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Edifícios do futuro poderão ter hortas na fachada

Jardim vertical, criado pelo francês Patrick Blanc, cobre parte da fachada do Musée du quai Branly, em Paris - Divulgação
Jardim vertical, criado pelo francês Patrick Blanc, cobre parte da fachada do Musée du quai Branly, em Paris Imagem: Divulgação

15/01/2013 11h16

Diferente do que se pensa, a arquitetura do futuro não será feita apenas de sensores e dispositivos ultrainteligentes. Ter uma horta cobrindo a fachada e comer no almoço a produção que cresce nas paredes poderá ser parte do cotidiano de muitos prédios de escritórios.

As "plantações verticais" foram uma das ideias discutidas em uma recente conferência do British Council for Offices (Conselho Britânico para Escritórios), em Londres. A proposta deriva de um dos principais conceitos discutidos no evento: a adaptação do ambiente de trabalho às necessidades das pessoas. Para Derek Clements-Croome, da Univesidade de Reading, "haverá (no futuro) um aumento na personalização (dos prédios)".

"Você estará no controle do meio ambiente e será capaz de colocá-lo a serviço de suas necessidades", afirma o pesquisador. E isso levaria em conta não apenas a utilização de material ultramoderno, mas de plantas, por exemplo. "Mas não se trata apenas de automação. Um iglu pode ser um prédio inteligente também", acrescenta Clements-Croone.

'Plantações verticais'

Sean Affleck, da Make Architects, é um dos defensores das chamadas "plantações" ou "jardins"  verticais, o conceito de cobrir edifícios com plantas que absorvem gás carbônico, transformando-o em oxigênio. "Fachadas vivas pode refrescar as cidades como uma floresta, por causa da evaporação", diz.

Mas além de plantas já usadas corriqueiramente em projetos semelhantes, há quem aposte no uso de algas. "As algas são 200% melhor em absorver gás carbônico a produzir biomassa", esclarece o arquiteto. Ele defende a adoção de tubos envoltos nos vegetais marinhos, para os quais seriam bombeados gases residuais do edifício, que por sua vez seriam filtrados e reutilizados, com fonte de energia.

A tecnologia já é usada na usina de Red Hawk, no Arizona, nos Estados Unidos. Por lá, o CO2 resultante da produção de energia local passa por tais tubos, que absorvem 80% dos gases e os transformam em oxigênio.

Mas se a intenção não for transformar seu edifício em uma usina de energia, Affleck cita o exemplo de um prédio em Mumbai, que está colhendo as algas que crescem em suas fachadas para transformá-las em cosméticos. E por que não usá-las, bem como outras plantas na culinária? Os arquitetos acham plausível que, no futuro, as cantinas das empresas possam empregar produtos colhidos "nas paredes".

Plante na vertical:

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    O cultivo em fachadas é mais simples do que parece, embeleza a cidade e é bom para a dieta

Na conferência, foi sugerido ainda que as raízes de plantas que crescem na fachada de prédios possam ajudar na sustentação destes. Se a ideia parece ridícula, os arquitetos que a defendem lembram que árvores em geral resistem a terremotos. Edifícios de escritórios muitas vezes não.

'Nano-coating'

A tecnologia que permite uma espécie de interação da construção com as pessoas e com o ambiente ao redor é conhecida como nano-coating. Ela permite que sua mesa seja iluminada assim que você chegar ao trabalho. Ou que sua sala se adapte à temperatura de acordo com as necessidades específicas de cada um.

O próprio edifício pode interagir com o ambiente em que está localizado, como, por exemplo, o prédio da Air France no Aeorporto Charles de Gaulle, perto de Paris. Ele é construído com concreto "autolimpante", que usa dióxido de titânio para diluir a poluição que em outros tempos iria aderir à superfície.

O grande desafio dos arquitetos, no entanto, é encontrar quem queira levar adiante tais ideias. "Muitas propostas precisam de alguém que se submeta a um alto risco", diz Andrew Hunter, diretor de projetos da construtora Skanska. "Perde-se muito dinheiro e o resto (dos arquitetos) se aproveita (do experimento)", avalia.

Especialistas apontam, entretanto, para possíveis vantagens como a economia resultante de edifícios inteligentes. A construção e a manutenção de escritórios é, em geral, o segundo maior gasto das empresas, atrás apenas da folha de pagamento. Portanto, a economia com redução no uso de energia e na produção de resíduos e com a reutilização de água pode ser considerável.

Outra questão colocada na conferência foi a própria existência de tantos escritórios no futuro, dada a tendência crescente de se trabalhar em casa. Muitos arquitetos discordam e acham que as pessoas continuarão a ter a necessidade de se reunir e estar juntas. Nem que seja para dividir um prato de espaguete feito com algas crescidas na fachada.