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Nina Lemos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Condenação de Robinho é lição para agressores que se acham acima da lei

Robinho foi condenado a 9 anos de prisão por estupro - Ivan Storti/Santos FC
Robinho foi condenado a 9 anos de prisão por estupro Imagem: Ivan Storti/Santos FC

Colunista de Universa

10/03/2021 12h48

Ano passado, uma série de diálogos entre o jogador de futebol Robinho e seus amigos, acusados de estupro coletivo pela Justiça italiana, chocaram o país.

Nas conversas, vimos uma pessoa fria, que dava risada das agressões praticadas e dizia coisas como: "ela foi rasgada por oito". Ele mostrava também um enorme descrédito com a Justiça italiana, que tratava como piada.

O jogador, então acusado de ter estuprado com amigos uma mulher em uma boate em Milão em 2013, não mostrava remorso e parecia certo de sua impunidade. Em uma das conversas, fala: "Estou rindo porque não estou nem aí. A menina estava bêbada. Não lembra de nada mesmo".

Bem, o susto deve ter sido grande para alguém que "não estava nem aí". Robinho foi condenado ontem a 9 anos de prisão pela Corte de Apelação de Milão e dificilmente vai escapar impune. As juízas do caso ainda observaram no processo que o jogador demonstrou desprezo pela vítima.

Sim, uma pessoa que se refere a uma mulher como algo que é "rasgado" demonstra total desprezo às mulheres. Um desprezo tão grande que faz com que o sujeito nem ache que cometeu um crime, já que mulheres (com exceção às suas companheiras, que eles colocam em outra categoria) são 'coisas' que eles 'jantam' (usando uma expressão do jogador).

Como ter medo de ser condenado se ele acha que nem praticou um crime, mas apenas "deu uma vacilada"? Além disso, claro, existe a certeza da impunidade.

Robinho tinha certeza que ficaria impune. Em suas conversas, ele demonstra apenas preocupação com sua imagem, afinal, o que "vão pensar" sobre uma estrela do futebol?

Ele não é o único. A maioria dos homens poderosos acusados do mesmo tipo de crime também acredita que nada vai acontecer. E, pior, eles nem estão errados ao pensar assim. Isso porque, muitas vezes, eles não são de fato condenados. Em vez disso, mulheres são culpabilizadas por causa das roupas que usam, das festas que vão.

Uma mulher que denuncia um estupro muitas vezes tem a sua vida ainda mais destruída, enquanto o acusado se safa sem maiores problemas.

Só para citar um exemplo recente: a influenciadora Mariana Ferrer, que foi humilhada em uma audiência judicial na qual era ouvida acerca de sua denúncia de estupro de vulnerável contra André de Camargo Aranha — não por acaso, um empresário poderoso, branco e rico. Aranha foi absolvido com uma sentença dizendo que o réu não tinha como "perceber a vulnerabilidade da vítima".

A condenação de Robinho é um alento, uma prova de que poderosos também podem pagar pelos seus crimes. Mas, mesmo assim, nos deixa, com um gosto amargo na boca. Se fosse no Brasil ele também seria condenado com retidão? Infelizmente, muito provavelmente ele teria escapado com um de seus "jeitinhos".