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Fabi Gomes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Gostar do próprio corpo leva tempo; não faça disso mais uma cobrança

Photo by Kira auf der Heide on Unsplash
Imagem: Photo by Kira auf der Heide on Unsplash

Colunista de Universa

16/08/2022 04h00

Desde que Seu Darwin apareceu, a gente tá na crença de que devemos evoluir. Pois é, seguimos tentando. Mas não é fácil, viu? Nalguns temas, a gente se liga das ciladas. Lê, troca cas amigas. Aprende de onde veio a arapuca. Se liga sobre quem e por que a montou.

Tá meio brisada demais essa conversa? Pensa na tua relação com teu corpo. Hoje em dia, a gente já pode falar sobre tudo isso abertamente. Temos nossas redes de amigas, publicações, programas, filmes, temos Universa. Rolam movimentos superimportantes, como o do Corpo Livre, por exemplo.

Beleza, a gente já tá ligada na perfídia do rolê. Controlar nossos corpos e nossas mentes. Entubar padrões impossíveis de serem alcançados ou alcançáveis a altíssimos preços. O plano é tão bem executado, que não tá só no que pode ser visto, como espartilhos, sutiãs, saltos, calcinhas modeladoras e toda sorte de elementos norteadores das formas e da estética feminina.

Eles zoam as cabeças também. E as inscrições, que foram sendo realizadas ao longo de toda uma vida, não podem ser magicamente apagadas. Vamos pensar numa mulher na casa dos quarenta, cinquenta anos. Cresceu vendo Xuxa e suas paquitas na TV, assim como todas as outras mulheres brancas e magras que sempre estiveram massivamente sob os holofotes.

Em toda parte, quando se expunha uma imagem considerada bela, tinha um certo padrão observável. Tinha? Tô falando no passado, mas, ainda hoje, em 2022, com tanto avanço nas discussões e alguma sofrida conquista de espaço, a gente ainda vê, com perturbadora frequência, esse velho perfil ostentado e o mesmo discurso sustentado.

Temos avançado. Há mais representatividade, isso é inegável. Mas a gente precisa continuar falando e revelando o absurdo. Ocupar os espaços com outras cores e formas. Assim como precisamos, urgentemente, parar de condenar quem ainda tá no processo de descoberta, reconhecimento, e, muitas vezes, estranhamento desse corpo.

Ainda que se saiba (na teoria) sobre as origens do controle, que ele é sórdido, que tá errado, muito errado, muitas vezes o sofrimento pode seguir presente. A desconexão com a própria imagem (a.k.a. dismorfia corporal), o rechaço das próprias formas. Esse trabalho de elaboração é absolutamente subjetivo, em muitos casos, lento, muito lento, e deve ser respeitado.

Falando de um dos clássicos relacionados ao assunto, o "querer emagrecer", por exemplo. Nada de fazer braço de xícara pra amiguinha, apontar o indicador da outra mão e lançar: "Ah, esse papo de emagrecer não tem nada a ver. Você precisa parar com isso!". Se você já atingiu a evolução, alcançou o discernimento no tema e tá louca de vontade ajudar tua amiga, ofereça perguntas que ajudem a levá-la por uma construção de raciocínio que, "se pá", pode abrir umas picadinhas na mata dazideia.

Abra os olhos dela sobre como falar do assunto e sobre como isso pode afetar outras ao redor. Talvez ela possa refrasear afirmações duras e cruéis sobre a própria imagem. Mas, se ela acreditar que perder alguns quilos vai ajudá-la a se sentir melhor, sugira opções que levem em conta a saúde dela. Não só a física, mas a mental também. Tudo isso levando em consideração teu amor por tua amiguinha e tua evolução e conhecimento no tema. Acolha.

Reprogramação leva tempo e cada um tem o seu. Só não dá pra isso se tornar outro mecanismo de cobrança sobre nossas cabeças "Ah, agora você PRECISA se aceitar, linda!". Opa, pera aí, tô tentando. Vou me aceitando conforme posso, enquanto posso.

Vem conversar comigo? Me escreve no @fabi.gomes