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Chile mostra sua arquitetura pós-terremoto para Bienal de Veneza

26/08/2010 18h47

VENEZA, 26 Ago 2010 (AFP) -A arquitetura chilena pós-terremoto, da emergência e da reconstrução invadiram nesta quinta-feira a Bienal de Arquitetura de Veneza, na abertura à imprensa do evento, que abre as portas ao público no próximo sábado.

Com um pavilhão nos amplos espaços do centro de exposições Arsenale, a mostra "Chile 8.8", cujo nome faz alusão à intensidade do terremoto que devastou o centro e o sul do país em 27 de fevereiro, o Chile causa um choque na arquitetura ao obrigá-la a pensar nas necessidades básicas de populações castigadas por catástrofes naturais.

"Esta exposição responde a um fenômeno que este ano nos tocou com uma força inusitada: terremotos, maremotos, desmoronamento", comentou o ministro da Cultura, Luciano Cruz-Coke, ao inaugurar o pavilhão.

Através de painéis ilustrativos, vídeos e fotografias, entre elas da zona costeira do célebre arquiteto chileno Mathias Klotz, o Chile apresenta de forma fria e racional, sem imagens trágicas, nem dolorosas, a marca dos estragos provocados pela tragédia, bem como projetos concretos e reais de reconstrução, que já contam com recursos públicos ou privados para a sua realização.

Os 17 projetos, selecionados em um concurso, estão divididos em três categorias: patrimômio, pré-fabricados e organizações sociais, e ilustram várias soluções, algumas bastante inovadoras.

A casa flexível, com painéis de madeira e que se adapta às necessidades e pode crescer, e as soluções modulares de Klotz para Talca, Cauquenes e a ilha Robinson Crusoé, que combinam a moradia com o local de trabalho para reativar o comércio, são chave para a reconstrução.

"Não foi fácil organizar a exposição apenas seis meses depois do terremoto ter acontecido. Ainda estávamos em choque. Outra linha tinha sido decidida, mas uma vez que o terremoto no Chile aconteceu, não poderíamos falar de outra coisa", explicou o curador do pavilhão chileno, o arquiteto Sebastián Gray, negando que a mostra tenha sido precedida de polêmicas.

"O impacto da arquitetura na sociedade é o tema desta Bienal. Inevitavelmente teria que se falar do terremoto", disse Gray, propondo que se discuta como pano de fundo o frenético desenvolvimento das últimas décadas, o "neoliberalismo dos últimos 35 anos" e o relaxamento das normas de construção como as razões da devastação.

"Meio país veio abaixo", reconheceu o ministro, considerando que um número tão pequeno de mortos com relação à intensidade do tremor mostra que existe "um sistema de reconstrução bom, um bem explorável", ao lembrar que o Chile é um dos países do mundo com maior atividade sísmica.

O quinto terremoto mais intenso da história, que deixou 500 mortos e 200 mil afetados, sem falar do que sacudiu o Haiti e das inundações no Paquistão, inspiraram os organizadores da Bienal, que este ano abriu seus espaços de exposição com a enorme escultura "O menino escondido no peixe", dos chilenos Smiljan Radic e Marcela Correa, e que representa um apelo por "um futuro perfeito, protegido e perfumado".