Por que algumas mulheres não usaram preto em protesto na entrega do Bafta
Quase todos os convidados da cerimônia de domingo do Bafta, o prêmio britânico de cinema, em Londres, usaram preto em apoio às campanhas Time's Up e Me Too contra o assédio sexual. Apenas quatro ou cinco pessoas foram vistas com roupas de outras cores. E alguns dos indicados ao prêmio, em vez de levarem maridos e esposas ao evento, surgiram ao lado de ativistas.
Uma das poucas mulheres a não seguir o "traje de protesto" foi a duquesa de Cambridge, Kate Middleton. Ela estava usando um vestido verde-escuro com uma faixa preta.
Bethan Holt, diretora de notícias de moda do jornal britânico The Telegraph, explicou à BBC que faz parte do protocolo da realeza britânica não aderir a protestos e manifestações.
"A família real raramente se envolve em mensagem política, logo talvez não seja tão surpreendente que ela não tenha se juntado às outras mulheres que vestiram preto", afirmou.
Mas será que a escolha por uma tonalidade escura e o uso da discreta faixa preta já seriam sinais de adesão ou simpatia à causa?
Vencedora de prêmio também não usou preto
Outra mulher que destoou por não usar roupa toda preta foi a atriz Frances McDormand, que venceu o prêmio de Melhor Atriz por sua atuação no filme Três Anúncios para um Crime. Ela recebeu a estatueta com um vestido estampado vermelho e preto.
Apontando para a própria roupa, McDormand disse: "Eu tenho um pouco de dificuldade em cumprir regras".
Ela ressaltou, porém, que apoia o protesto contra o assédio sexual. "Mas quero que saibam que eu sou totalmente solidária às minhas irmãs de preto. Também quero dizer que aprecio uma bem organizada desobediência civil."
Além de render o prêmio a McDormand, o Três Anúncios para um Crime recebeu outros quatro prêmios (incluindo Melhor Filme e Melhor Filme Britânico), se consagrando o grande vencedor da noite.
"Nosso filme é de esperança em vários sentidos, mas também de raiva. E, como temos visto este ano, às vezes a raiva é a única forma de fazer as pessoas ouvirem e mudarem, então estamos entusiasmados que o Bafta tenha reconhecido isso", disse o diretor Martin McDonagh.
Discursos contra assédio e desigualdade
O uso de roupas pretas como forma de protesto contra o assédio foi inaugurado na cerimônia deste ano do Globo de Ouro, quando vencedores do prêmio usaram o discurso de agradecimento para chamar a atenção para o problema.
As campanhas surgiram depois de uma série de acusações de assédio e estupro contra o poderoso produtor cinematográfico americano Harvey Weinstein - ele diz que todas as relações sexuais foram consensuais.
Desde que as denúncias vieram a público, várias personalidades usaram as redes sociais para falar sobre o assunto, algumas detalhando o assédio que sofreram.
A hashtag #MeToo ("eu também", em tradução do inglês) passou a ser adotada por homens e mulheres que já sofreram algum tipo de assédio. E astros de Hollywood lançaram a campanha "Time's Up", (algo como "o tempo acabou") para prestar auxílio jurídico a mulheres vítimas de abuso sexual no trabalho.
A atriz Salma Hayek, que também compartilhou sua experiência pessoal com Weinstein, fez uma brincadeira ao entregar o prêmio Bafta de Melhor Ator.
"Neste importante e histórico ano para as mulheres, eu estou aqui neste palco legendário para celebrar os homens", disse, antes de entregar a estatueta ao ator Gary Oldman por sua atuação em O Destino de Uma Nação.
Do lado de fora do fora do evento, ativistas protestaram contra a primeira-ministra britânica Theresa May.
Alguns deles usavam camisetas com os dizeres "Time's Up Theresa".
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