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Cristina Fibe

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Defesa de Dani Alves usa ex-mulher dele pra colar imagem de bom moço?

Cristina Fibe

Colunista de Universa Universa

08/06/2023 04h00

Embora tenha pedido a separação do jogador Daniel Alves, Joana Sanz deu nesta semana uma entrevista em que defende o ex-marido da acusação de estupro.

É difícil aceitar que colocamos em nossas vidas um abusador. Como podemos confiar no nosso próprio julgamento se admitirmos que a pessoa em quem depositamos tanto amor é capaz de ato tão brutal quanto um estupro? O mundo ficaria insuportável.

Em entrevista à revista espanhola "Vanitatis", Joana diz ter ficado em choque diante da denúncia, feita em dezembro de 2022. Não é a primeira mulher que Daniel Alves deixa nesse estado. A palavra choque também foi usada pela jovem de 23 anos que o acusa de tê-la estuprado numa boate de Barcelona. O jogador, preso desde 20 de janeiro, negou ter cometido a violência e já deu ao menos cinco versões diferentes às autoridades.

Mas o que quero destacar aqui são os relatos dessas duas mulheres, a ex e a jovem que o denunciou:

A vítima afirmou à polícia que foi levada por Daniel a um banheiro, e que só passou pela porta por achar que dava para uma área VIP ou para a rua.

"Era um banheiro muito pequeno. Acho que foi aí que começou meu choque, não entendi nada, fiz menção de me virar e ele já tinha fechado a porta."Ela diz que Daniel a jogou no chão e foi penetrada mesmo dizendo "não posso, tenho que ir, não quero".

O jogador, 17 anos mais velho que a vítima, era casado desde 2017 com Joana, cuja mãe estava doente e morreria semanas depois daquela noite.

Joana diz que, "a princípio, não acreditou em nada": "Estava em choque. E tudo me pareceu muito sério. Ele entrou na prisão sem nenhuma prova".

Ela pede que ninguém o condene antes do julgamento: "Acredito na inocência dele e espero não estar enganada. Conhecendo-o, posso dizer que o Dani não é má pessoa. Que ele estragou nosso casamento, até o fundo, sim. Mas acho que ele nunca teria feito isso sabendo que poderia perder tudo".

Joana culpa a si própria pelas cinco diferentes versões que Daniel contou à polícia: "Acho que ele fez isso por mim, para não me dar outra paulada. Quando foi preso, minha mãe havia morrido há uma semana, e suponho que ele não queria me fazer sofrer mais."

Ela enfatiza que só pediu o divórcio porque houve traição. Frisa que o "ama e vai amar para sempre": "Dani é a minha família".
A modelo diz que o casal estava superbem enquanto o marido perseguia outra mulher numa boate. Ela não o questionava por ser "uma pessoa muito fácil e que não discute".

Ela já foi visitá-lo na prisão ao menos quatro vezes, e pede que ele telefone todos os dias. Ela quer saber se ele se alimentou, fez exercícios e dormiu bem. Precisa cuidar dele, que "só chorava" ao ser preso.

Não sabemos o que está por trás das palavras de Joana. A figura do bom moço, marido que vai até no enterro da sogra, pode pesar a favor de Daniel no tribunal. A defesa sabe que colocar a palavra de uma vítima em xeque é uma estratégia que cola.

É pena que essa estratégia ganhe o reforço de uma mulher que, como ela diz, também é vítima. O reforço da figura feminina dócil, que não contraria e não dificulta a vida do homem, que cuida dele mesmo na prisão, mesmo traída, ajuda a desenhar o que está por trás de todo esse discurso: cada um tem o seu papel, e Daniel Alves estava cumprindo o dele. Agora, é papel da opinião pública lembrar que os tempos em que abusadores não tinham punição ficaram pra trás.