HPV atinge de 50% a 80% da população: camisinha ajuda, mas não resolve
Existem mais de 200 variantes do vírus HPV, algumas de alto risco, associadas aos cânceres de colo de útero, pênis, ânus e orofaringe. Estima-se que de 50% a 80% da população se tornem infectadas com o papilomavírus humano ao menos uma vez na vida. Além de algumas pessoas não desenvolverem sintomas, eles podem demorar anos para aparecer, por isso às vezes fica difícil saber quem transmitiu o HPV.
As mulheres têm sido as maiores vítimas, já que ele é o grande responsável pelos cânceres de colo de útero, que em casos graves e de diagnóstico tardio podem levar a morte. É o terceiro tipo de câncer que mais acomete mulheres no Brasil e o quarto que mais mata. Cerca de 70% das mulheres no Brasil fazem exame papanicolau regularmente, o maior aliado para detectar a presença de problemas na região da vagina e colo do útero. As mulheres pobres e negras têm menos acesso aos exames de rotina e, portanto, as que mais morrem da doença.
Outras populações são negligenciadas, como as mulheres trans com neovagina, que podem ser contaminadas em relações penetrativas — devemos lembrar que a glande do pênis é a região com maior concentração do vírus. Homens trans que têm colo de útero também precisam fazer exames regulares. Mulheres lésbicas também podem ser acometidas, pois o HPV é um vírus de contato — pele com pele, mucosa com mucosa, além de que o compartilhamento de objetos penetrativos pode transmitir também. O preservativo ajuda na prevenção, mas não protege 100%. Em uma relação sexual heterossexual, o contato da pele com a base do pênis que não está coberta pelo látex pode contaminar.
Verrugas genitais são lesões comuns provocadas por alguns subtipos de HPV: elas podem aparecer no pênis, na vulva, no colo do útero. O tratamento, de cauterização, cura a lesão, mas o vírus pode ficar presente com carga muito baixa e, com a própria reação imunológica da pessoa, desaparecer em até dois anos, sendo necessário acompanhamento médico durante esse período. No entanto, continua o risco de ser contaminada pelo mesmo subtipo ou outro, a não ser que a pessoa esteja vacinada para aquele subtipo. Ninguém morre de verruga genital, mas a depender da variante, elas podem ser lesões pré-câncer, aumentando o risco da pessoa pode perder um pedaço do colo de útero, aumentando risco da prematuridade dos bebês, dificuldade para engravidar e também de transmissão vertical.
Mas as lesões podem também aparecer na boca, garganta, por transmissão do vírus pelo sexo oral. Estima-se que 35% dos cânceres de cavidade oral e orofaríngeo são provocados pelo HPV do tipo 16, transmitidos pelo sexo oral. Os sintomas podem levar até 30 anos para aparecer, por isso é mais comum em adultos entre os 40 e 60 anos. Então, embora os homens sejam aqueles que menos desenvolvam sintomas genitais e, por isso, são os vetores silenciosos do HPV, os cânceres de cavidade oral e orofaríngeo estão entre os dez tipos de maior incidência em homens brasileiros — mais um motivo para que se vacinem.
O Ministério da Saúde divulgou em fevereiro que a meta mínima de vacinação de 80% do público-alvo, com duas doses, não foi batida. Segundo o informativo, entre a população feminina, as coberturas vacinais atingiram 75,91% e 57,44% para a primeira e a segunda dose, respectivamente. Os números são mais graves entre os meninos: nesta população, para a primeira e a segunda dose, as coberturas vacinais foram de 52,26% e 36,59%, respectivamente. O que estamos esperando para mudar essa mentalidade?
A vacina quadrivalente, que cobre quatro subtipos ligados a cânceres, está disponível no SUS para meninas e meninos de 9 a 14 anos e pessoas imunossuprimidas de 9 a 45 anos. Na rede privada, há a vacina nonavalente, que protege de mais cinco variantes. Todas as pessoas sexualmente ativas, independentemente de idade, podem se beneficiar da proteção.
Cada um de nós é responsável pela sua saúde sexual e corresponsável pela de suas parcerias. Quando somos acometidos por uma IST, o sexo pode ficar associado a dor, sofrimento, culpa, vergonha. Profissionais de saúde precisam ser orientados para falar sobre sexualidade com seus pacientes, com foco no acolhimento e cuidado, sem viés moral. Aliás, são os julgamentos negativos sobre a conduta sexual das pessoas que retroalimentam comportamentos de risco. Preservativo, vacina, exames de rotina e comunicação clara entre as pessoas são fundamentais para o combate do HPV.
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