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REPORTAGEM

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Gases? Risadas? O que é normal numa consulta ginecológica - e o que não é

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Imagem: iStock

Colunista de Universa

27/02/2021 04h00

imaginou se a sua primeira ida à ginecologista viralizasse nas principais redes sociais do país? Foi o que aconteceu com a modelo Evellyn Kelly Ribeiro, de Ceilândia, cidade satélite de Brasília. Em seu Twitter, a modelo publicou: "A ginecologista enfiou dois dedos em mim e eu gemi sem querer. Por que eu sou assim? (Risos) Que vergonha!".

Quase que instantaneamente a postagem atingiu centenas de milhares de comentários e compartilhamentos no microblog e se espalhou por outras plataformas como Facebook, Instagram e TikTok. Um reflexo comum - o gemido foi de incômodo, como Kelly esclareceu depois - fez com que outras mulheres se identificassem com a história e também revelassem algumas situações engraçadas, inusitadas e até constrangedoras que vivenciaram durante exames ginecológicos.

"Eu ia emendar uma tosse", respondeu uma internauta, sobre o gemido durante a consulta. "Uma vez a doutora pediu licença e eu falei 'pode entrar, fica à vontade' (gargalhada). Choro até hoje de vergonha."

A partir daí, as mulheres passaram a relatar seus casos, que envolvem todo o tipo de constrangimento. "Quando fui à ginecologista e ela fez isso em mim, eu levei um susto que travei. Aí ela disse: 'você tá com cocô aqui'. E eu soltei um: 'é, e se você apertar mais eu vou cagar'."

"Eu tava muito ansiosa pra consulta na gineco. Meu primeiro preventivo. Daí tava indo no banheiro toda hora e secando bem pra deixar a bicha toda pomposa. Na hora eu olhei na televisãozinha e voilà! Minha xereca toda arreganhada e cheia de papel higiênico. Pasmem. E o pior foi ela: 'então, esse branquinho aqui é o papel higiênico, tá?'"

Na primeira vez que fui à gineco, tava super tensa. Aí ela colocou os dedos lá e o que eu fiz? Isso mesmo. Eu soltei uma gargalhada sincerona de nervoso.

"Eu peidei! (Risos) Ela fingiu que não aconteceu nada e seguiu firme. E eu fiquei fazendo cara de paisagem."

"Na primeira vez que fui à ginecologista, ela mandou tirar a roupa. Eu tirei, mas continuei de sapato. Pelada e de sapato. Eu parecia o Sonic."

Se uma (ou várias) dessas situações já aconteceu com você (comigo já), relaxa, elas ocorrem o tempo todo nos consultórios. Quem garante é a médica Jacqueline Mazzotti, ginecologista pós-graduada em Sexualidade Humana.

"Algumas reações são humanas. Risadas, puns. Sai sem querer. O jeito é encarar com naturalidade. Essa situação de gemer durante o exame nunca aconteceu comigo, mas a gente tem muito cuidado com essa questão. É importante o médico se resguardar chamando uma assistente (ou acompanhante da paciente) e deixando claro o objetivo do exame: é preciso ver o ovário, o útero, checar se há alguma dor à mobilização do toque", explica a médica.

Exame de toque: é incômodo, mas necessário

O exame de toque no canal vaginal, realizado com dois dedos, é necessário para que o profissional avalie a pelve da paciente.

"Se há alguma massa no ovário, se o volume do útero está aumentado, se há dor ao toque. Esse tipo de avaliação é muito importante. A gente analisa também as paredes vaginais. Se a paciente contrai muito, é possível identificar o vaginismo (contração involuntária dos músculos da vagina) somente tentando fazer o toque", relata a ginecologista.

Para o sucesso do exame, a orientação é de que os pacientes evitem relações sexuais 48h antes da consulta e não usem qualquer tipo de creme vaginal por 72h. Jacqueline lembra ainda que não estar menstruada facilita o preventivo e que duchas vaginais nunca devem ser feitas.

Limites e protocolos para evitar saia-justa

"Em relação ao exame físico, é recomendado usar um avental. A paciente não vai ficar totalmente nua. É importante frisar que se o exame é na mama, o genital não vai ficar descoberto. Se o genital está sendo examinado, a mama não vai ficar descoberta. E tem a questão de se pedir licença. Quando vou examinar, falo 'com licença'. Acho que é importante entender o limite da paciente."

Jacqueline destaca ainda que todo exame físico segue um protocolo. "O médico vai tocar, mas vai tocar procurando alguma coisa. O toque vai ser na axila, vai ser na mama, mas com um sistema. A gente costuma tocar uma mama, depois a outra. Não faz parte da prática médica ficar deslizando ou acariciando o mamilo, nada disso. O que acontece numa relação sexual é totalmente diferente", indica.

"Em relação ao toque pélvico, genital, que é um pouco mais compressivo, pode causar um pouco de desconforto, mas se a paciente falar 'para', ninguém pode forçar. Isso seria um abuso", pontua Jacqueline.