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Nina Lemos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Falas machistas de aliados de Tebet e Gabrilli são inadmissíveis em 2022

Falas machistas de aliados chamam a ateção no lançamento da chapa Tebet-Gabrilli  -  O Antagonista
Falas machistas de aliados chamam a ateção no lançamento da chapa Tebet-Gabrilli Imagem: O Antagonista

Colunista de Universa

03/08/2022 12h39

Esse ano, mais que nunca, os partidos políticos resolveram colocar mulheres em destaque no jogo eleitoral. Ótimo. Mas não se enganem. Isso não acontece de graça, só porque os homens que tradicionalmente mandam nesse ambiente resolveram finalmente nos ouvir. Mas porque as mulheres votam e podem decidir uma eleição. E também porque as pautas das mulheres cada vez são mais populares. Finalmente. Que bom. Mas, será que esse ambiente tão masculino, dominado por anos por "machos, adultos, brancos", está preparado para receber mulheres e as tratar de igual para igual, como... pessoas que têm relevância política?

O lançamento da candidatura da senadora Mara Gabrilli (PSDB) como vice da candidata à presidência Simone Tebet (MDB), realizado na manhã de terça-feira (2), online, mostrou que o caminho é árduo. Isso porque as duas mulheres, que formam a única chapa feminina da eleição, foram vítimas de machismo já no lançamento da campanha. E, o que é mais absurdo, por figurões do próprio partido de Mara.

É surreal, mas, durante o evento, o senador José Serra elogiou as duas por estarem "muito bem arrumadas". Ainda falou que que elas "se produziram hoje. E nisso eu presto muita atenção". Pode ser um problema geracional, já que Serra tem mais de 80 anos. Mas, se querem se modernizar e finalmente incluir mulheres, os poderosos precisam estudar um pouquinho, conversar com mulheres ou apenas ficarem quietos.

Não se elogia uma mulher em um evento político dessa magnitude por "estarem bem produzidas". Era assim que as mulheres eram vistas no passado. Hoje, sabemos que isso reduz mulheres a "boas moças que se arrumam". Duas políticas experientes como Tebet e Mara são muito mais do que isso. Elas são senadoras da República como o senhor, poxa. Fica a dica.

Essa não foi a única "gafe" machista ocorrida no lançamento.

Já no início do evento, o senador Tasso Jereissati disse: "Ela (Mara Gabrilli) traz para nossa campanha junto com a Simone a mensagem de que só o amor e a docilidade da mulher podem unir de novo esse país."

Como assim, senador? Não somos todas belas, recatadas e do lar. E mulheres na política não ocupam o espaço que ocupam para serem "doces", mas para lutar por seus ideais e trabalhar, assim como os senhores.

Conheço Mara Gabrilli e sua luta. Ela é doce, sim, mas é sobretudo muito forte. E não, nem toda mulher é doce. A gente não nasce com essa característica.

Em seu discurso, Tasso afirmou ainda que Elena Landau, que coordena a área econômica da campanha, às vezes é um pouco rebelde. "Mas a gente controla", disse. Como assim?

Não é possível que, no lançamento de uma candidatura duplamente feminina para a presidência do país algo assim seja dito. Não estamos falando de uma eleição de grêmio estudantil. E Tasso, não, mulheres não são controladas por homens. Socorro.

"Ah, mas eles falaram sem querer, não foi essa a intenção", alguém pode dizer. Mas, então, que aprendam. Nunca é tarde para isso. O que não dá é para continuar agindo como "macho adulto branco no comando", para quem as mulheres devem ser dóceis e produzidas em pleno 2022.