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Polêmica sobre magreza de modelos agita o mundo da moda em Londres

18/09/2006 16h47

Por Ana Maria Echeverría=(FOTOS)= LONDRES, 18 Set (AFP) - Sedas em tons claros, saias curtíssimas e lantejoulas brilharam nas passarelas da Semana da Moda de Londres, inaugurada nesta segunda-feira, mas o assunto da hora não foi o comprimento das saias ou as cores da moda, mas a magreza excessiva de algumas modelos.

O primeiro dia do evento de moda londrino, em que o estilista indiano Ashis e o americano Ben de Lisi foram os mais aplaudidos, foi marcado pela polêmica sobre a magreza das modelos, algumas das quais são suspeitas de sofrerem transtornos alimentares, como a anorexia.

As pressões sobre os organizadores da Semana da Moda para que ponham um limite à magreza das modelos, como fez Madri e Milão poderá fazer, se intensificaram nos últimos dias, com os apelos de autoridades e especialistas para que Londres siga o exemplo espanhol.

A ministra britânica da Cultura, Tessa Jowell, foi uma das vozes que se levantaram em Londres, pedindo que seja seguido o exemplo de Madri, que decidiu barrar do evento Passarela Cibeles modelos com um índice de massa corporal - calculado em função da relação peso e altura - inferior a 18.

Esta polêmica se acirrou após a morte, há alguns meses na passarela, da jovem modelo uruguaia Luisel Ramos, vítima de uma dieta para emagrecer, na qual durante três meses só comeu saladas verdes e bebeu refrigerantes dietéticos e após a decisão de Madri, no sábado, de vetar a participação de cinco modelos.

Mas a Semana da Moda londrina, que se encerra na sexta-feira, após a apresentação de 50 coleções de estilistas de todo o mundo, parece fazer ouvidos moucos aos apelos urgentes para pôr um limite na magreza das modelos, assunto que já domina a mídia britânica.

O poderoso presidente do Conselho de Moda Britânico (BFC, na sigla em inglês), Stuart Rose, chegou a desconsiderar a polêmica, ao lançar nesta segunda-feira a Semana Londrina, em um café da manhã regado a champanhe.

Diante de dezenas de jornalistas britânicos e estrangeiros, Rose qualificou a polêmica de "menor", enfatizando o papel que Londres desempenha no mundo da moda, onde brilham sobretudo Paris e Milão, as capitais da alta costura.

"Londres é a capital dos novos talentos da moda", disse Rose, que em resposta ao apelo de Jowell limitou-se a declarar que a discussão sobre a magreza extrema das modelos é razoável, mas que não deve dominar a Semana da Moda.

Vários dos desfiles desta segunda-feira, entre eles os de três jovens estilistas reunidos na firma Noir e o da dupla Grahani Strok, contaram com a participação de Lily Cole, uma modelo de 17 anos, cuja massa corporal é de apenas 14, muito abaixo do limite de 18 imposto por Madri.

Aparentemente alheia à controvérsia, Cole exibiu vestidos etéreos brancos, acompanhados de largos cinturões pretos, que deixavam à mostra suas pernas interminavelmente longas e extremamente finas.

O estilista americano Ben de Lisi, que apresentou uma coleção cheia de cores mediterrâneas e diamantes "no valor de um milhão de dólares", recusou-se, por sua vez, a entrar na polêmica sobre o manequim de suas modelos.

"Desde que sejam belas e saudáveis e naturalmente magras, desfilarão na minha passarela", disse à AFP o estilista, cuja coleção de cores verde maçã, fúcsia e lavanda, mas também muito preto e branco, foi considerada por especialistas da moda como "uma das melhores" apresentadas em Londres.

Hillary Riva, executiva do BFC e organizadora da Semana da Moda, negou que Londres deva seguir o exemplo de Madri, impondo restrições às modelos.

"O BFC não comenta se interfere na estética dos desfiles dos estilistas", afirmou Riva, destacando que são os criadores que devem dizer que modelos querem para seus desfiles.

Já a modelo Erin O'Connor disse que a discussão sobre a magreza das modelos é necessária. "Acho que é uma discussão que ocorrerá em seu momento e que todas as contribuições são bem-vindas", disse à AFP a modelo, que dificilmente poderia desfilar nas passarelas espanholas.

A especialista de moda Irina Begley considerou que estas regras são "ridículas" e que obedecem "à moda do politicamente correto".

Estes regulamentos "nunca serão aplicados", previu a especialista.

Na quinta-feira, um dia antes do encerramento da Semana da Moda londrina, a discussão terá uma trégua e todos os olhares se voltarão para o estilista italiano Giorgio Armani, presente pela primeira vez ao evento.