Topo

Qual a liberdade de expressão que Elon Musk quer pôr em prática no Twitter?

Elon Musk no Cabo Canaveral, na Flórida  - Reuters/Joe Skipper
Elon Musk no Cabo Canaveral, na Flórida Imagem: Reuters/Joe Skipper

Ligia Hougland

Correspondente da RFI em Washington

28/04/2022 09h37

Desde que foi divulgado que Elon Musk havia comprado a plataforma Twitter por US$ 44 bilhões, na segunda-feira (25), o assunto domina não só os noticiários americanos como as discussões nas redes sociais. Enquanto um grupo comemora a aquisição, pois acredita que protegerá o direito de liberdade de expressão, outro teme que o bilionário terá um controle excessivo sobre o debate político e social.

O Twitter é uma plataforma de enorme alcance em discussões importantes que podem moldar políticas e comportamentos. A rede é uma praça pública digital com cerca de 330 milhões de usuários —77 milhões apenas nos Estados Unidos—, onde qualquer um pode expressar sua opinião e falar com algumas das pessoas mais poderosas do planeta.

Criada em 2006, a rede começou com poucas regras sobre as mensagens publicadas. Com o tempo e um maior engajamento online, as regras foram se tornando cada vez mais extensas e abrangentes. Nos últimos anos, tornou-se comum que usuários fossem suspensos, ou até mesmo banidos, por divulgarem mensagens que colocavam em dúvida a eficácia das vacinas contra Covid, os perigos da mudança climática ou questionavam a diversidade de gêneros sexuais, por exemplo.

Dois dias depois da invasão do Capitólio, em janeiro de 2021, Donald Trump foi banido do Twitter. O polêmico ex-presidente Trump era atuante na plataforma e foi em grande parte graças ao Twitter que ele conseguiu tantos eleitores.

Por enquanto, Trump diz não ter interesse em retornar à rede, especialmente porque lançou uma plataforma concorrente: a Truth Social (Verdade Social, em português). Nesta semana, a plataforma de Trump está em primeiro lugar entre os aplicativos mais baixados, com Twitter ficando em segundo lugar.

Musk tuitou sobre isso na quarta (27) e aproveitou para criticar o nome da plataforma rival que disse ser "terrível" e sugerir que o nome deveria ser "Trumpet", em um jogo de palavras com o instrumento musical trompete e a expressão animal de estimação de Trump.

Que liberdade de expressão?

A suspeita de que o Twitter somente limitava a liberdade de expressão de usuários não alinhados com as políticas liberais da empresa ficou cada vez mais forte, sendo apoiada até por Musk.

O empreendedor condena especificamente o fato de, a poucas semanas da eleição presidencial de 2020, a plataforma ter censurado a divulgação de uma matéria do New York Post expondo as mensagens encontradas em um laptop de Hunter Biden, filho do candidato democrata. As mensagens indicavam o envolvimento de Joe Biden em um esquema de troca de influência por dinheiro com empresas em países como Ucrânia e China, além de outros conteúdos que poderiam prejudicar a campanha do democrata.

Na ocasião, os russos foram acusados de terem plantado o falso laptop. Depois da eleição, foi confirmado que o laptop era legítimo e, agora, o computador faz parte de uma investigação do FBI sobre as atividades de Hunter Biden.

Musk declara se opor a qualquer censura que vá além do que é estipulado por lei e promete que fará com que a rede volte à sua forma original. O direito à liberdade de expressão é garantido de forma bastante ampla pela constituição americana.

Ao mesmo tempo em que Musk está sendo festejado pelos conservadores no Twitter, ele é alvo de progressistas que o acusam até de racismo.

Muitos -principalmente membros da mídia progressista americana- temem que um Twitter com menos regras possa semear discursos de ódio e acreditam que ter o homem mais rico do planeta no comando da praça pública representa uma ameaça ao processo democrático.

No entanto, os críticos do bilionário não reclamam que o liberal Jeff Bezos, o segundo homem mais rico do mundo, comanda o poderoso Washington Post, além da maior loja online, a Amazon.

Musk diz não ter fins políticos

O empreendedor não é especialmente ligado em política, apesar de já ter contribuído mais para campanhas de democratas do que de republicanos.

Ele diz que não fez essa compra pensando em ganhar dinheiro, mas apenas porque quer promover a liberdade de expressão com uma plataforma inclusiva e até tuitou que espera ver seus maiores críticos na rede.

O co-fundador do Twitter, Jack Dorsey, que já admitiu em uma entrevista que a empresa tem um viés de esquerda, festejou a venda para Musk tuitando que acredita que este é o caminho certo. Já os funcionários da empresa não estão muito contentes com o novo chefe. A tensão ficou ainda mais evidente após Musk ter criticado publicamente a diretora de políticas e segurança da empresa, Vijaya Gadde.

Musk defende que seu objetivo é o de ter uma rede social neutra e de confiança. "Para que o Twitter mereça a confiança do público, precisa ser politicamente neutro, o que significa incomodar de modo igual tanto a extrema direita quanto a extrema esquerda", disse o novo proprietário da plataforma.

Mas é preciso esperar para ver como o Twitter ficará sob a nova administração. Musk tem um bom relacionamento com a China, mercado importante para suas empresas. Só o tempo dirá se Musk vai mesmo priorizar a liberdade de expressão, mesmo se isso incomodar seu grande cliente asiático.