Ana Canosa

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Opinião

Pesquisa traz tendências para encontros em 2024 - e elas não são tão novas

O aplicativo de relacionamentos Happn fez um levantamento com 4000 usuários em 4 países —Brasil, França, Índia e Noruega— e apresentou o "Trendbook 2024", um guia que abrange as 5 tendências futuras de comportamento nas relações amorosas. São elas:

1. "Romance Peculiar": a inclinação é valorizar relacionamentos leves e autênticos, dando importância às peculiaridades das pessoas e suas imperfeições —no Brasil, 64% dos entrevistados expressaram atração por características que entendem como "autênticas".

2. "Amor Fora da Caixa", em que mais de 66% dos brasileiros se dizem abertos a ter relações com pessoas de perfis diversos.

3. "Nas Mãos do Cupido": destaca o ressurgimento do matchmaking, ou seja, da ajuda externa, como a de amigos, de familiares e de ferramentas tecnológicas, para encontrar um par. E para esse empurrãozinho dar certo, 73% brasileiros se consideram confiantes em sua intuição.

4. "De Volta aos Relacionamentos" ressalta a busca por compromissos emocionais recíprocos, com 86% dos usuários do happn desejando isso globalmente.

5. "Atividades Para Quebrar o Gelo" revela a preferência por encontros ao vivo, com atividades criativas como alternativa aos tradicionais bares e jantares, sendo 77% dos brasileiros a favor dessa abordagem.

Para o Happn, o estudo sugere uma mudança de paradigma nas regras do amor, promovendo experiências "intuitivas, cautelosas e cheias de ousadia e criatividade".

Porém, essas trends não são tão novas assim. Eu mesma praticamente gabaritei as tendências quando conheci meu marido, no início dos anos 2000.

Conheci o Paulo em uma pizzaria, no aniversário de uma colega em comum. Na época eu estava com 32 anos, divorciada, livre, leve e solta e vivia sozinha, no meu apartamento, pagando as contas, trabalhando, viajando, fazendo esportes, dançando e curtindo a vida.

O fato de termos uma pessoa conhecida entre nós certamente favoreceu esse encontro, pois as amizades normalmente refletem valores e um jeito de levar a vida meio assemelhado - ou seja - a bolha que vivemos - facilitando a identificação.

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Mas ficar "nas mãos do cupido" também pode atrapalhar, principalmente quando a sua "amiga" tem assim uma visão tendenciosa da sua pessoa. No nosso caso, a frase dela para meu marido foi que eu era "alguém para não se levar a sério", um matchmaking às avessas.

Lembremos que era o início dos anos 2000, que ela não me conhecia tão bem e que eu estava de rolo com um amigo da outra amiga, do mesmo grupo, o que preconceituosamente podia gerar esse tipo de julgamento moral sobre o meu comportamento. Além de ser "A Sexóloga", uma profissão bem incomum para a época, sabem como é.

Já a perdoei faz tempo. O importante da história é que Paulo não se intimidou, até porque ele estava tão livre, leve e solto como eu e interessado em sexo —como eu. Mostrou que gosta mesmo é de mulher autônoma e desejante e eu não ia querer outro tipo de parceiro para mim.

Na época, nem eu, nem ele estávamos 'buscando alguém' para nos relacionarmos em compromisso, mas quando a química bateu, foi um tanto orgânico querer ficar junto, sem muita dúvida, nem vontade de estar com outras pessoas.

Excetuando o 'Amor Fora da Caixa', eu e meu marido Paulo gabaritamos as tendências de 2024 quando nos conhecemos ainda no ínicio dos anos 2000, sendo prova viva de que, passa década, entra década, mudam as letras das gerações, mas, em termos de necessidade afetiva, as pessoas sentem falta da mesma coisa: conexão, autenticidade, criatividade, leveza, comprometimento e, quem sabe, precisem de uma ajuda extra do cupido (tô pensando aqui que a propaganda "inversa" me parece instigar tanto quanto)

Vou considerar que o encontro na pizzaria não fora assim tão criativo, mas reforço que logo de cara convidei-o para irmos juntos à academia onde eu fazia escalada indoor —um esporte que também era incomum, então considero um check para 'atividades de quebrar o gelo'. E que a intuição dele nos salvou, certamente, do julgamento premeditado sobre ser ou não uma pessoa a se investir emocionalmente.

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Talvez, a grande diferença da juventude dos anos 2000 com a de agora esteja muito mais na predisposição de enfrentar os conflitos e manter a relação —estamos casados há 21 anos— do que nas características que impulsionam uma conexão.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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