Topo

Nina Lemos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Partido de Bolsonaro afronta mulheres e aposta em Gabriel Monteiro deputado

 O Antagonista
Imagem: O Antagonista

Colunista de Universa

09/06/2022 04h00

As cenas relatadas pelas vítimas que acusam o vereador e youtuber carioca Gabriel Monteiro são de filmes de terror. Segundo ex-funcionários, eles seriam obrigados a se masturbar coletivamente e a ter contato íntimo com o vereador, que, entre outras coisas, andaria com o pênis para fora em ambiente de trabalho.

"Só de ouvir a voz dele eu sinto nojo", disse Luíza Batista, uma das ex-funcionárias de Gabriel que o acusam. Ela contou também, em reportagem ao "Fantástico", que pensou em se matar após os abusos, por se sentir culpada. Esse é apenas um dos depoimentos, existem pelo menos mais de cinco acusações do tipo.

"Só" isso já seria mais que o suficiente para que Gabriel fosse banido da política e preso. Mas tem mais. O vereador também é acusado de estupro por pelo menos três mulheres. Elas relatam um comportamento parecido. Depois de carícias, ele se recusava a parar, mesmo depois de ouvir não, e se tornaria agressivo. Além disso, ele também é réu depois que um vídeo dele fazendo sexo com uma menor de idade vazou na internet. Ou seja, ele é investigado por pedofilia.

Como uma pessoa assim ainda tem trabalho e está solta? Mas o buraco ainda é muito mais embaixo.

Segundo analistas políticos, Gabriel não deve ser punido pelo seu partido, o PL. Muito pelo contrário, ele é uma grande aposta e pode ser "promovido". Eles planejam que ele saia candidato a deputado federal (sim, para nos "representar" em Brasília!). E calcula-se que sua votação passe de 300 mil votos, o que fará com que outros candidatos sejam beneficiados por ele e possam ser eleitos.

Mas, como assim? Ele não está sendo investigado? Até está. No momento, Gabriel responde a um processo na Comissão de Ética da Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro e pode ser cassado. Mas o lobby para que isso não aconteça é grande. Há também a esperança de que o trabalho da comissão não termine há tempo ou que o processo seja anulado, tudo para que ele saia candidato.

Fica até difícil comentar o quão absurda é uma coisa dessas. Mas, pelo jeito, no "vale tudo" eleitoral, o que conta são votos (e Gabriel, apesar de todas as acusações, continua tendo 18 milhões de seguidores no YouTube e "potencial"). É acusado de estupro? De pedofilia? Quem liga? Que se dane!

As ameaças de pedofilia, no caso, costumam incomodar os aliados de Bolsonaro apenas quando trata-se de exposições de arte ou capas de revistas em quadrinhos, e eles inventam que há um "incentivo à pedofilia" (onde não há). Quando a acusação é real, fecham-se os olhos.

Agradar as mulheres?

Um dos problemas da campanha de Jair Bolsonaro para a reeleição é atrair a simpatia das mulheres que, segundo pesquisa publicada pelo Datafolha, em todas as classes sociais, em maioria, repudiam Bolsonaro. Para isso, eles têm, por exemplo, dado mais destaque à primeira-dama Michelle Bolsonaro.

Mas eles acham mesmo que vai dar certo? Como atrair o voto feminino investindo em candidato acusado de estupro, assédio moral e sexual e pedofilia? Se é assim que Jair Bolsonaro pensa em conquistar a simpatia feminina, ele está duvidando, de novo, da capacidade intelectual das mulheres.

Agora, imagina se depois de todas essas acusações, Gabriel Monteiro conseguir se candidatar e for eleito? Mais uma vez, o recado será dado: o crime compensa. E abusador de mulheres pode ser representante do povo, com dinheiro dos nossos impostos. Isso é muito sério.