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'Estamos criando Deus', diz ex-Google em crítica a inteligência artificial

Mo Gawdat, ex-líder da X, a divisão da Alphabet (dona do Google) focada em tecnologias de longuíssimo prazo - Divulgação/Mo Gawdat
Mo Gawdat, ex-líder da X, a divisão da Alphabet (dona do Google) focada em tecnologias de longuíssimo prazo Imagem: Divulgação/Mo Gawdat

Marcos Bonfim

Colaboração para Tilt, em São Paulo

30/09/2021 15h52

Muito se fala sobre o impacto que a inteligência artificial em estágio mais avançado terá nas nossas vidas. A literatura e o cinema, por exemplo, sempre ofereceram obras que pensam esse futuro, geralmente com uma perspectiva meio pessimista.

Mo Gawdat, ex-líder da X, a divisão da Alphabet (dona do Google) focada em tecnologias de longuíssimo prazo, acredita que essas previsões pessimistas da ficção estão certas.

Após largar a vida de pesquisador de inteligência artificial, quando percebeu que ela iria "destruir o mundo", segundo ele mesmo, o ex-executivo virou palestrante e escritor, autor do best-seller "A fórmula da felicidade" (editora Leya).

Agora, em entrevista para o jornal britânico The Times, ele afirma que os pesquisadores trabalhando em inteligência artificial "estão criando Deus" e que a "singularidade está chegando", o que significa dizer que as tecnologias estão cada vez mais próximas de superar a inteligência humana.

O risco da IA

Para Gawdat, o fato detonador para a mudança de perspectiva em relação às inteligências artificiais foi enquanto trabalhava com desenvolvedores de IA no Google X que construíam braços robóticos capazes de encontrar e pegar uma pequena bola.

Ele percebeu que, após um período de lenta progressão, um braço agarrou a bola e pareceu estendê-la para os pesquisadores em um gesto que, para ele, foi uma forma de se exibir. "E, de repente, percebi que isso é realmente assustador", afirmou Gawdat. "Isso me congelou completamente."

Hoje, o profissional diz acreditar que a Inteligência Artificial Geral (AIG), um tipo de IA todo-poderosa e senciente (capaz de ter sensações e sentimentos de forma consciente), tal como vista em "O Exterminador do Futuro", é "inevitável". Uma vez presente, poderia colocar a humanidade diante de um apocalipse.

Entre líderes do setor de tecnologia, Gawdat não é o único a se preocupar com a evolução das inteligências artificiais. O bilionário e excêntrico líder da Tesla e da SpaceX, Elon Musk, também já falou sobre os perigos de a IA conquistar os humanos.

Além da potencial criação desse "Deus", como alerta Gawdat, o emprego da inteligência artificial já chama atenção hoje por questões relacionadas a algoritmos racistas, reconhecimento facial e policiamento preditivo.