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"Fazer sacrifícios pelo outro tem um preço", diz autora do livro "A Metade Ideal"

Livro reúne 57 crônicas sobre relacionamentos - Divulgação
Livro reúne 57 crônicas sobre relacionamentos Imagem: Divulgação

Andrezza Czech

Do UOL, em São Paulo

09/05/2012 07h10

Ela já teve um namorado que tinha medo de baratas, concorda com a ideia de que uma mulher não resiste a um homem carente e acha deplorável o estereótipo que mostra a mulher como consumidora compulsiva, que pede o cartão de crédito do marido para gastar. Entre memórias da infância, relatos e confidências sobre sua família e relacionamentos, Judith Brito parece conversar e propor uma reflexão com um amigo nos textos de “A Metade Ideal – Crônicas sobre os Altos e Baixos do Amor” (Sá Editora). Depois dos livros “Mãe é Mãe” e “Ah! O Amor” (Publifolha), Judith reúne em sua nova publicação 57 crônicas curtas, ágeis, bem humoradas e reflexivas que produziu para o site Metade Ideal. O UOL Comportamento conversou com a autora sobre relacionamento, amor e os desejos de uma mulher, temas principais do livro que é lançado nessa quarta-feira (9), em São Paulo.

UOL Comportamento: Em seu livro, você critica a banalização dos dizeres “eu te amo”. Acredita que amar de verdade seja algo raro?
Judith Brito: Não digo que é raro, mas muitas vezes a verbalização é descolada dos conteúdos mais “nobres” da expressão. Amar não deveria ser apenas uma declaração da boca para fora, e sim carregar significados como o respeito ao outro, o compromisso de cumprir o que foi combinado, a capacidade de se colocar no lugar do parceiro e de querer seu bem. O que destaco com a questão da banalização é que a arte de amar algumas vezes é confundida só com a reles declaração. Amar é bem mais que isso.

UOL Comportamento: Você condena as relações “simbióticas” em seu texto. Acha que o segredo para um relacionamento duradouro é a individualidade?
Judith: Não condeno as relações simbióticas, apenas acho que é difícil que sejam saudáveis, especialmente nos dias de hoje. Já não somos mais “condenados” a viver no casamento “até que a morte nos separe”, e as mulheres são cada vez mais independentes do ponto de vista financeiro. Então, parece que o mais razoável para duas pessoas é encontrar formas de partilhar individualidades, tentando não abrir mão de hábitos e preferências particulares. Fazer sacrifícios pelo outro ou abdicar de carreiras tem um preço e, a longo prazo, a conta não fecha, a menos que ocorra uma negociação prévia.

UOL Comportamento: Acredita mesmo que as mulheres se sentem mais atraídas por homens carentes?
Judith: Algumas mulheres –e eu mesma já me peguei fazendo isso– têm a propensão a cuidar, proteger emocionalmente e querer “melhorar” o homem. Então, nesse mundo em que o homem não é mais “dono” da mulher, ele muitas vezes se vê em uma situação de fragilidade, e isso pode ser um fator de atração para as mulheres do tipo protetora.

UOL Comportamento: Em um relacionamento, o maior empecilho ao desejo do casal é a intimidade?
Judith: É sabido que o passar do tempo é um desafio para a manutenção da atração física. A paixão dura dois ou três anos, e é normal que o novo seja sempre mais misterioso e desejável do que o já conquistado. A intimidade que se estabelece com o tempo é ótima, mas pode contribuir para que deixe de existir o mistério e também o desejo. Então, uma pitada de privacidade pode ser uma ajuda para que o desejo permaneça.

UOL Comportamento: O livro conta que quando você engravidou pela segunda vez, questionou como conciliaria trabalho e família e se sentiu culpada por instantes. Acredita que o peso da culpa é um problema feminino, já que é comum que as mulheres se sintam mal por não conseguir dedicar o tempo necessário aos filhos, ao marido e ao trabalho? Como driblar essa sensação?
Judith: Antes a divisão de tarefas era simples: o sustento cabia ao homem, cuidar da casa e dos filhos cabia à mulher. Hoje, homens e mulheres têm o desafio de administrar o tempo e têm agendas sempre cheias: em geral ambos querem crescer na carreira e muitos também querem ter filhos -sem contar a academia, os encontros com os amigos, etc. Nessa medida, ambos sentem culpa pelo tanto que deixam de fazer, já que o tempo é finito. Mas a mulher carrega um piano maior, visto que a gravidez e a dedicação aos filhos recém-nascidos são atribuições não delegáveis. Então, é inevitável que a mulher ache que está perdendo pontos no trabalho e também falhando na atenção aos filhos. O que ameniza é entender que isso acontece e saber planejar bem essas fases de travessia, com suporte da família e da equipe profissional.

UOL Comportamento: Aproveitando o título de uma de suas crônicas, o que quer uma mulher hoje? 
Judith: A mulher quer tudo e mais um pouco, o que não é fácil. Mas acho que as mulheres vivem um tempo especial, de mudanças profundas nos costumes, o que tem permitido que elas lutem pelo que querem e, principalmente, recusem os papéis que não lhes interessem. Minhas avós não tinham escolha: não havia como cogitar fazer algo diferente do casamento, dever “obediência” ao marido e ter muitos filhos. Acho sensacional que a mulher possa escolher se quer casar (ou não) e ter filhos (ou não). Conheço várias que decidiram não ter filhos, e nem por isso são consideradas monstros. Ao contrário, são profissionais competentes. Isso garante felicidade? Não. Mas ao menos permite que as mulheres busquem a satisfação de forma mais aberta e variada nos diferentes momentos de sua vida.


“A Metade Ideal"
Sá Editora
Páginas: 189
Preço: R$ 17 (versão digital) e R$ 35 (impresso)