É real: somos viciados em celular; veja como as empresas querem te salvar
O que te causa vício? Álcool? Sexo? Drogas? Rock'n'roll? E que tal tecnologia? O vício específico em celulares talvez seja o "novato" dessa lista, mas tem potencial para causar bons estragos na saúde mental e é objeto de preocupação até mesmo das empresas que mais lucram com isso.
Pesquisa recente encomendada pela Motorola à Ipsos ouviu 20 mil brasileiros e revelou que 41,52% são teledependentes, ou seja, usam o celular o dia todo, desde a manhã até antes de dormir, e olham a tela por impulso. Pesquisa
Só 5,56% usam o telefone apenas para o básico, como ver a hora e fazer ligações.
A pesquisa inteira contou com participação de entrevistados de quatro países. Outros comportamentos ruins detectados globalmente foram verificação compulsiva (49%), tempo demais no celular (35%) e superdependência emocional (65%).
Se identificou?
2018 será marcado como o ano em que Apple, Google e Facebook acordaram para a necessidade de "desviciar" seu público. As versões mais recentes dos sistemas operacionais para celulares iOS e Android ganharam recursos nesse sentido (veja abaixo).
VEJA TAMBÉM:
- Por que o emoji de formiga virou briga de biólogos?
- Motoristas do Uber aplicam "golpe do vômito"
- Cerca de 80% dos pais querem monitorar os filhos
- Lojinha do Facebook recebe item mais estranho
Mas por que virou prioridade?
A resposta é meio óbvia: porque estamos nos tornando zumbis da tecnologia que, em vez de cérebros, devoramos memes de gatinhos.
"Por trás dessa indústria de apps, há equipes de psicologia e engenharia para que os usuários fiquem mais conectados. Os esforços eram nesse sentido, mas agora parece que há uma mudança", diz o professor Cristiano Nabuco, que lidera o grupo de combate à dependência de internet no Hospital das Clínicas de São Paulo:
Existe uma preocupação muito grande para que juridicamente as empresas não sejam responsabilizadas por problemas de saúde, como na indústria do tabaco, que levou anos para estampar seus riscos
A preocupação não é nova. Uma reportagem da "Wired" de maio conta que já nos anos 2000 o psicólogo comportamental e diretor do Stanford Behavior Design Lab, BJ Fogg, estudava como aplicar design persuasivo a apps e sites. E outros estudiosos, como Sherry Turkle e Natasha Schüll, notavam como a tecnologia estava mudando as relações humanas e ampliando esse tipo de vício.
Mas parece que agora o alarme soou. Até mesmo os executivos se dizem impressionados com o poder viciante dos seus "monstrinhos", uma reação que veio em resposta à pressão de acionistas, vale dizer.
"Eu pensava que eu era bem disciplinado com isso (tempo no smartphone), mas estava errado. Quando comecei a receber os dados, percebi que estava passando muito mais tempo do que eu deveria", apontou Tim Cook, executivo-chefe da Apple.
"Também percebi que o número de notificações que recebia não fazia mais sentido. As notificações começaram como algo para te avisar de que uma coisa muito importante estava acontecendo e agora parece que tudo é importante", disse.
Para companhias como a Motorola, os dados revelam a importância de debater o assunto. "Queremos auxiliar os usuários a obterem o melhor dos seus aparelhos, sem que se tornem dependentes dele", afirma Renata Altenfelder, diretora de marketing para América Latina da Motorola.
Não há dúvidas de que os gatilhos existem e são bem eficazes. Qualquer internauta está familiarizado com a rolagem infinita de postagens em redes sociais, os gestos para atualizar, facilitar a visualização de conteúdo de outras pessoas e as eternas notificações.
Veja abaixo o que as empresas propõem para evitar o vício
Apple
No iOS 12, a função "Screen Time" (tempo de tela) traz um contador exato de quanto tempo cada usuário gasta no smartphone -- e será possível ver, aplicativo por aplicativo, qual está mais tomando seu tempo.
Outras funções do novo sistema são limitar notificações, selecionar um horário para o "Não perturbe" funcionar de forma mais avançada durante a noite, restringir tempo de uso por aplicativo e aplicar um bloqueio a todos os apps, com exceção a chamadas e SMS.
O Google também se mexeu com o Android mais novo, o 9 (codinome Pie). Se você colocar o celular na mesa com a tela para baixo, ele já entrará em um modo "não perturbe".
Além disso, você pode escolher um horário à noite para que o visor fique em preto e branco -- o que desestimula seu uso antes de dormir.
O sistema operacional também permitirá que o usuário saiba quanto tempo passou em cada aplicativo e restringirá o tempo reservado a cada um deles, emitindo uma alerta se você tiver passado tempo demais.
Outro braço do Google, o app do YouTube agora sugere que você dê uma pausa se estiver vendo vídeos sem parar. O usuário pode configurar a frequência com que o YouTube envia essa notificação: nunca ou a cada 15, 30, 60, 90 ou 180 minutos.
O Facebook prepara um recurso que permitirá que os usuários saibam quanto tempo eles passam na rede social. A ferramenta "Your time on Facebook" (algo como "Seu tempo no Facebook") foi vista em uma versão do app para Android e resume o tempo gasto no Facebook nos últimos sete dias.
Com a futura ferramenta, o usuário verá o tempo passado por dia e por semana, além de configurar limites de tempo e lembretes de quando estiver próximo de estourar o tempo estipulado por ele mesmo.
O Instagram lançou em julho um recurso que envia uma mensagem aos usuários indicando que os posts mais recentes foram todos visualizados. A mensagem em inglês é "You're all caught up", que em uma tradução livre significaria "Você já se atualizou".
Isso é importante por que no Instagram a ordem das postagens não é cronológica, mas criada pelas preferências estabelecidas no algoritmo do app --por exemplo, posts de parentes e amigos aparecem primeiro. Assim, muito gente rola o feed incessantemente para ter certeza de que não perdeu nada, o que cria tendências viciantes.
Motorola
E a Motorola lançou no começo do ano a iniciativa Phone Life Balance, para estimular o uso consciente dos smartphones. Para isso, fez parceria com o Space, um app gerenciador de hábitos ruins no celular.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.