Topo

Como as empresas de tec estão se readequando para reduzir o racismo

Andrea Piacquadio/Pexels
Imagem: Andrea Piacquadio/Pexels

Mariana Matos

Colaboração para Tilt

24/07/2020 11h59

O Facebook e o Instagram estão criando equipes internas dedicadas a estudar como seus produtos podem estar atingindo de forma desigual os usuários de diferentes grupos étnicos. Segundo reportagem do "Wall Street Journal" desta terça (21), a nova equipe de ''inclusão e equidade'' examinará como negros, hispânicos e outras minorias são atingidas pelos algoritmos nos EUA.

Este é o mais recente de uma série de movimentos que empresas e organizações de tecnologia dos Estados Unidos vêm fazendo para reduzir tensões raciais, após os protestos pela morte de George Floyd em maio.

Nos últimos meses, houve grande pressão interna e externa no Facebook sobre seu impacto nas comunidades minoritárias e a falta de diversidade racial entre seus líderes mais seniores. De acordo com seu relatório de diversidade mais recente, cerca de 4% dos funcionários do Facebook nos EUA são negros e apenas 3,4% deles são líderes. Os asiáticos são em torno de 44,4% da força de trabalho, e os hispânicos são 6,3%.

A empresa afirmou, em comunicado ao jornal, que está conversando com grupos de direitos civis e especialistas para estudar esse tema de forma confiável e consciente, já que a rede social não coleta dados raciais sobre seus usuários e a identificação é feita a partir uma "afinidade multicultural" baseada nos conteúdos consumidos. A empresa teme que este critério já não seja mais tão confiável.

Muito se fala sobre o viés racista de algoritmos nos últimos anos. A reportagem do Wall Street Journal diz que o Facebook lidava com isso pelo menos até o ano passado. A empresa descobriu na época, com um estudo interno, que nas contas do Instagram em que as atividades sugeriam que os usuários são negros, 50% deles estavam mais propensos a ter seus perfis desativados do que pessoas brancas.

Outras mudanças em tec

Outras iniciativas voltadas para questões raciais estão acontecendo no setor há algum tempo e tomaram mais força com o movimento Vidas Negra Importam (Black Lives Matter). Microsoft, Linux, Google e Twitter, entre outras, começaram a substituir em seus códigos-fonte termos considerados racistas e sensíveis, como ''slave'' (escravo), ''master'' (mestre), ''blacklist'' (lista negra) e ''white list'' (lista branca).

As primeiras mudanças da terminologia "master/slave" aconteceram em 2014 com os frameworks [conceito que une códigos de programação comuns entre vários projetos de software] Drupal e Django. Eles foram seguidos pela linguagem de programação Python em 2018. As empresas argumentam que termos como esses reforçam estereótipos e podem legitimar discursos racistas.

Enfim mais inclusão?

A programadora e ativista Nina da Hora observa que esses comportamentos refletem a nossa sociedade. ''Estas plataformas são alimentadas por dados e interações entre nós, humanos, e também entre nós e o algoritmo. Tudo isso acontecendo em meio ao mundo desigual e racista que já vivemos. O avanço das tecnologias de forma rápida e desorganizada permitiu que ela fosse usada para potencializar estas questões'', defende.

Na opinião de Hora, as empresas tiveram que repensar seus modelos de negócios e suas formas de construir suas plataformas quando perceberam que podem perder parte de seu público. Isso também levou à criação de equipes inclusivas.

Para ela, o caminho trilhado pelas empresas pode ajudar no processo de ''construir plataformas mais inclusivas e informativas e menos violentas'', o que é positivo para os usuários e profissionais que farão parte dessas equipes.