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"A vontade de posar de rico, faz as pessoas comprarem os piores sofás", diz Marcelo Rosenbaum no Bate-papo UOL

Da Redação

20/09/2007 22h57

O jornalista Marcelo Tas recebeu no Bate-papo com Convidados UOL desta quinta-feira (20) Marcelo Rosenbaum. Em conversa bastante franca, o arquiteto do programa "Caldeirão do Huck" disse que a vontade de "posar de rico", faz as pessoas comprarem os piores sofás.

Rosenbaum reafirmou que tem vontade de desenhar móveis para a Casas Bahia, mas nem por isso deixou de criticar a rede de lojas que considera um "banco". "Entendo que é uma das únicas maneiras que muita gente encontra para mobiliar suas casas. Mesmo que o móvel saia bastante caro, o esquema de crediário permite que a mensalidade caiba no bolso das pessoas".

Inspirado em especial pelo Japão e pela Alemanha, o arquiteto contou que admira a capacidade de improviso e adaptação que existem nas favelas e acredita que tudo isso mereça um estudo à parte. Rosenbaum também deu detalhes do quadro "Lar, Doce Lar" e confidenciou que quando começa a trabalhar num projeto, costuma gastar mais tempo pensando no banheiro e na cozinha, lugares que considera os mais importantes já que as pessoas costumam ficar bastante tempo nesses cômodos.

"Meu trabalho é personalizado. A questão não é julgar; é identificar. Tudo que faço é baseado em uma pesquisa que faço do ser humano. Assim, tento acertar as necessidades e características de cada família com meu trabalho", concluiu o convidado da revista "Trip".



Leia a seguir a íntegra do Bate-papo que contou com a participação de 1504 internautas.


(08:43:29) Marcelo Rosenbaum: É um prazer estar aqui...
(08:45:23) Marcelo Rosenbaum: Sobre o quadro "Lar, Doce Lar": temos uma equipe sensacional pronta para qualquer desafio e nós mostramos que ao integrar os ambientes a situação muda muito, traz uma dignidade para os participantes...

(08:45:39) Marcelo Tas: Rosenbaum, aparentemente vc é um cara que consegue aquilo que é o sonho de 10 entre 10 pessoas que passam pela fatídica reforma da casa: consegue terminar no prazo e gastando muito pouco dinheiro. Você confirma que isto é possível, meu caro?
(08:47:43) Marcelo Rosenbaum: São dez dias de reformas com uma equipe já acostumada a fazer este trabalho. Entramos quebrando parede, pintando e fazendo a parte elétrica. Tenho dois dias para resolver tudo, dar as idéias, sem margem de erro. Isto na vida real é impossível. A idéia do programa é esta rapidez e agora está ficando até fácil. Este programa é o sonho da casa própria do brasileiro, uma realidade de renovação.

(09:26:58) Geovanna/UOL:

Tas recebe o arquiteto do "Caldeirão do Huck", Marcelo Rosenbaum (Eduardo Piagentini/UOL)

(08:47:58) Marcelo Tas: Do que vc gosta mais, de projetar uma reforma ou uma casa do zero ou um restaurante, que é uma das suas marcas registradas?
(08:50:29) Marcelo Rosenbaum: Como arquiteto eu trabalho com o ser humano, entro na alma das pessoas com este projeto. Tanto faz fazer um estaurante, uma loja ou uma casa. Eu tento fazer um cenário que para cada pessoa seja a sua rotina.

(08:49:46) Marcelo Tas: Você declarou a revista Trip que seu sonho era desenhar móveis para as Casas Bahia. O pessoal já te procurou ou estão perdendo essa chance?
(08:53:01) Marcelo Rosenbaum: Eu já venho falando há muito tempo que o meu sonho é ser diretor de arte das Casas Bahia, de desenhar os móveis de lá. Hoje os móveis fabricados são muito grandes, não cabem nas casas. Não precisa ser necessariamente para as Casas Bahia, mas casas de móveis populares. Eles poderiam fazer móveis que coubessem nas casas e com mais conforto. A Tok&Stok é o patrocinador do quadro "Lar, Doce Lar", os móveis de lá são bem desenhados, mas rejeitados pelo público, pois são mais sofisticados. Hoje a nossa classe média é limitada, ela mudou de mão.

