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Clique Ciência: dinheiro pode fazer mal à saúde?

Tatiana Pronin

Do UOL, em São Paulo

26/08/2014 06h00

A presidente Dilma Rousseff admitiu, recentemente, que guarda R$ 152 mil em espécie em casa. Deixando de lado o risco de roubo e as possíveis perdas financeiras, guardar muitas cédulas e, principalmente, manipular esse dinheiro com frequência não é uma boa ideia.

Em primeiro lugar, dinheiro é algo sujo. Muito sujo, segundo uma pesquisa científica feita com notas de real, em 2001, pelo microbiologista João Carlos Tórtora, do Instituto de Pesquisas Biomédicas da Universidade Gama Filho, no Rio. Após analisar 110 cédulas de R$ 1 (atualmente fora de circulação), ele encontrou 30,4 bactérias e fungos por centímetro quadrado, ou seja, 83.900 micro-organismos por nota. Os resultados culminaram até na publicação de um livro, chamado “Dinheiro Sujo” (Ed. Nelpa).

Em uma pesquisa feita posteriormente, com técnicas mais modernas, ele detectou a presença de mais de 100 micro-organismos por centímetro quadrado em notas de baixo valor, e chegou a dizer em entrevistas que o número pode ser bem mais alto.

Entre as bactérias mais frequentes nas cédulas, segundo a pesquisa, estão as do gênero Staphylococcus. Algumas espécies causam infecções como terçol, acne, otite ou sinusite, quando passam da pele para o nosso organismo. Em alguns casos, esse tipo de bactéria pode causar septicemia, um tipo de infecção bem mais grave e letal.

O pesquisador também encontrou quantidade considerável de coliformes fecais nas notas. Isso seria consequência do fato de que nem todo mundo costuma lavar as mãos depois de usar o banheiro. Essa regra de higiene, infelizmente, não é tão popular quanto se imagina: uma pesquisa com brasileiros feita pela consultoria inglesa TNS Global Market Research, em 2010, mostrou que 51% não passam pela torneira após deixar o vaso sanitário.

Outro estudo, divulgado por uma equipe do Hospital das Clínicas de Genebra, na Suíça, durante o primeiro surto de gripe A (H1N1), mostrou que o vírus influenza pode sobreviver até 17 dias em notas de papel moeda. Ou seja: bastaria comprar alguma coisa e depois levar as mãos ao nariz ou à boca para se contaminar.

Evite a contaminação

Se muita gente ainda resiste a esfregar as mãos com água e sabão depois de usar o banheiro, convencer a população a fazer isso depois de tocar em dinheiro é uma missão quase impossível. Mas não custa tentar. Manter um álcool gel por perto e evitar levar os dedos à boca são atitudes sensatas.

O pesquisador da Gama Filho que estudou a contaminação do real também avaliou notas de plástico de R$ 10 (lançadas temporariamente pelo Banco Central) e viu que a contaminação foi bem menor, embora expressiva: 4,6 micróbios por centímetro quadrado. A produção de cédulas desse tipo, no entanto, é bem mais cara. Por isso é improvável que elas venham a substituir as de papel num futuro próximo.

As moedas, por serem de metal, tendem a acumular menos micro-organismos, segundo especialistas, mas também podem reunir bastante sujeira. Então, talvez a saída seja, mesmo, dar preferência ao cartão.

Alergia a dinheiro?

Além da contaminação por vírus e bactérias, cédulas podem ser ricas em fungos, o que traz outro problema: o risco de reações alérgicas. Em pessoas predispostas, a inalação desses micro-organismos pode agravar alergias respiratórias – mais um motivo para deixar o dinheiro longe do colchão, que também costuma encher de ácaros.

Os especialistas também apontam outra possibilidade de reação alérgica ao se manipular notas: a dermatite de contato gerada pela tinta utilizada na impressão. Segundo Fábio Castro, presidente da Asbai (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia), o risco, em tese, é maior quando a nota é muito nova.  Mas o problema é muito difícil de ser detectado e comprovado, já que, por questões de segurança, ninguém sabe direito a composição da tinta

“Outra possibilidade é a alergia ao níquel (dermatite de contato)”, comenta Castro, referindo-se às moedas, que podem conter ligas desse elemento. Ele ressalta, porém, que a alergia ao dinheiro não é algo que os médicos veem com muita frequência nos consultórios. Para sorte de sente um comichão só com a ideia de se separar do seu rico dinheirinho.