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Em vez do bar após o trabalho que tal ficar nu com os colegas em uma sauna?

Em vez do bar após o trabalho que tal ficar nu com os colegas em uma sauna? - Divulgação/Finnish Sauna Society
Em vez do bar após o trabalho que tal ficar nu com os colegas em uma sauna? Imagem: Divulgação/Finnish Sauna Society

23/12/2016 09h24

Jamais esquecerei a primeira vez que sentei pelada em um banco de madeira em uma sauna com meu chefe. Era minha primeira semana de trabalho em uma startup perto de Heidelberg, na Alemanha.

Eu sou da Escócia, onde socializar com colegas depois do trabalho significa ir para o bar. Nunca pensei que esse tipo de socialização envolveria ficar sem roupa ao ar livre acompanhada de meus colegas enquanto flocos de neve caíam sobre a minha pele desprotegida.

Para mim, foi um enorme choque cultural. Mas em países como a Alemanha, Holanda e Finlândia não é incomum ir à sauna com colegas. Na Finlândia, em especial, é perfeitamente natural ter visto seu chefe sem roupa.

"A Finlândia é um país igualitário. Nós não temos classes sociais rígidas", disse Katariina Styrman, diretora-executiva da Sociedade Finlandesa de Sauna, em Helsinque. "É bem normal ir para a sauna com o seu chefe; é um lugar onde você pode esquecer de cargos e salários."

Segundo ela, o país de quase 5,5 milhões de habitantes tem quase uma sauna para cada duas pessoas. A maioria das empresas tem saunas próprias.

Ao contrário da Alemanha, onde as saunas são mistas, a tradição na Finlândia é que, fora do círculo familiar, homens e mulheres visitem saunas separadamente.

Mesmo assim, para os estrangeiros que chegam ao país, a primeira sessão com colegas pode não ser tão relaxante assim.

"Foi um marco a ser superado", disse o belga Kristof Minnaert, de 30 anos, que mudou para Helsinqui em 2013 para trabalhar como artista técnico na empresa desenvolvedora de jogos Remedy Entertainment. Os estúdios e escritórios da empresa têm uma sauna no terraço.

"Você precisa ficar pelado para entrar. Eles meio que desaprovam se você entrar com uma toalha ou vestindo um calção de banho", afirmou Minnaert.

Depois de três anos, no entanto, ele se acostumou com o ritual da sauna com seus colegas nas noites de sexta-feira, quando também é comum tomar cerveja e sair sem roupa ao ar livre, no terraço.

Ele e sua equipe passam entre uma e três horas por semana na sauna e, embora reuniões não sejam conduzidas de maneira formal ali, eles conversam sobre trabalho e, algumas vezes, têm boas ideias para explorar quando voltarem a suas mesas.

"É como ir a um bar, mas com menos bebedeira e em um ambiente mais abafado", disse ele. "É bom no inverno porque a temperatura pode chegar a 30 graus Celsius negativos no terraço, então quando você volta para o lado de dentro, você se sente bastante revitalizado."

Graças a um convite de seu chefe, Minnaert também já foi para o clube restrito a membros mantido pela Sociedade Finlandesa de Sauna perto de Helsinque, onde saunas tradicionais que usam madeira queimada dão vista para o Báltico.

O clube restrito a membros mantido pela Sociedade Finlandesa de Sauna perto de Helsinque - Divulgação/ Finnish Sauna Society - Divulgação/ Finnish Sauna Society
O clube restrito a membros mantido pela Sociedade Finlandesa de Sauna perto de Helsinque
Imagem: Divulgação/ Finnish Sauna Society

Ali, ex-presidentes e outras figuras importantes da sociedade se misturam ao público e têm a oportunidade de dar um mergulho no mar -- mesmo durante o inverno, quando se faz um buraco para perfgurar o gelo.

O vice-presidente global de vendas e redes móveis da Nokia, Finn Tommi Uitto, explica que na sauna não há títulos, nem roupas. "Não há egos, é apenas você, seus pensamentos e suas palavras, e o mesmo se aplica à outra pessoa", disse o executivo da multinacional de telecomunicações.

A Nokia tem uma sauna própria em cada um de seus três escritórios na Finlândia. "Qualquer finlandês que se candidate a um emprego em uma empresa finlandesa espera que ela tenha uma sauna", afirmou Uitto.

O executivo lembra que no começo de sua carreira a sauna também era um lugar para se fazer negócios. As equipes também se reuniam nas saunas para comemorar conquistas, em vez de sair para um restaurante ou um bar.

Recentemente, porém, a sauna deixou de ser um ponto tão focal, em parte pelo fato de as empresas finlandesas terem se tornado mais globais, segundo Uitto.

Outro fator é que, já que mulheres e homens vão à sauna separados, muitos sentem que a sauna não é um local apropriado para ter discussões de negócios. "Não parece certo dividir a equipe em duas", disse Uitto.

Costumes
Enquanto saunas são populares em outros países do norte como Suécia, Noruega, Rússia e Holanda, os costumes e a etiqueta variam bastante.

O vice-diretor da Câmara de Comércio Alemã-Finlandesa, Jan Feller, de 41 anos, já trabalhou tanto na Alemanha como na Finlândia e vê algumas diferenças de costume.
"Para os finlandeses, a sauna é um lugar que você frequenta para se sentir à vontade e também estar com outras pessoas", disse Feller. "Na Alemanha o objetivo é quase que exclusivamente ligado à saúde e ao bem-estar."

De acordo com ele, na Finlândia, os frequentadores das saunas despejam a água no carvão, mas na Alemanha esse trabalho é normalmente feito por um funcionário especializado.

"Apenas o fato de que na Alemanha você tem as regras escritas na parede da sauna já é algo que faz os finlandeses acharem graça", disse Feller.

Na Alemanha ou na Holanda não seria comum ter uma sauna no seu local de trabalho, mas é possível que esses espaços estejam disponíveis em academias ou clubes.

Quando o britânico Sam Critchley, de 41 anos, fundador da empresa de marketing Spaaza, deixou o Reino Unido para morar em Amsterdã há 18 anos, ele foi jogar squash com seus colegas de trabalho.

Depois da partida, todos foram para a sauna e tiraram a roupa. Ninguém teria se importado se ele estivesse de calção de banho, mas como era a única pessoa estrangeira, queria se adaptar à cultura local. Então, ele tirou a toalha e se sentou na sala de vapor, nu.

"De repente essa mulher apareceu, uma colega, e me perguntou se eu iria jantar depois. Então ela abriu a porta e eu pude ver outras três ou quatro colegas mulheres sentadas num banco", disse Critchley. "Minha reação instantânea foi cobrir meu pênis com as mãos."