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Fábricas dos EUA começam a sentir tensões causadas pela transformação digital

22/12/2017 18h59

COLUMBUS, Estados Unidos (Reuters) - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem colocado como prioridade de sua agenda econômica a retomada de empregos na indústria do país. Mas quando os postos de trabalho voltam efetivamente, muitos funcionários não estão preparados para eles e os empregadores têm dificuldade em contratar pessoas com as habilidades necessárias.

A criação de empregos na indústria nos Estados Unidos está próxima de uma máxima de 15 anos e as fábricas estão contratando no ritmo mais rápido desde 2014, com muitos empregadores dizendo que as vagas mais difíceis de serem preenchidas envolvem habilidades técnicas que pagam salários maiores.

Em 2000, mais da metade dos trabalhadores da indústria dos EUA tinha apenas diploma do ensino médio ou inferior, de acordo com o Centro de Estatísticas Trabalhistas. Hoje, 57 por cento dos trabalhadores da indústria têm treinamento em escolas técnicas, superior incompleto ou diplomas universitários e quase um terço dos trabalhadores têm bacharelado ou níveis avançados, ante 22 por cento em 2000.

Mark Mauro, associado sênior da Brookings Institution, disse que a digitalização pela qual a economia está passando está forçando os funcionários a procurar diferentes conjuntos de trabalhadores - e pagar mais em alguns casos para profissionais com habilidades técnicas.

Um novo estudo de Muro descobriu que aqueles com mais habilidades digitais tiveram, em média, crescimento salarial de 2 por cento ao ano desde 2010, enquanto os pagamentos daqueles com habilidades intermediárias subiram 1,4 por cento e os com um nível inferior de conhecimentos avançou 1,6 por cento.

A inadequação das habilidades pode ser verificada em fábricas da fabricante de autopeças Faurecia, em Columbus, no Estado de Indiana.

A fábrica mais antiga da companhia, Gladstone, tem 500 operários e apenas alguns robôs. A nova, ColumbusSouth, tem cerca de 400 operários e aproximadamente 100 robôs, incluindo 30 veículos automatizados que transportam materiais em vez de rebocadores pilotados por humanos. Ambas as instalações produzem sistemas de exaustão.

A companhia investiu 64 milhões de dólares em sua nova fábrica e convidou funcionários treinados na fábrica antes a se candidatarem às vagas. Muitos funcionários, como Sandy Vierling, foram atraídos por salários mais altos. Ela viu seu salário aumentar de 16,65 dólares por hora para 18,80 dólares por hora em Columbus South. Cerca de 150 fizeram a mudança, de acordo com o sindicato que representa os trabalhadores nas duas fábricas, a Irmandade Internacional de Trabalhadores do Setor Elétrico.

Mas alguns disseram não à oportunidade. Christina Teltow disse que nunca a considerou. A funcionária de 42 anos trabalha há 22 na Gladstone. Recentemente, ela recebeu uma promoção, mas anteriormente trabalhava como "líder de lacunas", uma das melhores funções que alguém que estudou apenas até o ensino médio pode obter na fábrica. O trabalho inclui a supervisão das agendas de funcionários e o monitoramento da qualidade das peças.

O mesmo trabalho na Columbus South requer 16 créditos em administração de empresas da faculdade técnica local, assim como conhecimento no uso de computadores para acompanhar a produção e os prazos. "Aqui, eu chego e trabalho com as máquinas", disse ela. "Na South é totalmente diferente - é tudo feito por robôs".

A empresa diz que um dos motivos pelos quais a nova fábrica precisa de vários robôs é porque produz um tipo de produto diferente. Na Gladstone são produzidos sistemas de exaustão para veículos leves, enquanto a Columbus South se dedica a sistemas de exaustão comerciais muito maiores, usados em grandes caminhões. Um trabalhador pode facilmente levantar a maior parte das peças da Gladstone, enquanto algumas da Columbus South pesam até 118 quilos.

Outro problema se tornou claro após o início das operações da nova fábrica. Com uma operação nova - cheia de potencial para problemas técnicos em sistemas altamente automatizados - muitos funcionários da nova fábrica trabalham com frequência em turnos de 12 horas, mais de cinco vezes por semana.

Estes longos turnos pesaram sobre funcionários como Vierling. "Eu estava ganhando todo aquele dinheiro, mas não tinha tempo para gastá-lo", disse ela.

Os funcionários da Gladstone precisavam ficar na nova fábrica durante um ano antes de pedirem transferência de volta. Mês passado, Vierling retornou a seu antigo local de trabalho. Ela abriu mão da maior parte de seu aumento de salário, mas não se arrepende.

"Sinto como se tivesse voltado para casa", disse ela.

(Por Timothy Aeppel)