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O polêmico perdão à babá que teve relações sexuais com um menino de 11 anos

Casos de abuso contra meninos são tratados de forma diferente dos contra meninas - Thinkstock
Casos de abuso contra meninos são tratados de forma diferente dos contra meninas Imagem: Thinkstock

07/10/2015 15h45

Jade Hatt, 21, tomava conta de um garoto de 11 anos na Inglaterra e confessou ter tido relações sexuais com o menino em uma das ocasiões em que cuidou dele.

Ela chegou a ser presa por isso, após ter sido denunciada pelo pai do garoto, mas, em julgamento pelo caso, foi absolvida pela Justiça britânica. A justificativa foi de que "o menor era bastante maduro para sua idade, e ela, por sua vez, era muito imatura para sua idade".

Hatt contou com a defesa do próprio pai do menino, que declarou no tribunal que seu filho estava "plenamente disposto" para a experiência e que "não foi prejudicado em nada" pela situação.

"Na verdade, ele com certeza verá isso como uma marca (de vitória) para seu cinturão", garantiu o pai, que, no passado, também chegou a se relacionar sexualmente com Hatt.

Mas tanto o depoimento do homem quanto a decisão do juiz de suspender a pena de prisão para a babá foram duramente criticados no Reino Unido e têm gerado polêmica --muitos alegam que o caso repete o padrão de culpar a vítima em casos de crimes sexuais.

E, para a Sociedade Britânica para Prevenção de Crueldade com as Crianças, "os comentários do juiz do caso enviam uma mensagem completamente equivocada".

"Isso confirma uma ideia comum na sociedade de que o abuso de um menino por uma mulher é, de alguma forma, menos grave que o abuso de uma menina por um homem", disse a organização em comunicado.

"Louco por sexo"

Segundo os depoimentos ouvidos no tribunal, Hatt estava cuidando do garoto em um dia que ele não tinha aula --e essa não era a primeira vez que ele ficava sob os cuidados dela.

"Foi durante o dia. A ré chegou por volta de 11h30. E uma relação sexual entre os dois aconteceu", disse a promotora no tribunal em Swindon, no sul da Inglaterra.

Quando o pai chegou em casa, ele notou uma mordida no pescoço do filho e encontrou mensagens de texto da babá para o menino que revelavam o ocorrido. Foi aí que ele chamou a polícia.

Hatt foi presa e confessou ter tido relações sexuais com o menor. Mas, em sua defesa, argumentou que o menino havia dito a ela que tinha 15 anos --ainda que o pai houvesse dito a real idade do garoto para ela quando a contratou.

"Ela disse que gostou (da relação). Mas ele disse que não, porque sabia que aquilo era errado", afirmou a promotora Hannah Squire.

O juiz Tim Mousley aceitou o argumento da defesa sobre a suposta imaturidade de Hatt, especialmente em comparação com um garoto descrito pelo próprio pai como "louco por sexo".

"Isso reduz a diferença numérica de idade entre vocês", disse Mousley ao justificar a decisão de não manter a babá presa, tal como sugere a lei para esses casos.

Responsabilidade

Apesar da sentença suspensa, Mousley pediu que Hatt fosse incluída no registro de criminosos sexuais por sete anos e a proibiu de ter qualquer contato não supervisionado com menores por dois anos.

Mas muitos ainda se perguntam se o juiz teria tido a mesma atitude se a vítima tivesse sido uma menina, e não um menino.

E a ONG Kidscape também alegou que, independentemente da maturidade que o garoto possa aparentar, um menino de 11 anos continua sendo uma criança.

"Não se pode esperar que ele tenha a maturidade emocional necessária para consentir uma relação sexual", disse um porta-voz da organização ao jornal "The Guardian".

"Também é muito triste ouvir alguém descrever uma criança como 'louca por sexo', o que de certa forma sugeriria que ela tenha sido responsável pela relação ilegal que aconteceu", completou o porta-voz da Kidscape.

E em um artigo publicado no "Guardian", a colunista Ally Fogg convocou os meios de comunicação a mudar a forma como eles cobrem esse tipo de caso, sugerindo que a própria mídia reafirma esse tipo de percepção.

"Não há nada de novo em uma vítima de crime sexual ser acusada pelo crime", queixou-se. "Seria apropriado que todos, enquanto sociedade, revisássemos nossa forma de ver o abuso sexual contra os homens."