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É meteoro ou meteorito? Como se classifica o fenômeno visto em Minas Gerais

Letícia Naísa*

De Tilt, em São Paulo

15/01/2022 12h14

Na noite de ontem (14), um meteoro foi visto no céu da região do Triângulo Mineiro. Usuários nas redes sociais registraram a queda e seus efeitos. Não houve relatos de danos causados pela queda do objeto, mas moradores puderam sentir um impacto de colisão.

Na linguagem popular, ouvimos muito que "um meteoro caiu", mas não é bem assim que a ciência classifica o fenômeno que aconteceu.

Diversas rochas espaciais, de tamanhos variados, convivem em relativa harmonia em meio aos planetas e luas de nosso Sistema Solar. Elas estão sempre em movimento, e diariamente visitam a Terra sem que a gente perceba. Apenas alguns desses objetos, por seu tamanho e trajetória, representam ameaças ao nosso planeta —como os asteroides e meteoritos. Há ainda aqueles que nos presenteiam com belos espetáculos, como os cometas, meteoros e bólidos. Sendo assim, vale aprender a diferenciar cada corpo celeste.

Meteoro

O meteoro, explica Diana Andrade, professora do Observatório do Valongo, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), e caçadora de meteoritos, é o efeito luminoso da queda de um corpo celeste. Ou seja, são as populares estrelas cadentes, pequenos pedaços de rochas e poeira espacial que queimam ao entrar na atmosfera da Terra em alta velocidade.

Em geral eles são inofensivos, do tamanho de um grão de arroz, e se desintegram bem antes de atingir o solo.

Isso pode acontecer em qualquer planeta ou lua com atmosfera densa o suficiente para gerar fogo na partícula — que pode ser um fragmento de um asteroide ou cometa.

Os meteoros maiores e mais brilhantes também são chamados de bólidos ou bolas de fogo, como o que foi visto em Goiás em 2020.

Sempre que vemos um rastro de luz contínuo no céu, é um meteoro.

Um rastro fugaz e rápido, que em alguns casos pode apresentar cores, indo do esverdeado, avermelhado até azulado - devido à composição química desses objetos.

É muito comum, principalmente durante o inverno e outono, com a atmosfera mais limpa, as pessoas confundirem rastros de avião com meteoros ou até cometas.

As chuvas de meteoros Eta Aquáridas e Orionídeas, por exemplo, são compostas por resquícios do Cometa Halley. Elas acontecem todos os anos, quando a Terra, em seu movimento de translação em torno do Sol, cruza a órbita do cometa, onde flutua uma trilha de destroços e poeira - deixada nas passagens anteriores do Halley ao longo de milhares de anos.

Meteorito

Agora, se uma rocha sobreviver à entrada na atmosfera e não se desintegrar totalmente devido ao atrito e evaporar, ela é chamada de meteorito. "Se ela chegou no solo, é um meteorito", afirma Andrade. "Capturar um meteoro é capturar a imagem de um rastro luminoso no céu, capturar um meteorito é capturar a rocha no chão."

Um meteorito, sim, pode causar danos. Qualquer pedaço de rocha espacial com até 10 metros de diâmetro que consegue se chocar com a superfície da Terra é um meteorito.

Em 2013, ao se desintegrar, um pequeno asteroide gerou centenas de pequenos meteoritos e uma onda de choque tão intensa que danificou casas e deixou mais de mil pessoas levemente feridas, na Rússia.

Estima-se que cerca de 15 meteoritos atingem a superfície terrestre diariamente - mas a maioria ou é muito pequena ou cai nos oceanos e regiões inabitadas, podendo formatar até crateras e montanhas.

Há o famoso "meteorito brasileiro", chamado Bendegó, o 16º maior já encontrado no mundo, com 5,36 toneladas. Ele foi encontrado no sertão baiano, em 1784.

A maioria das crateras da Lua, inclusive, foi formada pelo impacto de meteoritos e asteroides. Como lá não há erosão e nem água, todos os impactos são visíveis.

Mas não se preocupe: você tem mais chances de ser atingido por um tornado, um raio e um furacão, todos ao mesmo tempo, do que por um meteorito. A probabilidade de alguém morrer pelo impacto deste é de 1 em 1.600.000.

Imprevisível

Segundo os especialistas, o objeto que foi avistado em queda em Patos de Minas era difícil de ser previsto por conta de seu tamanho. "Essas rochas desses meteoros são de dimensão de centímetros, é difícil identificá-los com qualquer instrumento", explica Gilberto Dumont, diretor do Observatório de Astronomia de Patos de Minas.

"Esses asteroides e objetos que têm potencial de destruição de parte da Terra são monitorados, mas não tem como monitorar todos os objetos que possivelmente poderiam colidir com a Terra", explica Andrade. "Um asteroide do tamanho desse que entrou não é previsível", diz.

A professora alerta também sobre a importância de buscar especialistas caso um cidadão comum encontre um possível meteorito. "É importante para ter certeza se é realmente um meteorito e também sobre o valor, o preço deles, para que a pessoa não mostre para quem não vai dar valor e mande para o exterior e o Brasil fique sem a rocha", diz.

*Com reportagem e texto de Marcella Duarte