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"Confraternizar com inimigo?": Homens que evitam se relacionar com mulheres

Com retórica antifeminista, movimento Men Going Their Own Way ("Homens por sua própria conta", em tradução livre) nasceu na internet - Thinkstock
Com retórica antifeminista, movimento Men Going Their Own Way ("Homens por sua própria conta", em tradução livre) nasceu na internet Imagem: Thinkstock

28/11/2016 17h08

"As mulheres são seu inimigo. Os homens estão sob ataque." A frase foi postada em um grupo de discussão online por um dos membros mais ativos do movimento Men Going Their Own Way ("Homens por sua própria conta", em tradução livre).Trata-se de um coletivo virtual surgido nos Estados Unidos, para o qual o feminismo "controla o mundo" e "escraviza os homens".

Seus membros fazem duros ataques ao sexo oposto e, protegidos pelo anonimato da internet, aproveitam para ofendê-las.

"Se formos chamados para compor um júri, devemos agir guiados por um único preceito: os homens são inocentes e as mulheres, culpadas", exemplifica um integrantes.

A página oficial do grupo defende, por exemplo, que os homens devem manter sua superioridade e não se prostrar diante delas a ponto de serem tratados como "objetos de desejo".

Membros do grupo demonizam mulheres - Thinkstock - Thinkstock
Membros do grupo demonizam mulheres
Imagem: Thinkstock

Pílula vermelha e pílula azul

O Men Going Their Own Way consiste em uma versão ainda mais radical de um movimento que já era considerado extremista e polêmico, o Partido Justiça para Homens, Meninos (e as Mulheres que os Amam).

Seus integrantes eram chamados originalmente de "homens da pílula vermelha", cuja inspiração veio do filme "Matrix" (1999).

No longa-metragem, o protagonista (interpretado pelo ator Keanu Reeves) ganha duas pílulas e tem de escolher qual tomar: a azul, que permite a ele continuar vivendo em um mundo ilusório, e a vermelha, para que tenha consciência da realidade que o cerca.

A metáfora das pílulas serve como fio motor desses movimentos.

Cena do filme "Matrix" serviu de inspiração para nome de movimento antifeminista - Divulgação - Divulgação
Cena do filme "Matrix" serviu de inspiração para nome de movimento antifeminista
Imagem: Divulgação

"Os que tomam a pílula vermelha são aqueles que querem ver os conflitos de gênero de maneira honesta", assegura Michael Buchanan, líder do Partido Justiça para Homens, Meninos (e as Mulheres que os Amam). "Tudo hoje é visto a partir da lógica do ginocentrismo, que se preocupa com os sentimentos das mulheres e das meninas, mas não com os dos homens", acrescenta.

Um exemplo das crenças do grupo: Buchanan diz acreditar que a circuncisão masculina tem como objetivo reduzir o prazer sexual e, assim, fazer com que os homens se mantenham fiéis às suas esposas.

"Elas se fazem de idiotas ou vítimas para se sentirem bem", critica membro do grupo - Thinkstock - Thinkstock
"Elas se fazem de idiotas ou vítimas para se sentirem bem", critica membro do grupo
Imagem: Thinkstock

Guerra dos sexos

Para muitos, o movimento Men Going Their Own Way é ainda mais radical.

"Evitem ter uma parceira. As relações entre homens e mulheres evoluíram a ponto de se tornar uma situação de guerra. Por que confraternizar com o inimigo?", questiona um integrante anônimo do grupo.

Na página, misturam-se desde citações de cientistas, como Nikola Tesla, defendendo a solteirice, até memes que classificam as mulheres como prostitutas.

Um dos fundadores do movimento, que se identifica sob o pseudônimo de Solaris, escreveu o manifesto da comunidade em 2001 com a outros homens "da pílula vermelha". "Queremos enfrentar uma sociedade que age ativamente contra nós", diz Solaris.

Mas questionado pela BBC sobre seu próprio estado civil, ele prefere não responder.

Página oficial do Men Going Their Own Way - Reprodução/BBC - Reprodução/BBC
Página oficial do Men Going Their Own Way
Imagem: Reprodução/BBC

Rechaço e frustração

Richard Ford é um dos poucos integrantes da comunidade que mostra publicamente seu rosto. Suas postagens ajudam a entender os fundamentos do grupo.

"Quero ser livre. Como sou solteiro, tenho que pagar só pelos meus gastos. Depois do trabalho, não tenho uma longa lista de coisas para fazer", diz.
Ford às vezes tenta arrebanhar seguidores para o Men Going Their Own Way em uma esquina movimentada de Londres.

"Elas se fazem de idiotas ou vítimas para se sentirem bem", diz sobre o sexo oposto. Mas confessa, no entanto, que não socializa com mulheres porque elas não olham para ele.

Um ideólogo do movimento, que se identifica sob o pseudônimo de Clive Smith, as acusa de buscarem homens de maior status social, o que, na sua visão, reflete um "rechaço da conduta institiva da época das cavernas".

Experiências sentimentais dolorosas, às vezes traumáticas, parecem ser um consenso entre os membros desses grupos.

"Tive uma crise difícil com uma mulher", conta um simpatizante do partido de Buchanan."Trabalhei em uma empresa de design que lamentavelmente estava cheia de mulheres. Minha vida era um inferno", afirma Rod, outro apoiador do movimento.

Solaris, do Men Going Their Own Way, por sua vez, sentencia: "Se tiver uma relação com uma mulher, terá que ser nos meus termos."

O movimento não faz referências ao grande número de assassinatos de mulheres ou à desigualdade de gênero. Dados mundiais mostram que elas continuam ganhando, em média, 30% a menos do que os homens. Além disso, têm menor representatividade em setores como a política.