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Bienal de Arquitetura de SP provoca debate sobre arte fora do museu e obras para uso coletivo

Exposição na nona Bienal Internacional de Arquitetura, na OCA, em São Paulo - Rafael Schimidt
Exposição na nona Bienal Internacional de Arquitetura, na OCA, em São Paulo Imagem: Rafael Schimidt

DANILO POVEZA

Colaboração para o UOL

23/11/2011 18h30

Sob a ótica de mostrar ao público soluções da arquitetura e do urbanismo que tornam as cidades mais bonitas e eficientes, a nona edição da Bienal Internacional de Arquitetura, fica aberta em São Paulo até 4 de dezembro. Projetos como o do Museu Porsche, na Alemanha, e da Sala Sinfônica para a Orquestra de Varsóvia, na Polônia, dividem os andares da OCA, no Parque Ibirapuera, com perspectivas de conjuntos habitacionais e estações de metrô que provocam o cidadão a refletir como seu cotidiano melhora a partir de boas iniciativas arquitetônicas.

“Arte Fora do Museu” e “New Practices” são duas exposições que integram a nonaBia e que mostram, justamente, o que é belo na cidade e quais escritórios estão no caminho desse urbanismo mais em sintonia com o bem-estar coletivo.

Felipe Lavignatti, realizador do “Arte Fora do Museu”, conversou com o UOL a respeito do projeto. Trata-se do mapeamento de edifícios, esculturas e grafites de São Paulo que são reconhecidamente marcos de vida moderna da cidade. Por meio de um site, o projeto publica fotos e a localização dessas 102 obras, acompanhadas por vídeos comentados por especialistas da área.

“Nossa intenção é mapear o maior número possível de cidades. Estamos em busca de financiamento para o segundo passo, começando por outras capitais”, explica Lavignatti.

Na Bienal está uma amostra deste catálogo, que vai desde edificações de Oscar Niemeyer, como o conjunto Eiffel (um dos primeiros apartamentos duplex da cidade), até um mural da dupla osgemeos, celebrados artistas brasileiros que fizeram no Anhangabaú um dos primeiros grafites gigantes da cidade. “Iniciativas como o 'Arte Fora do Museu' ajudam a preservar a memória para que obras de arte não desapareçam com a justificativa de deixar a cidade limpa. Qualquer morador de São Paulo acha mais bonito um pilar do Minhocão [como é popularmente chamado o Elevado Costa e Silva] com grafites do que com uma tinta marrom, por exemplo”, justifica.

Uso coletivo

  • Fernando Stankuns
  • Casa Oscar Americano, de projeto do arquiteto Oswaldo Bratke no bairro do Morumbi, em São Paulo

Estratégias que evidenciam como a arquitetura e o urbanismo colaboram na qualidade de vida das pessoas também são assunto da “New Practices”, exposição que é resultado do concurso com escritórios que apontam direções neste sentido. Sete foram escolhidos para apresentarem seus portfólios na Bienal. Entre eles, o 23 Graus Sul e o Vital dos Santos, para quem a reportagem perguntou o que elegeriam como verdadeiras obras de arte a céu aberto.

"Certamente o MuBe”, responde Yuri Vital, do escritório que leva seu sobrenome. “A simplicidade formal aliada a rica concepção de espaço o tornam uma obra incontestável”, explica. “Também o Pavilhão Oscar Americano, que consegue com poucos traços gerar uma beleza e perfeição difícil de encontrar por toda nossa cidade”, perfilando respectivamente as construções de 1988 e 1952, dos arquitetos Paulo Mendes da Rocha e Oswaldo Bratke.

Perguntado sobre qual caminho é importante para uma arquitetura que dialogue com o cidadão, justamente uma preocupação da Bienal, Yuri Vital diz acreditar na simplicidade, economia e funcionalidade. “Temos que pensar na arquitetura também com uma forma de mudar a cultura da população, criando uma cidade melhor e mais respeitável. O cidadão está cada vez mais individualista, cada um em seu mundo; temos que mudar isso."

  • Leonardo Wen/Folha
  • Vão livre do Masp, de Lina Bo Bardi

A observação sobre individualismo vai bem ao encontro do que o escritório 23 Sul aponta como fundamental nas obras que elege como arte fora do museu: “São importantes obras que convidem e estimulem as pessoas a saírem de suas casas, a se deslocarem pela cidade, a começarem a desmontar a mentalidade predominante de que a cidade é hostil, perigosa, feia". Neste sentido, o escritório elege a Marquise do Ibirapuera, feita por Oscar Niemeyer nos anos 50, e o Vão do Masp, da arquiteta Lina Bo Bardi, inaugurado em 1968. “Hoje, o Vão é ainda mais provocante, nesse momento de controle dos cidadãos e do uso da segurança como argumento para inviabilizar a presença da população nos espaços públicos."

Por enquanto, o “Arte Fora do Museu” não recebe sugestões de novas obras para incluir no catálogo, mas a mudança está prevista. “O projeto vem sendo elogiado e a única crítica é a falta de um espaço colaborativo. Pretendemos abrir espaço para  qualquer pessoa em qualquer parte do mundo enviar suas fotos das obras de arte em espaços públicos, ajudando a aumentar o catálogo virtual que estamos criando”, diz Lavignatti.


NONA EDIÇÃO DA BIENAL INTERNACIONAL DE ARQUITETURA DE SP
Exposição: de 2 de novembro a 4 de dezembro de 2011, ter a dom, 10h/ 22h, ingressos R$ 10
Onde: OCA (Parque do Ibirapuera. Av. Pedro Álvares Cabral, s/n - Ibirapuera, São Paulo)
Informações: (11) 5083-4264 ou www.nonabia.com.br