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Aumenta número de "mulheres-talebãs" isralenses

Com seus filhos, mulheres afegãs esperam transporte em ponto de ônibus de Cabul  - Reuters
Com seus filhos, mulheres afegãs esperam transporte em ponto de ônibus de Cabul Imagem: Reuters

GUILA FLINT

30/11/2011 09h42

Cresce o número de mulheres judias israelenses que seguem os preceitos de uma seita radical e andam cobertas da cabeça aos pés "para preservar a decência".

A maneira de se vestir das mulheres da seita cobertas da cabeça aos pés, lembra a burca usada no Afganistão, e daí vem o apelido de "mulheres-talebãs", pelo qual ficaram conhecidas na imprensa israelense.

No entanto, para elas a burca não é "decente" o suficiente, pois com apenas uma camada de roupa, deixa entrever as curvas do corpo da mulher.

Segundo a seita, também conhecida como "mulheres dos xales", para evitar tornar-se uma "tentação para os homens", a mulher deve vestir-se com dezenas de camadas de xales, de modo a tornar-se uma montanha de panos disforme para que as curvas de seu corpo não transpareçam.

A seita foi fundada há cerca de 5 anos pela rabina Bruria Keren, na cidade de Beit Shemesh, perto de Jerusalém. Há 3 anos Keren foi presa por abusar de seus 12 filhos e condenada a 4 anos e meio de prisão. A rabina, que foi acusada de maltratos às crianças, alegou que "queria educá-las segundo os preceitos da modéstia".

Na liderança da seita ela foi substituída por outras mulheres que a consideram "santa" e seguem seus ensinamentos.

Desafio

O número de mulheres que aderiram à seita está crescendo e, segundo as avaliações, já chega a mais de mil. Elas próprias afirmam que já são mais de 10 mil.

Elas vivem principalmente nas cidades de Jerusalém, Beit Shemesh e Elad, onde há grandes concentrações de judeus ultraortodoxos.
No entanto os próprios ultraortodoxos veem o fenômeno como um desafio aos preceitos da religião judaica, afirmando que essas mulheres "foram longe demais".

Segundo os preceitos da seita, as meninas também devem andar totalmente encobertas desde pequenas. Para o rabino reformista Arik Asherman, os preceitos da seita "não fazem parte do judaísmo".

"Não conheço tradição alguma dentro do judaísmo que defenda tal ocultação da mulher e considero problemática a imposição desses preceitos às crianças" disse Asherman à BBC Brasil.

De acordo com o rabino, o preceito da modéstia faz parte da tradição do judaismo, mas uma interpretação tão radical "não tem precedentes".
O crescente número de comunidades de mulheres adeptas da seita também preocupa o Ministério da Educação de Israel, pois elas não concordam em matricular os filhos nas escolas públicas e os educam dentro das comunidades, sem qualquer controle do Estado.

Para a seita, a ocultação total da mulher é o preceito principal e deverá acelerar a "salvação do povo de Israel". Elas se reúnem e estudam maneiras de ocultar o corpo, inclusive os olhos e os cabelos, para evitar que "até as paredes os vejam".

"Aprimorando" a ocultação

Em um vídeo filmado clandestinamente por uma jornalista que se infiltrou na seita disfarçando-se de simpatizante, se pode ver diversas maneiras como as integrantes "aprimoram" a ocultação de si mesmas.

Elas costumam se pentear embaixo dos panos, mesmo quando estão sozinhas, e raramente tomam banho, pois a operação acaba sendo extremamente complicada com todas as camadas de panos que as encobrem.

De acordo com a diretora da prisão onde se encontra a rabina Keren, o hábito de tomar poucos banhos é a razão principal pela qual ela é mantida em uma cela individual.
A cobertura total dos olhos faz com que as mulheres da seita não enxerguem por onde andam e, para poder se locomover, geralmente utilizam seus filhos como guias.

Para o rabino Uri Regev, presidente da ONG Hidush, em prol da liberdade religiosa e da igualdade, "o crescimento de um grupo fundamentalista como a seita das mulheres de xale, faz parte do processo geral de radicalização do público religioso em Israel".