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Compartilhando informações na web, casal encontrou soluções para a reforma da casa

Living da casa em Palo Alto, cuja reforma inspirou a criação do site houzz.com, sobre arquitetura e decoração - Matthew Millman/The New York Times
Living da casa em Palo Alto, cuja reforma inspirou a criação do site houzz.com, sobre arquitetura e decoração Imagem: Matthew Millman/The New York Times

Steven Kurutz

Do The New York Times, em Palo Alto, Califórnia

15/04/2012 10h00

Palo Alto, Califórnia - A maioria das pessoas que se encarregam de uma reforma em casa sofre níveis variáveis de tensão financeira, sem contar o nó no estômago que sentem quando seus sonhos vão sendo lentamente esmagados pela realidade.

Adi Tatarko, 39, e seu marido Alon Cohen, 40, passaram por tudo isso, assim como pelas tão comuns discórdias de casal. Mas, para eles, a maior dificuldade foi conseguir transmitir as ideias a um arquiteto.

Depois de muita luta para descrever o que imaginavam, foram aconselhados a comprar livros e revistas e então separar imagens. Mas “aquilo não foi eficiente”, disse Tatarko, porque “não conseguimos encontrar imagens que mostrassem aos profissionais o que a gente queria.”

Por estarem no Vale do Silício, em 2009, Cohen - na época diretor de tecnologia do eBay - e Tatarko criaram uma plataforma online para resolver seus problemas: um site chamado Houzz, que exibiria o trabalho de arquitetos e outros profissionais do design para que os interessados em reformas tivessem acesso e pudessem se inspirar em imagens, muitas delas.

Eles pediram para alguns arquitetos conhecidos da região fazer o upload de seus portfólios e, logo, designers de outras cidades estavam fazendo o mesmo. 

Houzz, uma referência na rede

Três anos e dois financiamentos depois, o Houzz tornou-se uma das maiores fontes de casas de desejo do mundo, um website e um aplicativo para iPad que conectam arquitetos, empreiteiros e designers de interiores com proprietários interessados em reformar ou construir casas. 

Mais de 65 mil profissionais do design ao redor dos Estados Unidos fizeram o upload de mais de 365 mil fotos - e o número continua subindo -, criando assim um catálogo quase que sem fim de cozinhas inglesas e banheiros mediterrâneos, organizados por filtros como estilo, cor, materiais e região geográfica.    

Os fundadores do Houzz, sentados nos fundos de sua casa praticamente toda reformada, em um dia ensolarado de fevereiro, explicam como tudo começou, há pouco mais de cinco anos, com sua mudança para Palo Alto. 

 “A gente queria mudar para a Bay Area”, disse Cohen. “Alon queria mudar para a Bay Area”, corrige Tatarko. “Eu queria mudar para a Bay Area”, ele volta atrás. “Eu queria ficar em Nova York porque queria trabalhar em Wall Street”, disse Tatarko. “Veja quem venceu.” Cohen sorriu. “Pergunte para qualquer um, vão te contar uma outra história.”

O que nenhum dos dois discorda é que pouco depois de se mudarem, em 2006, eles compraram uma casa dos anos 1950 que precisava de muita reforma. “Conseguimos uma casa de 1955”, disse Tatarko;  "a cozinha, o banheiro… nada havia sido atualizado.”

A reforma, suas agruras e delícias

  • Matthew Millman/The New York Times

    Banheiro da suíte máster da casa em Palo Alto, dos criadores do site houzz.com sobre decoração

Agora eles podem falar a língua da reforma, mas no início Tatarko e Cohen penaram. Por três anos, depois de terem se mudado para a casa no Vale do Silício, eles mal trocavam lâmpadas, tendo que se virar com os ambientes pequenos e escuros, um teto com goteira e um banheiro cor-de-rosa para economizar.   

“Os orçamentos são muito importantes para uma reforma”, afirma Cohen. “Talvez para as pessoas envolvidas com o IPO do Facebook dinheiro não seja uma questão, mas para a maioria das pessoas ele é.”

Durante aquele período, o casal procurou um arquiteto que simpatizasse com sua visão e tentou esclarecer o que era aquele posicionamento, porque Cohen gosta de espaços modernos e sérios, enquanto Tatarko prefere interiores mais criativos.

“Achamos que seria divertido”, disse Tatarko sobre o processo de reforma. “Depois tivemos que encarar a realidade.”

Acabaram encontrando um arquiteto de quem gostaram, e traçaram um plano. Então, durante três meses, enquanto as áreas principais da casa estavam sendo mexidas, eles viveram na ala íntima com seus filhos, sem nem a cozinha funcionando.

“As pessoas nos perguntam se é difícil trabalharmos juntos”, conta Cohen. “A gente responde que isso não é nada se comparado a fazer uma reforma.”

Agora, claro, eles contam com os recursos do próprio website. Como os outros usuários do Houzz, eles podem criar “livros de ideias” com fotos que designers subiram ali e mandar por email seus “dilemas de design” para a comunidade do Houzz em busca de conselhos de profissionais e proprietários.

A casa em constante mudança

Recebendo e conduzindo o visitante pela sua casa, com sua grande e aberta área de estar e suas portas de vidro do tamanho de paredes, Tatarko e Cohen apontam ideias que surgiram no Houzz, como o assoalho negro na sala de estar e o lustre de bolhas sobre a mesa da sala de jantar.  

Quando o filho de 9 anos resolveu que não queria mais dividir o quarto com o irmão mais novo, Tatarko disse para os meninos procurarem no Houzz e escolherem as cores que queriam para os novos quartos. Para o banheiro principal, o casal contratou um designer local - que foi encontrado através do site - para consultas sobre acessórios e cores (louça branca e piso em um tom metálico com matizes).

