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Grupo quer que homens espanhóis ajudem mais em casa

29/06/2009 09h40

Anelise Infante
De Madri para a BBC Brasil

Uma associação formada só por homens lançou uma campanha pela igualdade de sexos na Espanha. O objetivo é conseguir direitos e deveres iguais para homens e mulheres em todos os âmbitos, inclusive dentro de casa. O movimento chamado "paridade também no lar" pede aos maridos que se comprometam a dividir as tarefas domésticas.
  • AHIGE / BBC

    Homens aprendem a passar roupa na Associação de Homens pela Igualdade de Gênero


A proposta é da Associação de Homens pela Igualdade de Gênero (AHIGE), tem o apoio do governo e tenta conscientizar maridos e namorados sobre a importância de equilibrar as responsabilidades.

O grupo, fundado em 2001 na Espanha, dá seminários, palestras e cursos gratuitos para homens com temas que vão da auto-estima até o cuidado de bebês.

A nova campanha propõe uma divisão das tarefas domésticas. Com o lema "paridade também no lar", a associação pretende convencer os homens da necessidade de compartilhar direitos e deveres.

Para quem ajuda pouco ou se acostumou a fugir do trabalho doméstico com a desculpa de que não sabe fazer, a AHIGE oferece cursos gratuitos de tarefas do lar.

Em três dias, a ONG ensina a lavar, passar, cozinhar, costurar, limpar e arrumar uma casa. "Mas não nos limitamos a isso", avisou o porta-voz da AHIGE, Antonio Garcia.

"Trabalhamos com uma equipe multidisciplinar de nove profissionais entre psicólogos, sociólogos, assistentes sociais e médicos oferecendo ajuda em muitos níveis, principalmente o emocional, porque aí está a chave da mudança", disse à BBC Brasil.

Só no ano passado, a associação atendeu a mais de mil homens em seus cursos em nove províncias espanholas (equivalentes aos Estados brasileiros).

A maioria dos cursos é realizada através de parcerias com prefeituras e outras instituições públicas, que organizam eventos gratuitos.
  • AHIGE / BBC

    Aula de culinária na Associação de Homens pela Igualdade de Gênero, na Espanha


Questionário

Para a campanha sobre igualdade no lar a AHIGE criou um questionário que está na internet e consta de dez perguntas para que os homens respondam sobre sua atuação em casa.

Os maridos e namorados devem responder se fazem as compras, limpam a casa, lavam e estendem a roupa no varal, passam, lavam a louça, cozinham, cuidam dos filhos em casa, os levam à escola, ao médico, assistem às atividades escolares e ainda se cuidam de outros parentes necessitados.

O questionário inclui opções de pontuação para que os homens respondam seus graus de compromisso em casa: de zero (só a mulher faz os serviços domésticos) a quatro (apenas o marido os realiza).

Com esta campanha, a AHIGE acredita que os homens ganham respeito, independência, acabam com as queixas que produzem discussões e rancores e ainda dão melhores exemplos a seus filhos.
  • AHIGE / BBC

    Aula de culinária na Associação de Homens pela Igualdade de Gênero, na Espanha


Além das tarefas domésticas há seminários de combate ao machismo, violência de gênero, auto-estima, cuidado de bebês e psicologia.

Atuando contra as discriminações de gênero a ONG também tenta acabar com outro mito: o conceito de que machismo é coisa de homens de nível sócio-cultural baixo.

"Ao contrário do que muita gente pensa, não há uma relação entre nível cultural e disposição para dividir as tarefas domésticas".

"O que constatamos é que os homens de melhor formação cultural aprenderam a ser politicamente corretos, principalmente na frente dos outros. Mas dentro de suas casas nem sempre a situação é igualitária. É um falso mito", afirmou Garcia.

Ameaças machistas

A AHIGE conta com o apoio do Ministério da Igualdade da Espanha, mas não agrada a todo mundo. O porta-voz da associação disse que recebe com frequência telefones e e-mails com críticas e ameaças de grupos machistas.

"Há um setor da população masculina com muito rancor contra as mulheres. Não estão dispostos a aceitar nenhuma mudança de papel em suas vidas nem na de ninguém."

"É uma minoria, mas bastante barulhenta que se revolta ainda mais vendo homens defendendo direitos de mulheres".