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Sonda japonesa vai jogar pedaços de asteroide na Terra; veja como assistir

Hayabusa-2 no asteroide Ryugu - JAXA
Hayabusa-2 no asteroide Ryugu Imagem: JAXA

Marcella Duarte

Colaboração para Tilt

05/12/2020 10h29Atualizada em 14/12/2020 11h59

A missão Hayabusa2, da Agência Japonesa de Exploração Aeroespacial (JAXA), está próxima à Terra, trazendo amostras do asteroide Ryugu. Mas a nave não vai pousar por aqui, apenas fará uma entrega à distância e seguirá viagem.

Uma cápsula cheia de rochas espaciais será lançada em nossa atmosfera, e você poderá acompanhar ela cair, ao vivo pelo YouTube da JAXA, neste sábado, a partir das 14h (no horário do Brasil, e 2h do domingo, no Japão).

O alvo é a cidade de Woomera, no deserto do Sul da Austrália. Na região, deve ser possível enxergar a reentrada como uma espécie de estrela cadente ou "bola de fogo" no céu. A cápsula é bem pequena, com cerca de 40 cm, e não possui motores.

Ela será arremessada a uma distância de cerca de 220.000 km da Terra; um escudo térmico a protegerá da queima em nossa atmosfera. Quando atingir uma altitude de 10 km, um paraquedas se abrirá, um farol se acenderá e sinais de rádio serão emitidos, para que a cápsula possa ser localizada — já que será noite no local de pouso. Radares, drones e helicópteros auxiliarão na busca e recuperação.

O invólucro contém, pelo menos, 300 gramas de rochas. Após a entrega, a nave acelera os motores e segue viagem para sua próxima parada: o asteroide 1998 KY26, onde deve chegar em 2031. Também irá sobrevoar o 2001 CC21, em julho de 2026.

Se o pouso for bem-sucedido, cientistas do mundo todo poderão estudar os inéditos regolitos (materiais de uma superfície rochosa, como poeira e pedrinhas). Asteroides primitivos como o Ryugu remontam à origem de nosso Sistema Solar, e nos ajudam a compreender a história do Universo e do nosso planeta e o surgimento da vida.

"O estudo do asteroide Ryugu tenta responder uma das maiores perguntas em aberto nas ciências planetárias: como a Terra se formou e por que ela tem oceanos tão abundantes?", diz Mário De Prá, pesquisador do Instituto Espacial da Flórida.

A hipótese mais aceita atualmente é que a água e toda a matéria orgânica do nosso planeta teriam sido entregues através de colisões com outros corpos celestes. "Mas esses estudos se baseiam na análise de meteoritos encontrados na Terra, submetidos a diversos processos da interação com o nosso planeta. As amostras trazidas pela Hayabusa 2 irão proporcionar o primeiro estudo detalhado das propriedades da água e de outros materiais extraídos diretamente de um asteroide" explica De Prá.

A Hayabusa2 foi lançada em 2014 e chegou ao Ryugu, a 300 milhões de quilômetros da Terra, em 2018. Durante um ano e meio orbitando o asteroide, ela realizou diversas medições, lançou quatro pequenos rovers e coletou amostras em duas ocasiões - seu objetivo principal. Na primeira, retirou apenas material da superfície; na segunda, lançou um projétil de cobre de cerca de 2 kg que criou uma cratera de 10 metros de profundidade.

"Essa segunda amostra coletada é a mais importante da missão, pois contém um material preservado da radiação espacial e de outros fatores que modificam a superfície do asteroide", ressalta o astrônomo Filipe Monteiro, do Observatório Nacional.

"Espera-se encontrar compostos orgânicos no material coletado. Essa é uma das principais razões pela qual o Ryugu foi escolhido para ser o alvo da missão, pois espera-se que os asteroides do tipo C contenham os materiais mais primitivos do Sistema Solar, que podem fornecer pistas sobre a origem da vida na Terra", completa Monteiro.

A Hayabusa 2 é sucessora da missão Hayabusa, também da JAXA, realizada entre 2003 e 2010. Foi a primeira vez na história que o ser humano minerou um asteroide, o 25143 Itokawa. Porém, problemas na coleta fizeram com que apenas pouquíssimos gramas de rochas chegassem à Terra.

A Nasa também está trazendo pedaços de um outro asteroide, o Bennu, com a missão OSIRIS-REx. As amostras foram coletadas em outubro e devem chegar à Terra em 2023.