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Os 4 gêmeos trocados na maternidade que viraram 'empresa'

O dois pares de gêmeos --ou quatro irmãos-- estão cogitando ir morar na mesma casa - Natalio Cosoy
O dois pares de gêmeos --ou quatro irmãos-- estão cogitando ir morar na mesma casa Imagem: Natalio Cosoy

Natalio Cosoy

Da BBC Mundo em Bogotá

06/01/2016 11h22

É uma história incrível, digna de uma novela sul-americana --colombiana, para ser mais preciso.

Dois pares de gêmeos que foram trocados ao nascer em 1988 se reencontraram devido a uma mistura de azar e curiosidade 24 anos depois, em 2013.

Uma amiga de trabalho de um deles, Jorge Enrique Bernal Castro, foi fazer compras em um açougue onde trabalhava William Canas Velasco. Lá, descobriu como os dois eram extremamente parecidos --ambos magros, de face ossuda, boca pequena e sorriso idêntico.Ela então tirou uma foto do açougueiro e mostrou ao seu amigo, que ficou assombrado.

Os dois fizeram contato e a surpresa se quadruplicou quando Jorge viu fotos do irmão de William, Wilber Cañas Veloso. Ele descobriu que o irmão com quem foi criado e até então acreditava ser seu gêmeo --Carlos Bernal Castro-- era muito mais parecido com Wilber, o irmão de William, do que com ele mesmo.

Os quatro se deram conta de que Jorge era irmão biológico de William, e Wilber de Carlos --e de que foram trocados pouco após seu nascimento.

William e Jorge nasceram em 21 de dezembro de 1988 no Hospital Materno Infantil de Bogotá. Wilber e Carlos nasceram um dia depois em outra região da Colômbia, Santander. Carlos teve problemas de saúde, por isso ele e seu irmão foram transferidos para Bogotá para tratamento médico mais especializado.

Jorge diz acreditar que ambos foram colocados na mesma sala e acidentalmente tiveram as pulseiras de identificação trocadas. Os quatro receberam alta médica no mesmo dia e William e Wilber foram levados para Santander e Carlos e Jorge ficaram em Bogotá.

A história correu o mundo ao ser relatada pelo jornal "New York Times" em julho do ano passado. Mas a reportagem da BBC quis saber como evoluiu o vínculo entre os quatro protagonistas.

Brincalhões e zangados

Carlos e Wilber são corpulentos, suas cabeças são maiores, os lábios mais grossos e têm a expressão mais séria. Na medida em que foram se conhecendo, deram-se conta de que medem mais as palavras, são menos tolerantes a brincadeiras, se aborrecem rápido e cuidam melhor de sua imagem. Já Jorge e William sempre se mostraram mais brincalhões e despreocupados.

Quando os conheci, Carlos e Wilber tinham telefones celulares brancos quase idênticos, que asseguravam ter comprado separadamente, e tinham a mesma tendência de usá-los para jogar quando a conversa começava a ficar desinteressante.

"Acredito que dancemos melhor (que Jorge e William)", disse Carlos, em tom de brincadeira, tentando apontar uma característica que os distingue de seus 'ex-irmãos'.

William cresceu com Wilber, mas em algumas ocasiões ele duvidou que fossem mesmo irmãos. Quando ingressaram no Exército, descobriram, ao fazerem exames de sangue, que tinham fator RH diferente. William diz ter estranhado o fato, mas que ouviu --da pessoa que revelou os resultados do exame-- que isso seria normal.

Quatro irmãos

Quando os quatro já sabiam da existência uns dos outros e planejaram se conhecer, as primeiras reações foram de apreensão. "Não sabia que tipo de pessoas poderiam ser", disse Jorge. "Esse era o maior medo: que pudessem ser pessoas más".

O mesmo passou pela cabeça de Wilber. "Poderiam nos roubar ou fazer algo conosco", disse ter pensado no momento.

Eles finalmente se encontraram e os medos foram se dissipando. A desconfiança foi dando lugar às palavras, às brincadeiras, à curiosidade, às perguntas, à conversa.

Mas a vida deles começou a ser de fato reescrita a partir da descoberta, da reportagem do "New York Times" e de investigações de especialistas em gêmeos.

Os dois pares de irmãos --ou quatro irmãos, como eles se chamam-- perceberam que sua história de reencontro os dava força e capacidade de crescimento. Eles não deixaram a oportunidade passar.

"Além de irmãos, nos transformamos em uma 'empresa', na qual todos somos importantes e precisamos uns dos outros para fazer as coisas", afirmou Jorge.

Uns começaram a acompanhar os projetos uns dos outros. William, por exemplo, quis lançar uma carreira política. No início tentou ganhar um posto de vereador em seu município, La Paz, na região de Santander, durante eleições realizadas em outubro de 2015. Carlos e Wilber o ajudaram na campanha. Ele não se elegeu, mas disse que a experiência de trabalhar em conjunto com os irmãos foi boa.

Eles dizem acreditar que a chave para o sucesso é apoiar os projetos pessoais de cada um e dos quatro em conjunto. "Wilber quer mais responsabilidade, assim vai seguir no trabalho de comerciante, William quer estudar e estar na política e nós três o apoiamos, e quando quis fazer mestrado também apoiamos", disse.

Em conjunto, eles são protagonistas de um livro científico sobre gêmeos (ainda não publicado), da Universidade da Califórnia, que lhes dará certos benefícios econômicos. A publicação se chamará "Accidental Brothers" (irmãos acidentais, em tradução livre).

Olhos amendoados escuros

Agora, dois anos depois de se conhecerem, dizem estar cada vez mais unidos. Eles não só planejam viagens, como querem conviver juntos. "Pensamos até em comprar uma casa para os quatro", contou Wilber.

Eles não passaram o Natal juntos, mas seu plano era compartilhar a noite de Ano Novo. Certamente continuarão fazendo planos conjuntos e brincarão sobre as peculiaridades e manhas de cada um, como fizeram quando os conheci.

Apesar de suas diferenças, os quatro têm algo em comum: o desejo de construir uma relação positiva e simbiótica de um evento que poderia ter sido marcado por trauma e dor. E também em um traço físico: todos têm olhos escuros amendoados muito parecidos, com os quais olham entre si e veem um irmão.