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"Era extrovertida, agora não saio de casa": como trollagens pornôs "arruinaram" vida de adolescente

da BBC

26/10/2017 10h23

 

Quando Victoria (nome fictício) começou a usar as redes sociais para compartilhar vídeos, nunca imaginou que seria vítima de assédio e que evitaria a todo custo sair de casa.

Trolls transformaram a vida da jovem britânica de 18 anos em um verdadeiro inferno. Eles usaram imagens de seu rosto em montagens de fotos pornográficas.

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Em seguida, a jovem passou a receber mensagens repletas de ameaças em suas redes sociais, como "Por que você não se suicida?" e "Morra já".

Também divulgaram o endereço de sua casa e postaram "Casa para assaltar".

"Pensei que seria divertido para fazer amigos; não imaginava que viraria isso", diz ela à BBC, que agora precisa tomar medicação para controlar a ansiedade.

Victoria gostava de compartilhar vídeos pela rede Live.me, em que aparecia falando diante da câmera.

'Quero minha vida de volta'

"Os trolls arruinaram a minha vida", lamenta.

"Costumava ser una pessoa extrovertida e agora só quero voltar a ser quem eu era", acrescenta.

A jovem de Leeds, no norte da Inglaterra, disse que a experiência destruiu sua autoestima.

"Às vezes, tenho a sensação de que a culpa foi minha. É mais fácil para as pessoas atacarem quem se expõe na internet. Só fiz isso por diversão e para fazer amigos", conta.

A polícia foi acionada para investigar o caso, mas até agora ninguém foi preso.

Matt Davison, da polícia do condado de West Yorkshire, diz que os investigadores estão em contato direto com Victoria e seus familiares, deixando-os a par dos avanços da investigação.

Problema crescente

Reportagem recente do jornal britânico The Times mostrou que, só no Reino Unido, nove pessoas são presas por dia por publicar material ofensivo na internet.

O chefe do departamento de crimes digitais da polícia de Essex, Stephen Kavanagh, diz que o aumento de mensagens mal-intencionadas é apenas "a ponta do iceberg".

Kavanagh afirma que as redes sociais deveriam fazer mais para proteger seus usuários.

"Provedores, governo e os encarregados de fazer cumprir a lei precisam saber como proteger as pessoas de maneira mais efetiva e como fazer os criminosos responderem na Justiça", avalia.

Michelle Newberry, professora de psicologia forense na Universidade Sheffield Hallam, na Inglaterra, diz que há uma correlação entre a maneira como usamos as redes sociais e o aumento dos trolls.

"É muito raro que as pessoas não estejam com o celular. Hoje em dia, temos esse acesso instantâneo à internet", diz a professora.

Mudanças

O Twitter disse recentemente que tem planos para impor novas restrições aos chamados "haters" para evitar abusos, principalmente no que diz respeito a conteúdo pornográfico.

Já o Instagram também aumentou o controle de quem pode comentar as fotos de seus usuários.

O porta-voz do Live.me disse à BBC que a plataforma tem protocolo restrito para seus moderadores comunicarem qualquer violação na rede e que disponibiliza auxílio 24 horas por dia para combater o cyberbullying (assédio virtual) e comportamento indecente.