso, em vez de impor regras a todo momento, o responsável pela criança deve ter em mente que não se pode proteger o filho contra tudo e a todo momento. "Os pais devem perceber que simplesmente não podem uniformizar o mundo", diz Maria Tereza, autora de “Comunicação Entre Pais e Filhos” (Ed. Integrare).
Lá pode e aqui não?
"Ou se ensina aos filhos que o mundo é diferente ou deixa-os numa redoma, sem sair de casa", afirma Rosely Sayão, autora de "Como Educar Meu Filho?" (Ed. Publifolha). Isso quer dizer que os pais não devem deixar os filhos à própria sorte, mas ter flexibilidade para dizer que lá, na casa dos avós ou na escola, pode, mas em casa não.
Além de administrar as influências externas, os pais também precisam acolher o resultado desse confronto de referências. Como reflexo de sua percepção de mundo, toda criança traz para o ambiente familiar argumentos contra as regras impostas pelos pais. Na casa da vovó pode, por que aqui não?, diz o filho.
Os pais devem estar preparados para explicar as leis que eles mesmo criaram, o que colabora para o desenvolvimento da criança. "O filho vai usar as regras que ele vê fora de casa contra os pais para argumentar, chantagear. Isso faz parte do crescimento", diz Maria Tereza Maldonado. É preciso ouvir a argumentação. Pode ser uma oportunidade, diz ela, para que os pais reflitam. "As crianças crescem rápido, e às vezes os pais não percebem que, com o passar dos anos, as leis viraram superproteção."
Com o aumento no número de separações nos últimos anos, a diferença entre o que diz o pai e o que diz a mãe também entrou em questão, visto que, afastados, os pais podem desenvolver critérios distintos para a educação da criança. Por isso, há casos em que, sempre que possível, vale buscar o consenso sobre comportamentos ou valores básicos.
Como lidar com as influências de...
Babá ou empregada
"Os pais são responsáveis pela educação dos filhos e são eles que devem dizer à babá ou empregada o que tem de ser feito", diz a educadora Cris Poli. Se as opiniões são divergentes, pode haver diálogo. Mas se os pais não concordam com a atitude da babá ou da empregada, devem substitui-la. "Sei que às vezes é difícil, mas o que está em jogo a educação dos filhos."
Avós e tios
Segundo Rosely Sayão, os pais não devem reclamar da relação de cumplicidade que se estabelece com avós e tios, muitas vezes baseada no rompimento de regras estabelecidas pelos pais. É preciso saber, afirma a especialista, que a responsabilidade de educar é exclusiva dos pais, mesmo quando os avós ou tios moram com a família ou tomam conta da criança em determinados períodos.
Coleguinhas
Se o filho foi visitar um amigo, os pais devem deixar que as coisas aconteçam naturalmente e observar as atitudes da família. "Se não for conveniente, impeça que o filho frequente a casa", diz Cris Poli. Mas se não for nada demais, uma mudança na rotina não faz mal. "O que foi aprendido e praticado na família é mais forte do que a experiência esporádica". Além disso, é importante que a criança saiba que em outros ambientes existem outras dinâmicas. Afinal, nem sempre a criança poderá agir como se estivesse em casa.
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