(08:45:31) Geovanna/UOL:

Antes e depois de um banheiro transformado no quadro "Lar, Doce Lar" (Divulgação)

(08:54:41) Marcelo Rosenbaum: Sobre os participantes do quadro "Lar, Doce Lar": Eles não têm nenhuma opção. A loja onde vão só tem aquilo para comprar. Pensando na casa é muito complicado, pois tem que ter uma visão do espaço, o tridimensional da casa. E tem o lado financeiro também.

(08:37:25) *Paula*: Oi Marcelo boa noite,tudo bem? Queria saber quais dificuldades q vc encontra quando vai reformar a casa de uma pessoa??? Realmente acontece briguinhas quando vc faz a mudança e a pessoa ñ gosta???
(08:58:02) Marcelo Rosenbaum: *Paula*, eu respeito muito o que as pessoas pedem, mas tem coisas que não atrapalham em nada. Aí eu tento convencer e no programa parece que houve confusão. Eu tento justificar o que estou fazendo. Só teve uma cliente difícil que queria a lavanderia no jardim e o quarto com a janela para a lavanderia. E não teve jeito. Tivemos que voltar para o ponto zero para fazer isto.

(09:04:12) Geovanna/UOL:

Fachada de uma das casas reformadas no "Lar, Doce Lar" (Divulgação)

(08:37:34) Lokura: Boa-noite! Marcelo, qual foi a casa mais difícil de "arquiteturar"?
(08:59:35) Marcelo Rosenbaum: Lokura, o mais complicado foi um sobrado no RJ que era dividido em três partes e sobrou só o andar de cima para a família. Era só um casal com filho, mas foi aparecendo mais gente, como a cunhada...

(08:38:37) Anjo de luz(M): Boa Noite!!! Marcelo, vc ja reformou algum apto. no Caldeirão?
(09:00:55) Marcelo Rosenbaum: Anjo de luz(M), apartamento não pode, somente casas... Hoje as favelas estão subindo, estão construindo para cima. Existe um site para fazer visitas no RJ para gringos.

(08:46:24) SEGATTO: QUANTO VCS TEM DISPONÍVEL POR PROGRAMA PARA REFORMA?
(09:02:03) Marcelo Rosenbaum: Segatto, é R$ 25 mil de mão-de-obra e as tintas são Suvinil e os móveis da Tok&Stok. A casa do Jabaquara nós abrimos toda para virar um galpão. No fundo morava uma senhora que veio de pau de arara para SP. Aí eu convidei um grafiteiro do bairro para fazer umas paisagens da região para a mulher.

(09:12:57) Geovanna/UOL:

Quintal de uma das casas reformadas no "Lar, Doce Lar" (Divulgação)

(08:52:42) ulisses: Marcelo, vc não acha demais impôr aqueles painéis (desenhos) em alguns ambientes, aquilo é de gosto muito peculiar e alguns pra lá de forçado.
(09:07:35) Marcelo Rosenbaum: ulisses, eu acho ótimo, é isto mesmo. Eu sugiro isto para as famílias e tento tender ao comportamento deles. Decoração é uma coisa pessoal mesmo. A minha função é a de trazer alguma informação, mas não dá para ser unânime. Nós invadimos a casa das pessoas e oferecemos muitas opções. Eles estão com a emoção controlada porque é uma grande mudança em suas vidas. Nós trabalhos com a auto-estima delas.

(08:54:31) Edu: Boa noite. Você tem feito muitos projetos para um público com menor poder aquisitivo, tornando-o publicamente reconhecido por isso. Isso não atrapalha a prospecção de novos clientes que possam, efetivamente, trazer-lhe um bom dinheiro?
(09:10:14) Marcelo Rosenbaum: Edu, é relativa esta coisa do bom dinheiro. Eu sempre procurei abrir mão disso para fazer aquilo que eu acredito. Muita gente disse que não iria dar certo eu ir para a televisão. Hoje o meu problema é tempo. Estou fazendo o restaurante do Alex Atala, um trabalho que muitos gostariam de fazer. Mas o importante é não ter medo de fazer o que quer, se eu for fazer móveis para a Casas Bahia já está ótimo.

