Como Governo de SP instalou sem aval app em celular de alunos e professores
O Governo do Estado de São Paulo instalou o aplicativo "Minha Escola" nos celulares de professores e alunos de escolas estaduais, que não deram autorização para isso.
A Seduc (Secretaria da Educação do Estado de São Paulo) admitiu o erro e informou que já iniciou a desinstalação. Segundo a pasta, que apura o que houve, os apps foram parar nos celulares de docentes e estudantes por um erro durante um teste com uma plataforma do Google que permite a instalação de programas remotamente.
O que foi instalado?
Entre terça-feira (8) e quarta-feira (9), a Seduc instalou o aplicativo "Minha Escola" sem autorização nos celulares de professores e alunos de escolas estaduais.
Lançado pelo governo estadual em 2018, o aplicativo permite a estudantes e seus responsáveis terem acesso a informações como as notas e as faltas registradas.
Quais usuários foram afetados?
Não foram só professores e estudantes os afetados pela onda de instalação indevida. Pais de estudantes vinculados a escolas estaduais de São Paulo também foram atingidos.
Também há, no entanto, relatos de pessoas que afirmam não ter vínculo com a rede estadual de ensino ou que não usaram o telefone para acessar serviços da secretaria de educação e que também viram o aplicativo instalado em seus aparelhos.
Que história é essa de instalarem um aplicativo no meu celular PARTICULAR, sem minha autorização, Secretaria Estadual de Educação de SP? APP Minha Escola SP amanheceu instalado nos celulares de quase todos os professores e estudantes da nossa região, isso é uma afronta!
? Igor Henrique Alto Tietê (@juventude_16) August 10, 2023
Rapaaaaz a Seduc baixou um aplicativo no celular de todo professor e aluno sem autorização... Caraí daqui a pouco tá monitorando o uso privado do nosso celular.
? Mulittle (@mugoesd) August 9, 2023
A rede estadual de São Paulo é a maior do Brasil, com 4 milhões de matrículas de estudantes, além de cerca de 215 mil professores.
Como aconteceu a instalação?
A Seduc disse que "instaurou um processo administrativo para apurar todas as circunstâncias relativas à instalação involuntária do aplicativo Minha Escola" e que "a falha ocorreu durante um teste promovido pela área técnica da pasta em dispositivos específicos da Seduc".
A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo possui convênio com o Google para usar o Google Workspace for Education, plataforma com ferramentas interativas que podem ser usadas por servidores da secretaria que tenham e-mail institucional da Seduc.
Esse serviço inclui o que a empresa chama de "gerenciamento avançado de dispositivos móveis", que dá às organizações, a Seduc, no caso, o poder de gerenciamento remoto. Isso inclui a possibilidade de instalar e remover aplicativos à distância.
Procurado por Tilt, o Google disse não possuir "qualquer ingerência nos comandos escolhidos e implementados pelas instituições de ensino" que são "feitos pelos gestores, responsáveis pela administração da plataforma".
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Quero receberA empresa também ressaltou que "não participou do desenvolvimento, dos testes nem da instalação do aplicativo citado pela reportagem". Informou ainda que fornece documentação pública sobre a plataforma para orientar que "o administrador pode definir políticas de segurança no seu dispositivo para deixá-lo mais seguro e proteger os dados".
Se quiser utilizar seu telefone para acessar as ferramentas do Workspace for Education, o usuário precisa baixar o aplicativo Android Device Policy. Lá, constam os termos de uso. Caso aceite os termos, só então concede as permissões à instituição cliente da Google, no caso, a Seduc.
O problema já foi resolvido?
Em nota enviada a Tilt, a Seduc afirmou que tomou providências assim que identificou a instalação do app em dispositivos conectados às contas Google institucionais. A partir daí, enviou solicitações para excluir o aplicativo.
Segundo a secretaria, "o usuário também pode excluir o app por conta própria, se preferir". A Seduc informa que lamenta o ocorrido e reforçou que as medidas cabíveis estão sendo adotadas.
Essa é uma violação na LGPD?
No entendimento de especialistas, o caso é considerado uma violação na LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados). Como esses celulares particulares, o governo deveria ter notificado a todos para que efetuassem o download voluntariamente, por iniciativa própria.
"Isso demonstra que houve um acesso não autorizado aos aparelhos, que sendo particulares, pode caracterizar violação de privacidade e infração à LGPD",
Gisele Truzzi, advogada e especialista em Direito Digital
Para a advogada, por mais que o governo possa utilizar da base legal de política pública (art. 11, b, da LGPD) para tratamento de dados pessoais, nesse caso, os titulares de dados (alunos e professores) deveriam ser comunicados previamente e eles mesmos fazerem a instalação do aplicativo em seus aparelhos.
Caso semelhante no Paraná
A instalação do app sem a autorização dos donos dos celulares já havia acontecido antes no estado do Paraná.
Na época, o secretário da Educação paranaense era Renato Feder, que hoje está à frente da pasta em São Paulo.
Na época, a justificativa foi de que o programa foi colocado em uma área errada no painel de administrador do Google, causando a instalação massiva do aplicativo.
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