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Remédio inspirado em maconha ajuda a emagrecer

09/01/2008 15h26

Um novo remédio contra a obesidade que usa os receptores de canabinóides - uma substância encontrada na maconha - no cérebro obteve sucesso nos primeiros testes com pacientes.

Mas a droga Taranabant também apresentou efeitos colaterais, como distúrbios gastro-intestinais e efeitos psiquiátricos, incluindo ansiedade, irritabilidade e depressão, segundo artigos publicados na revista especializada Cell Metabolism.

O remédio foi inspirado na maconha. Um dos efeitos conhecidos da droga é a indução de um forte desejo de comer, aliado à antecipação das delícias da comida e a uma sensação de prazer maior do que o normal - o remédio tenta, justamente, reproduzir o efeito contrário.

Já há alguns anos, cientistas identificaram no cerébro os receptores dos canabinóides - que justamente causariam essas sensações - e vêm desenvolvendo remédios baseados nesse princípio, bloqueando os receptores ao invés de estimulá-los.

O primeiro remédio baseado neste princípio, o Rimonabant, ou Acomplia, produzido pela Sanofi-Aventis, já se encontra à venda em vários países, mas ainda não foi autorizado nos Estados Unidos por conta de seus efeitos adversos.

A Merck, laboratório responsável pelo Taranabant, espera encontrar uma dose do remédio que induza ao emagrecimento sem causar tantos efeitos colaterais.

Testes

Nos recentes testes, 533 pessoas receberam, aleatoriamente, diferentes doses do remédio (0,5 mg, 2mg, 4mg e 6mg) ou um placebo, combinado a uma dieta de calorias reduzidas, ao longo de 12 semanas. Ao todo, 368 pacientes completaram o tratamento, por razões diversas.

Os pacientes que tomaram placebo perderam 1,4 kg durante o período. Os que tomaram taranabant perderam entre 3,6kg e 6,3 kg, dependendo da concentração da dose - as doses mais altas levaram a uma perda de peso maior.

Os resultados também foram melhores do que os encontrados na última fase de testes do rimonabant.

Em outro teste, de apenas 24 horas de duração, uma dose de 12 mg diminuiu o consumo de alimentos em 20% entre os pacientes, em comparação ao placebo.

Os autores do estudo afirmam que os efeitos colaterais psiquiátricos do remédio durante os testes foram mínimos e não podem ser levados em conta estatisticamente, mas qualquer aumento nesta tendência seria extremamente significativo do ponto de vista clínico, já que a população potencial de pacientes seria de vários milhões de pessoas.

Os testes, no entanto, provaram que o bloqueio dos receptores de canabinóides pode ser uma alternativa relativamente eficiente às atuais drogas contra a obesidade, já que, além de diminuir o consumo de calorias, eles aumentam o gasto de energia.

Mas o autor de um dos artigos, o professor Tim C. Kirkham, da Escola de Psicologia da Universidade de Liverpool, na Inglaterra, afirma que muitos aspectos do processo ainda têm que ser esclarecidos, em particular os efeitos que os supressores ou inversores dos receptores de canabinóides têm sobre o apetite ou comportamento.