(08:56:19) thaís: Vc disse q não foi mt ligado a faculdade. Qual a sua dica para os estudantes de arquitetura?
(09:12:15) Marcelo Rosenbaum: thaís, eu comecei a trabalhar muito cedo. A dica é correr atrás, tem que estudar, pesquisar... Eu estudo até hoje, viajo, compro livros... Acabei de voltar de Berlim. Já morei lá por dois anos e trabalhei em um escritório de arquitetura por um ano.

(09:19:36) Geovanna/UOL:

Quintal de uma das casas reformadas no "Lar, Doce Lar" (Divulgação)

(09:16:06) Marcelo Rosenbaum: Sobre o Japão: O Japão está muito relacionado ao consumo, à experiência. É inacreditável. Lá as pessoas se transformam em torno de ícones. E é tudo segmentado. Na primeira vez que eu fui lá o auge era a Gisele Bündchen e as pessoas nas ruas estavam iguais a ela. Eles consomem muito, como formiguinhas atrás das lojas. Existe uma coisa do segmento, de fazer a curadoria daquele segmento. Eu morei 15 dias em cápsulas no Japão, elas são destinadas, por exemplo, a viajantes. Foi uma experiência incrível.

(08:56:31) Paty: Vocês voltam a casa que fazem a mudança?
(09:16:58) Marcelo Rosenbaum: Paty, eu não consigo voltar, mas ás vezes as equipes voltam. Eu fiquei sabendo de um caso pela Tok&Stok que a mulher tentou vender ou trocar os móveis lá. Foi o único caso, mas não conseguiu porque não pode trocar.

(08:57:32) NANDA*..*: Marcelo, como você fazem para adequar o ambiente de acordo com as necessidades e estilo próprio de cada participante?
(09:19:50) Marcelo Rosenbaum: Nanda*..*, é uma questão de sensibilidade minha. Tentar identificar o público. Ao entrar na casa de uma pessoa já se sabe quem vive lá. Eu não tenho nenhum preconceito com isso, acho que não devemos julgar. Primeiro eu leio a carta que já tem bastante características da família, levo isto muito em conta. Não faço nada que não seja uma necessidade para a família. E faço a mesma coisa com os meus clientes, eles dizem depois que parece que foi feito por elas mesmas.

(09:00:22) sal: O LUCIANO HUCK DÁ MUITO PALPITE OU DEIXA VC TRABALHAR A VONTADE??
(09:20:35) Marcelo Rosenbaum: sal, ele dá muito palpite. Dá bastante idéias. O Luciano é muito inteligente e é um privilégio trabalhar com ele.

(09:22:14) Geovanna/UOL:

Laje de uma casa transformada em campo de futebol no "Lar, Doce Lar" (Divulgação)

(09:03:11) NANDA*..*: Notei que costuma ter mais dificuldade em "agradar" ou convencer "a" cliente... rs Como consegue driblar a maneira crítica delas, fazer valer sua experiência sem causar constrangimentos?
(09:21:56) Marcelo Rosenbaum: Nanda*..*, se uma mulher estiver obcecada pelo que ela quer eu abro mão de minhas idéias e faço.

(09:03:26) carola: marcelo, você ficou conhecido do grande público por projetos populares no Caldeirão do Huck. Como reverter esse sucesso para trabalhos que lhe rendam mesmo uma graninha.. a classe alta, pra quem vc sempre trabalhou, acompanha seu programa????
(09:04:08) Marcelo Rosenbaum: Por incrível que pareça eles acompanham. Eu vejo gente de loja de decoração, da elite, dizendo que assistem.

(09:05:43) Fagner: Rosenbaum, poderia citar alguns de seus projetos, fora os do programa, que você realizou ou está realizando?
(09:25:21) Marcelo Rosenbaum: Fagner, eu já fiz muitos projetos como da Levis, Zoomp, Cavallera, Aramis, VR, Casa Pizza, Na Mesa etc... Sobre trabalhar com moda: O exercício do desfile foi sensacional pelo seu comportamento. É uma coisa de liberdade total. O trabalho consiste em fazer um suporte para que aquele tema possa ser entendido.