“Esta casa é um projeto ainda em andamento”, disse Tatarko, explicando que o banheiro havia ficado pronto na semana anterior. “Por cuidarmos do Houzz, não temos tempo para lidar com isso.”

O site como empresa e ferramenta

A empresa hoje tem um staff de 26 pessoas, que trabalham de um pequeno escritório no centro de Palo Alto, em um espaço que já abrigou o servidor do Google. Em dezembro, Houzz obteve 11 milhões e 600 mil dólares em fundos adicionais e, recentemente, associou-se à [marca americana de materiais de construção] Lowe’s para fornecer conteúdo para o site e em uma promoção que daria de presente uma cozinha.

Algumas pessoas reclamaram do visual carregado do site, dificultando a busca, e do fato de ele ser limitado geograficamente (o site ainda trata principalmente de Estados Unidos e Canadá, mas começa a acrescentar novas cidades, como Londres). Ainda assim, o aplicativo para iPad do Houzz, que já teve mais de um milhão de downloads, é uma beleza – com resultados apresentados de forma simples e altamente viciante para os dependentes de design.

 “Sempre que temos um dia difícil, olhamos os reviews do aplicativo”, diz Cohen, acrescentando que o objetivo é transformar o site em algo tão agradável para o usuário quanto o aplicativo. 

OS CRIADORES DO SITE HOUZZ.COM DÃO DICAS PARA A SUA REFORMA:

RESPIRE FUNDO: Tatarko e Cohen trabalhavam juntos e fizeram a reforma juntos e dizem que reformar em conjunto é muito mais difícil. Tatarko sugere que os novos proprietários comecem devagar e “vivam na casa um pouco, antes de tomar decisões. Você acaba descobrindo muitas coisas depois de ter se mudado.”
SEJA REALISTA: quando pensaram na sala de estar, o casal levou em conta os dois filhos pequenos e criou um espaço aberto sem nenhuma decoração frágil. Eles aplicaram o mesmo realismo aos gastos. “Saiba exatamente qual o seu orçamento,” disse Cohen. “Depois envolva, desde cedo, todos os profissionais, para que todos trabalhem em cima deste planejamento”, conclui.
TRABALHE COM UM DEADLINE: o casal queria completar a primeira fase da reforma antes de oferecer o jantar da Páscoa Judaica para a família, que é grande, na nova sala de estar. “O empreiteiro saiu de nossa casa 12 horas antes de recebermos 25 convidados para o feriado”, conta Tatarko.
É UMA HISTÓRIA SEM FIM: tenha em mente que você nunca vai terminar, e que isso faz parte da diversão. Próximos passos do casal: refazer o paisagismo e a fachada da casa. O resultado de todas as reformas, e o compromisso do casal, “é que nós dois vivemos em uma casa que nos faz felizes”, disse Tatarko.

Apesar do aumento da exposição do Houzz, entretanto, seus fundadores permanecem com os pés no chão: no site não há nada como dicas ou fotos de sua própria casa. “Não se trata da nossa vida”, disse Tatarko. “Queríamos criar a plataforma certa para que todos pudessem entrar em contato entre si, independente de estilo ou orçamento.”

Cynthia Oviatt é um desses usuários. Ela encontrou o Houzz há dois anos - através de uma busca no Google -, na época em que construía uma casa de quatro quartos no estilo artesanal em Camas, Washington.  “Meu livro de ideias deve ter umas 300 ou 400 fotos”, disse Oviatt. “Entro ali todos os dias. É ridículo.”

Ver tantas imagens ajudou Cynthia a imaginar exatamente como queria que sua cozinha ficasse. “Consegui entender por que gostava de determinados layouts. Por exemplo, gostava quando a geladeira ficava mais no canto, sem ser o ponto principal da cozinha.”

Ela também encontrou seu designer de interiores, Garrison Hullinger, através da lista de contatos do site.

Como muitos designers profissionais, Hullinger enxerga o Houzz como uma valiosa ferramenta de marketing. O site fez com que sua empresa atingisse clientes além de Portland, no Oregon, cidade onde está sediado (ele estima conquistar dois ou três clientes por mês através da página), e perceber quais dos seus trabalhos as pessoas mais gostam – algo que frequentemente o surpreende.

Ele mencionou uma foto que publicou, de uma prateleira simples, com livros empilhados sobre uma cadeira logo abaixo. “Nunca imaginei que as pesoas fossem reagir àquela foto”, ele disse. “Mas ela já está em mais de 10 mil livros de ideias.”

Quanto a Tatarko e Cohen, o site parece encorajá-los a assumir novos projetos de reforma ao invés de acabar com a obra – algo pelo qual outros usuários do Houzz também passaram. Na lista de afazeres estão a atualização na fachada da casa, que é dos anos 1950, um novo paisagismo e a construção de um quarto de hóspedes.

“Agora temos mais de 800 opções para encontrar um arquiteto na região”, disse Tatarko.

Ela e o marido também estão montando seus livros de ideias no site, provavelmente para facilitar o diálogo na hora de fechar em algum plano e para comunicar melhor a quem quer que seja o contratado.

Sugerido que o processo de reforma teria sido mais tranquilo se Cohen fosse o tipo de homem que delega à esposa os assuntos relacionados a design.  “Adi não teve essa sorte”, brinca. “É verdade,” diz Tatarko. “Mas prefiro viver com alguém que se preocupa do que com quem não está nem aí.” Cohen riu. “Ela diz isso agora.”