(09:07:16) Gaudi: E como uma família sem recursos vai manter a transformação (maquiagem) que vocês fazem?
(09:26:59) Marcelo Rosenbaum: Gaudi, primeiramente, não é maquiagem. É uma transformação real. Um trabalho de generosidade mesmo. É fazer e entregar, como vão manter dependerá deles, digo isso com muito respeito. Eu volto muito pouco para ver as coisas que faço.

(09:30:09) Geovanna/UOL:

Marcelo Rosenbaum ao vivo no Bate-papo com Convidados (Eduardo Piagentini/UOL)

(09:15:02) Angélica: Outro dia um cara que participou do Lata Velha (quadro do Luciano com o mesmo princípio) estava leiloando o carro "arrumado" no Mercado Livre. Vc já souberam de alguém que tenha colocado a casa a venda?
(09:28:19) Marcelo Rosenbaum: Angélica, não, mas muitas vezes até falo sobre esta possibilidade... Quando faço um trabalho eu dou as dicas, pois vai valorizar o local e depois poderá até vender.

(09:18:45) decio: Como o mercado de alto luxo absorve suas idéias de vanguarda que fogem ao estereótipo do clássico, ostensivo?
(09:30:46) Marcelo Rosenbaum: decio, eu pago um preço por ser diferente, assim como qualquer trabalho que vai na contramão. Eu fiz um trabalho na Casa Cor com reciclados. Teve um resultado incrível, uma aceitação absurda. Ela é visitada por pessoas do Brasil todo, todos reconhecem a sua identidade lá. Eram coisas de artesanato com integração social.

(09:33:54) Geovanna/UOL:

Lavanderia vira brinquedoteca no projeto de Rosenbaum (Divulgação)

(09:21:29) gil: A polêmica da árvore do último sábado lhe deixou estressado durante a obra? Atrapalhou seu processo de trabalho?
(09:32:15) Marcelo Rosenbaum: gil, houve um engano e foi cortado um galho maior da árvore do precisava. Mas correu tudo bem.

(09:24:32) vicKers: Marcelo, há algum compartimento de uma casa que vc valorize mais? Uma sala ou cozinha, por exemplo?
(09:35:31) Marcelo Rosenbaum: vicKers, é a cozinha e o banheiro, são lugares onde se passa mais tempo. A cozinha é o lugar da convivência, o lugar da generosidade da casa. Lá se permite a tecnologia e a modernidade, mas a idéia é a da integração, do convívio mesmo.

(09:40:58) Geovanna/UOL:

Entrada de uma das casas reformadas no "Lar, Doce Lar" (Divulgação)

(09:24:43) BrUnO: Vc alguma vez quis abandonar o trabalho de transformação da casa ou ficou magoado com os seus padrões por falta de concordância das partes?
(09:37:20) Marcelo Rosenbaum: Bruno, do "Lar, Doce Lar" não, nem dá tempo. Os outros projetos têm mais tensão, pois mexe mais com dinheiro, existe fornecedores que não entregam. No Brasil a mão-de-obra é muito desqualificada e quando é bom é caro.

(09:24:55) Rosenbaum Jr: Onde o Huck te achou??? Como vc entrou no programa?
(09:39:14) Marcelo Rosenbaum: Rosenbaum Jr, eu conheci o Rodrigo Sampaio, que era diretor do programa +D do canal GNT e uma ou duas vezes por mês eu dava idéias para lá. Daí ele foi para a Globo e me indicou.

(09:32:38) pri: Na sua opinião, por que grandes lojas de móveis que são ícones do povo brasileiro insistem em fazem móveis nada funcionais para atender de forma prática e estética a todos?
(09:41:17) Marcelo Rosenbaum: pri, eles não estão preocupados com isso, o que se preocupam é como pagamento e fazer a coisa funcionar. Se está vendendo então deixa.
(09:42:05) Marcelo Rosenbaum: Obrigado a todos...